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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'Qualquer banda pode cair no esquecimento'

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Por Sonia Racy
Atualização:

JOSH (À ESQ.) COM O VOCALISTA TYLER JOSEPH / FOTO DIVULGAÇÃO  

Para o baterista Josh Dun, da dupla Twenty One Pilots, indústria musical sofre saturação pela superoferta nas redes sociais

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O tom calmo, quase tímido, da voz de Josh Dun (na foto, à esquerda), assim como a modéstia com que responde às perguntas, não são exatamente o que se espera do estereótipo de um rock star - do tipo que enche estádios e arrasta multidões apaixonadas para seus shows. Mas é exatamente esse o perfil do Twenty One Pilots, duo em que Dun toca com o conterrâneo, o vocalista Tyler Joseph. Com um estilo que reúne influências tão diversas quanto rap, electro, rock e reggae, a banda aposta em letras feitas sob medida para adolescentes. E acerta na mosca.

Temas como autoaceitação, insegurança, suicídio, amor e saúde mental são frequentes em suas canções. "As músicas das quais gostávamos eram de vários estilos diferentes. Tentamos combinar essas coisas e criar algo original", explica Josh à coluna. Em sua segunda passagem pelo Brasil, os dois já são veteranos da edição brasileira do Lollapalooza, que neste ano começa dia 5 de abril. Assim como na primeira vez em que tocaram no festival, em 2016, chegam agora com status de atração principal, ao lado de nomes como Lenny Kravitz, Arctic Monkeys e Sam Smith. Diferentemente de artistas como Roger Waters, o duo não tem intenção de se posicionar politicamente no palco, nem sobre política brasileira, como fez Waters, nem sobre o governo Trump. "Muitas bandas já estão fazendo isso. Todos têm algo sobre o que querem falar e nós falamos sobre outras coisas", diz. Leia abaixo a entrevista dada a Marcela Paes, ao  telefone, por Josh Dun, baterista e percussionista da dupla.

Como foi o início da carreira de vocês? Tenho muitas lembranças de quando começamos e viajávamos por aí como uma pequena banda com alguns amigos, tocando em shows em qualquer lugar. Foi muito divertido mas, ao mesmo tempo, é aquela fase em que você está definindo o que fazer. A gente não tem ideia se vai funcionar, o que vai acontecer. Isso pode ser meio assustador. Ao mesmo tempo, tudo foi muito divertido. Ficávamos imaginando se era a coisa certa a se fazer mas aproveitávamos o momento também...

Era um período de sentimentos contraditórios? Vocês achavam que não iria dar certo? Sim, às vezes achávamos. Mas eu entendo que, no final das contas, acreditamos no que estávamos fazendo. Nós estávamos nos divertindo tanto que isso fez tudo funcionar. Nós nos concentramos e nos empenhamos e fizemos o que achávamos certo. Fizemos da maneira que queríamos. Isto era importante para nós.

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E como você e o Tyler se conheceram? Tyler e eu nos conhecemos através de amigos em comum. E acabamos nos encontrando uma semana depois e conversamos a noite toda, concordando em muitas coisas. Foi muito legal, talvez uma das conversas mais legais que já tive. A partir daquele momento vimos que queríamos tocar música juntos. Um ano depois disto foi o que fizemos. Sou muito grato por isso ter acontecido.

Você estudou música em uma escola ou aprendeu sozinho? Aprendi sozinho. A maior parte do que aprendi foi assistindo a bateristas na internet e indo a shows. Antes mesmo de ter uma bateria completa eu deitava na cama com dois tambores sobre minhas pernas enquanto ouvia uma música e tentava entender o que eles estavam fazendo. Eu acabei entendendo.

Como você define o estilo musical do Twenty One Pilots? À medida que crescíamos, nós dois ouvíamos todos os tipos de estilos e gêneros. Naturalmente, queríamos tocar as coisas de que gostávamos. Só que essas músicas preferidas eram de vários estilos diferentes. Por isso tentamos combinar as coisas, buscamos criar algo diferente, original. Este é o objetivo de qualquer forma de arte: tentar encontrar um bom equilíbrio, algo que ninguém jamais viu ou ouviu, mas também você não poder ir longe demais. Nem para um lado nem para outro.

Que extremos são estes? Nem ficar no lado mais seguro nem ser estranho demais ou diferente demais a ponto de as pessoas não se conectarem ou não se identificarem com a música. Tentar encontrar este equilíbrio é importante. Você tinha um estilo preferido de música quando era mais jovem? Acho que não posso dizer que havia um estilo específico em torno do qual eu gravitava mais. Eu ia a lojas de discos e perguntava o que eles recomendavam. Às vezes eles me davam um álbum de pop hits, às vezes um álbum de punk rock e era isso que eu ouvia por uma semana. Aí eu voltava e comprava outro disco.

O que você pensa da indústria da música atualmente? É melhor do que era há 20 anos? Agora é mais difícil para alguém vender CDs, mas é mais fácil para as pessoas te conhecerem por causa da internet. É interessante porque, por um lado, você está certa. Qualquer um consegue mais visibilidade com a rede social. Você coloca um vídeo no YouTube e bilhões de pessoas veem, mas o problema é que isso pode estar supersaturado. Eu realmente não sei. Eu sinto que tenho sorte. Eu navego nesses aplicativos de streaming e fico impressionado com a quantidade de música que há lá. Você pode continuar, ir cada vez mais fundo, diferentes bandas, diferentes artistas... Há tanta coisa. Em termos pessoais, eu me sinto uma pessoa de sorte, por ter podido me sobressair. Qualquer banda pode facilmente cair no esquecimento. Acho que é difícil, de qualquer modo. Há 20 anos era difícil e hoje também é muito.

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Como vocês selecionam um festival para tocar? Você sonha em tocar em algum em especial, ou local diferente? Tivemos a sorte de tocar em alguns festivais muito legais. Voltar pro no Lollapalooza Brasil é muito empolgante. Tem muitos festivais nos quais eu ainda gostaria de tocar. O Lollapalooza Brasil era um deles e nós estamos voltando.

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Gostam de atuar em lugares menores? Sim! Passamos muito tempo viajando e tocando em locais menores e alguns foram momentos muito divertidos em minha vida. Mas também me sinto bem em saber que todo o trabalho que temos é para poder ser vistos por mais pessoas e também é muito legal tocar em grandes festivais.

Quais são a melhor e a pior parte de fazer uma turnê? A melhor parte é poder estar com meu melhor amigo e tocar nos shows. É a minha coisa favorita no mundo, tocar nos shows. Especialmente com o meu amigo. A pior parte é que não vejo muito a minha família, sinto falta de casa, mas fica tudo bem quando estamos no palco.

Que tipo de conselho você daria a músicos novos? Eu diria que é necessário muito trabalho. Você sempre tem que trabalhar muito. Se você não está trabalhando, ensaiando e tentando se aprimorar, você tem que entender que há alguém fazendo isto. E eles vão acabar ficando melhores do que você.

Quando Roger Waters esteve aqui para fazer diversos shows ele falou explicitamente sobre política brasileira. O que você acha desse tipo de posicionamento? Não expresso minha opinião sobre política. É uma coisa na qual não focamos. Há muitas bandas fazendo isso. Todas têm algo sobre o que querem falar e nós falamos sobre outras coisas. Política pode dividir muito as opiniões e é normal que pessoas tenham se dividido a respeito do posicionamento dele.

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Você conhece algo de música brasileira? Infelizmente não. Mas gostaria muito! O que você recomendaria?

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