A história dos acervos da TV brasileira não reserva grande expectativa de um final feliz. Há anos batalhando pela criação de um Museu da TV Brasileira, a atriz Vida Alves guarda, em sua casa, no bairro do Sumaré, uma boa parte do que a Pró-TV, associação de pioneiros presidida por ela, amealhou. No sábado, em celebração que comemorou os 63 anos da TV no Brasil - a se completarem amanhã, data em que a Tupi, em 1950, entrou no ar, - os mais de 700 profissionais ou ex-profissionais presentes passaram a encampar uma bandeira: transformar a sede da atual MTV, no Edifício Victor Civita, no futuro Museu da TV brasileira.O prédio, afinal, foi construído por Assis Chateaubriand, como denuncia o painel com temática indígena na fachada, e serviu à Tupi em seus últimos anos. A questão será levada às autoridades municipais e estaduais, visto que a Pró-TV não tem dinheiro para bancar a aquisição do imóvel, já tombado pelo Patrimônio Histórico. Mesmo assim, há o receio de que ali se instale uma igreja ou empresa de outro ramo.No plano virtual, o Museu da TV guarda boas notícias para a temporada. O acervo reunido por Vida Alves está em vias de ser todo digitalizado. Inscrito na Lei Rouanet, o material está sob os cuidados de Ricardo Cavalheira. O acervo tem hoje material da Tupi, da Excelsior, da Paulista e até da Manchete."Estamos desenvolvendo um projeto com a Pró-TV, o Museu da TV, para digitalizar e disponibilizar gratuitamente todo o material do acervo", diz Cavalheira. "A ideia é que a gente possa acessar de forma gratuita tudo o que lá está em áudio, vídeo, fotos e documentação. Queremos disponibilizar tudo em um portal que vai ficar dentro do site da Pró-TV."Nas suas contas, o acervo deverá estar na internet até julho de 2014, contando com a boa imagem da Pró-TV para captar os recursos necessários. Além do material de arquivo, a instituição vem gravando depoimentos com veteranos já há alguns anos, o que será incorporado no site. São longos relatos das histórias vividas por esses profissionais, alguns deles já mortos, na televisão aberta. "São milhares de roteiros originais, muitas fichas da Censura, que apareciam no início dos programas, avisando se a indicação era livre ou não. Se juntar o material de vídeo, são mais de mil horas de diversas emissoras que praticamente serão 100% acessados por qualquer cidadão. Algo como 3.010 biografias. 10 mil fotos, um material realmente interessante", diz.Embora tenha sido a última emissora a fechar as portas, a Manchete é o caso de maior descaso de acervo da TV nacional. Parte do material está sob os cuidados da Massa Falida. Pantanal e Ana Raio e Zé Trovão, novelas da fase mais promissora da teledramaturgia da emissora, foram exibidas no SBT há poucos anos e têm seus direitos nas mãos do empresário e diretor José Paulo Vallone.Muitas cenas estão guardadas ainda na sede da TV Cultura, que comprou móveis leiloados dos bens da Manchete e lá encontrou uma série de fitas esquecidas pelos antigos donos. Duetos musicais, programas jornalísticos e outras produções de teledramaturgia estão divididas por mãos diferentes, sem acerto judicial sobre a propriedade do acervo que foi da família Bloch.A Record, que já tem aval da lei Rouanet para tanto, também tem um projeto de digitalização do acervo, e o seu baú inclui as preciosas cenas dos festivais de música dos anos 60.Em contrapartida, a Globo vem cuidando de seu acervo há mais de 15 anos, com o Projeto Memória, que registra longos depoimentos de seus profissionais, atores, diretores, autores, cenógrafos, com agendamento organizado. É um bom início.
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