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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'O governo quer destruir a cultura, a ciência e a educação', diz Marco Ricca

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Por Marcela Paes
Atualização:

Marco Ricca. Foto: Helder Tavares

Com dois filmes que estarão em cartaz na 46ª Mostra Internacional de Cinema, Marco Ricca brinca com a ideia de ser o 'rei dos filmes de baixo orçamento'. O ator - que teve covid e chegou a ficar internado - diz que faz cinema porque ama, mas que, atualmente, ninguém consegue ganhar dinheiro com filmes no País. Para ele, a falta de incentivo para o setor faz parte de um projeto do atual governo para destruir a cultura no Brasil.

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"É um projeto desse canalha que está no poder agora. Eles estão aí para destruir, não para construir. Isso está claro no discurso de todos eles", diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista feita por telefone.

 O 'Clube dos Anjos', que você participa e estará em cartaz na Mostra, toca na questão do lugar dos homens no mundo atual. Como você, pessoalmente, enxerga essa questão?  

Eu sou um cara que escuto muito. Há muito tempo eu venho escutando e aprendendo, e tentando, principalmente, pôr em prática a mudança. Isso é importante em um País patriarcal como o nosso. Acho que sou um homem muito melhor do que fui e serei melhor a cada dia. Acho que também, por fazer parte de um universo muito único, que é um universo mais livre, consigo rapidamente tomar consciência de um monte de coisas. Essa consciência sobre vários tipos de preconceitos com os quais somos confrontados diariamente.

Em 'Paterno', outro filme que estará na Mostra,  entra a questão da especulação imobiliária. Qual o papel da arte na problematização desses temas contemporâneos?  

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Olha, eu acho que além do fato de fazer com que as pessoas possam refletir sobre esses temas, você pode contar histórias sobre os perdedores e os ganhadores. No Paterno, a história é contada sob a ótica da burguesia. Então, a gente vê como é que funciona esse patriarcado que vai detonando a sociedade. Existe um jogo de poder muito claro que a gente vive até hoje e que talvez continue até derrubarmos esse esquema. A gente percebe muito no filme as questões políticas por trás disso. É um filme que eu realmente gosto nesse sentido, porque ele aprofunda a discussão sobre essa burguesia que toma conta do País, que não abre mão dos seus privilégios de forma nenhuma. É uma elite muito assombrosa.

A Mostra de Cinema vem esse ano sem o apoio da Lei Rouanet e sem o PROAC. Como você enxerga essa falta de incentivo? 

É um projeto desse governo, né? É um projeto desse canalha que está no poder agora. Eles estão aí para destruir, não para construir. Isso está claro no discurso de todos eles. Um dos motivos é destruir a cultura para impor um outro tipo de pensamento. Nós não vivemos sem leis de incentivo, não há possibilidade do cinema brasileiro viver. Não só o cinema, como o teatro, as artes em geral. Esses dois filmes são de baixíssimo orçamento, talvez eu seja o rei do baixo orçamento. O Paterno, por exemplo, eu fiz há cinco anos, então imagine você a luta desses caras para conseguir pôr um filme num festival, na mostra. E eles ainda não têm dinheiro para lançar. Ninguém ganha dinheiro com isso, a gente faz porque a gente ama as coisas de verdade. Eu faço com muita felicidade, são filmes lindos...

Parte das pessoas acredita nessa ideia de que a classe artística viveria na 'mamata' da lei Rouanet. 

Vamos pensar só nesse dois filmes, de tantos que eu já fiz. O que se entrega de volta é muito grande perto do que se recebe pra fazer esses filmes, compreende? Perto do esforço, do pensamento, da inteligência dessas pessoas. Se tudo der certo isso acaba logo, ninguém mama em lugar nenhum, ninguém sobrevive de fazer um filme. Se isso existiu uma vez, não é o que está acontecendo agora. Se há alguma coisa que está errada, consertemos, mas não é para destruir. O que o governo quer é destruir a cultura, a ciência, a educação...

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Você teve covid e chegou a ficar internado. O que tirou dessa situação? 

O que eu tiro é que esse País é absolutamente despreparado, com pessoas que não souberam e não quiseram cuidar de ninguém. Eu fui muito bem cuidado, então eu saí de lá observando mais o que estava ao largo do que a mim mesmo. Saí pensando em tudo que faltou, nos tantos que foram embora. Até hoje eu penso nas sequelas que ficaram em mim e penso nas sequelas que ficaram nos outros, mas eu tenho a possibilidade de me cuidar. A maioria não tem o privilégio de ter um plano de saúde. O governo teve um descaso absoluto com os seres humanos.

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Sessões de PATERNO na 46ª Mostra Internacional de Cinema 

Dia 22 de outubro, sábado, às 18h30, no Frei Caneca 1

Dia 01 de novembro, terça-feira, às 19h, no Cineclube Cortina

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Exibição de O CLUBE DOS ANJOS na 46ª Mostra Internacional de Cinema:

Dia 23 de outubro, domingo, às 20h15, no Espaço Itaú de Cinema Augusta - sala 1

Dia 01 de novembro, terça-feira, às 21h20, no Cineclube Cortina

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