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Coluna semanal do historiador Leandro Karnal, com crônicas e textos sobre ética, religião, comportamento e atualidades

Opinião|No ano que vem, Osesp faz 70 anos com corpinho jovem e cheio de energia

Será um instante de celebração de iniciativas artísticas que continuam dando certo, há décadas, o que não é pouco na história cultural do Brasil

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Atualização:

O silêncio é uma das coisas mais fortes no mundo. Aldous Huxley afirmou que, como a música, é o que mais se aproxima do inexprimível. Ouvi a peça Lux Aeterna, de György Ligeti (1923-2006), na Sala São Paulo. Causou-me o mesmo impacto daquele momento quando, quase adolescente, ouvi a música no filme 2001, Uma Odisseia no Espaço. Nada consegui entender do filme naquela ocasião.

Osesp comemora 10 anos de Sala São Paulo, com concerto regido pelo francês Yan Pascal Tortelier. Quinta, 9 Foto: Luciana Prezia/AE

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Fascinou-me a Lux Aeterna no sentido de Huxley: inexprimível. Há, na obra, oito longos compassos de silêncio absoluto que o maestro Thierry Fischer regeu para as esferas celestes, com gestos amplos, marcando o compasso e modulando timbres do vazio absoluto pleno de sentido. Aquele foi o instante em que mais vi uma obra humana tentar olhar para a luz eterna. Dante Alighieri também se calou no momento do encontro com a transcendência no final do Paraíso.

No ano de 2024, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo completará 70 anos. Surgiu no instante em que paulistas pensavam muito na grandeza da sua história e investiam em equipamentos culturais para o futuro: 1954, o quarto centenário.

Surge-me uma ideia: a orquestra chega às bodas de vinho. Ninguém lançará um rótulo com o selo Osesp? No ano que vem, comemoraremos os 25 anos da Sala São Paulo, o espaço extraordinário que firmou a orquestra com casa própria e linda. Mais: 30 anos do Coro que brilhou na peça Lux Aeterna. Será um instante de celebração de iniciativas artísticas que continuam dando certo, há décadas, o que não é pouco na história cultural do Brasil.

Marcelo Lopes e Thierry Fischer apresentaram os planos para o novo ano: renovação intensa, novos espaços, presença internacional, gravações. Se o orgulho de pertencer ao momento fosse um gás, teríamos virado imensos zepelins àquela hora. Sonhar com o futuro é delírio costumeiro. Quando já foi realizado há muito (e a equipe que arquiteta o amanhã já demonstrou competência), o ideal sai da abóbada do devaneio para o alicerce da convicção. Septuagenária, a Osesp está com corpinho jovem e cheio de energia.

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Nada disso existiria sem o brilho dos músicos. O dia 22 de novembro é dedicado a eles. Alguns se tornaram meus amigos e já tocaram aqui em casa: Olga Kopylova, Matthew Thorpe, Liuba Klevtsova, Darrin Milling. Sem eles, só existiria o silêncio de um mundo sem talento e sem sentido. Tenho esperança na Osesp e nos seus músicos brilhantes. Sou testemunha de milagres semanais.

Opinião por Leandro Karnal

É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, colunista do Estadão desde 2016 e autor de 'A Coragem da Esperança', entre outros

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