EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

“Esbarrou no código penal não é comédia. O limite do humor é a lei”, diz o ator Marcos Veras

Perto de estrear um musical, Veras fala sobre o que pensa de piadas homofóbicas e racistas

PUBLICIDADE

Foto do author Gilberto Amendola
Por Gilberto Amendola
Atualização:

Filtrar a dor e transformá-la em graça, empatia e comédia. Poucos humoristas e atores são agraciados com esse dom. Nosso entrevistado desta semana é um desses profissionais do riso que sabem fazer da própria vida sua principal matéria prima. “Quando o comediante fala de si, ele se sacaneia e se expõe, a plateia relaxa e se identifica. É a premissa da palhaçaria. Eu primeiro me chamo de bobo para depois te chamar de bobo. Somos todos bobos, ok?”, disse Marcos Veras.

Veras tem feito sucesso com o solo Vocês Foram Maravilhosos – peça em que consegue tirar humor de passagens tristes, como a morte do pai. Na TV, vive um momento de reconhecimento popular, com o personagem Simas, um dono de bar na novela Vai Na Fé. Atualmente, prepara-se para participar de seu primeiro musical, o Alguma Coisa Podre – versão brasileira de Something Rotten, da Broadway. Aqui, Veras fala um pouco dos seus trabalhos e mergulha na polêmica da vez (ou de várias outras vezes): Quais são os limites do humor? “O limite é a lei”, diz.

O ator Marcos Veras vai estrear seu primeiro musical Foto: Catarina Ribeiro

PUBLICIDADE

”Vocês Foram Maravilhosos” é totalmente autobiográfico. Humorista não pode ter pudor de expor a própria vida?

É uma característica dos comediantes. Acho que existe uma identificação do público quando falamos da própria história. Mas, claro, essas histórias precisam ser identificáveis pelo público. No meu solo, falo muito de família. É algo que todo mundo se identifica. Todo mundo tem pai, mãe, todo mundo já perdeu alguém próximo... É um facilitador para tocar em assuntos como perda e morte, por exemplo.

Como é transformar dor em humor?

Publicidade

É bastante terapêutico. Eu conto como foram, repentinamente, e seguidamente, a morte do meu pai e da minha irmã. É claro que 14 anos depois, eu consigo falar isso de forma sóbria e tranquila. Eu transformei dor em arte, a dor em humor. Eu acredito que o humor é terapêutico. Eu consigo falar de forma bonita da morte. De um jeito que não choca...

Curte algum humorista de fora, tipo Ricky Gervais?

Eu adoro o Ricky. Ele é mais ácido do que eu. Mas é bastante autobiográfico também. O Steve Carell sempre vejo as coisas dele. Ele passeia bem entre a comédia e o drama. E o bom e velho Woddy Allen que tem essa coisa autobiográfica. Quando o comediante fala de si, ele se sacaneia e se expõe, a plateia relaxa e se identifica. É a premissa da palhaçaria. Eu primeiro me chamo de bobo para depois te chamar de bobo. Somos todos bobos, ok? Assim geramos essa cumplicidade.

Essa cumplicidade é o que cria o chamado ‘limite do humor’?

Eu sou contra quando você usar toda e qualquer justificativa para dizer que “era só uma piada”. Eu entendo que alguns comediantes trabalhem nichos... Mas humorista erra, é importante saber isso. O limite é a lei. Racismo é crime. Homofobia é crime. Esbarrou no código penal não é comédia.

Publicidade

Mas a piada pode ser uma provocação, não?

PUBLICIDADE

Piada causa incômodo mesmo. A comédia é anárquica. Não estou querendo fazer o humor do bem, o humor bonzinho. A cabeça do comediante é parecida com a cabeça do psicopata. A diferença é que a gente não mata. O humorista sempre vai incomodar. Mas se esbarrar na lei é crime.

Humor tem ideologia?

O humor é progressista. O humor é do progresso. A extrema-direita é contra o progresso. Não gosto de tachar de direita e esquerda, sabe... Porque existem os extremos. Se a esquerda propõe pautas progressistas, o humor é de esquerda. Se a direita sóbria, propõe pautas progressistas, o humor é de direita. As pessoa são múltiplas e mudam de opinião. Ainda bem... Quando a pessoa fala ‘é só humor’, ela diminui o humor. O humor é potente, não é irresponsável. Eu entendo que com amigos íntimos, em um bar, você pode até falar os maiores absurdos... Agora, com o microfone na mão, você tem responsabilidades.

Como está a preparação para o Alguma Coisa Podre?

Publicidade

É a primeira vez que piso no universo dos musicais. Eu danço, canto e atuo, mas os três juntos eu nunca fiz. É um baita desafio. Estou com expectativa e frio na barriga.

E a preparação para ele?

É uma olimpíada. Os bailarinos, que também são cantores, são atletas. São de 6 a 8 horas de ensaios por dia.

Na novela Vai Na Fé você faz um dono de bar. Precisou pesquisar muito?

Eu não precisei ir muito longe. Meu falecido pai teve um bar. Tenho memórias de infância e adolescência. Tinha dias que eu brincava de ser garçom. Eu sei lavar um copo, sei ser um bom dono de bar.

Publicidade

Veja o vídeo de um trecho da entrevista com Marcos Veras:

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.