Mauricio de Sousa, Lula, artistas, escritores e políticos lamentam a morte de Ziraldo

“Perdi um irmão, das letras, dos traços e da vida”, disse o criador da Turma da Mônica; escritor morreu na tarde deste sábado de causas naturais

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Por Flávio Pinto
Atualização:
Ziraldo e seu personagem mais ilustre, o menino maluquinho Foto: Marcos de Paula/Estadão

O criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa, lamentou a morte a morte do escritor Ziraldo, na tarde deste sábado, 6. “Perdi um irmão. Das letras, dos traços e da vida”, afirmou o escritor. Ziraldo estava com a saúde debilitada há algum tempo, desde que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2018. O enterro será neste domingo, às 16h30, no Rio.

“Quanta história, quanta luta, quantas crianças fez sonhar com o inesquecível Menino Maluquinho. Sua obra seguirá encantando muitas gerações”, escreveu Sousa no X (antigo Twitter). “Tive muita sorte de ter convivido com ele e visto de perto não só seu talento, mas seu amor ao Brasil”.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também se manifestou sobre a morte do autor. “O Brasil perdeu neste sábado um de seus maiores expoentes da cultura, da imprensa, da literatura infantil e do imaginário do país”, iniciou o texto.

“São inúmeras e diversas as contribuições de Ziraldo, seja com a turma do Pererê, em seu trabalho à frente do Pasquim, nos anos da ditadura, em livros inesquecíveis, como Flicts, e num extenso trabalho em revistas e jornais brasileiros. (...) Nesse momento de imensa tristeza, me solidarizo com os familiares, amigos, parentes e fãs de Ziraldo”, acrescentou.

Em nota, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) prestou homenagem ao autor. “Foi um gênio criativo que usou seu talento para encantar gerações de leitores, deixando uma marca indelével na cultura brasileira”, afirmou o texto.

“Ziraldo sempre esteve próximo de seus leitores em diversos eventos e com presença marcante nas Bienais do Livro. Sua obra permanece como um inestimável legado para a cultura brasileira. Neste momento de dolorosa perda, estendemos nossas condolências à família, aos amigos e a todos que foram tocados por seu legado. Ziraldo será eternamente lembrado e celebrado”.

“Eu tinha tInha uma admiração enorme por ele. Ele tinha um talento avassalador, e seria justo que tivesse mais reconhecimento porque era genial. Era um criador, um ficcionista, falava do Brasil através dos personagens, como naqueles que lembravam a infância”, disse o antropólogo Roberto DaMatta. “O Brasil perde um cara genial, um grande talento, um dos melhores desenhistas e escritores que esse mundo já conheceu.”

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O ator Matheus Nachtergaele publicou uma imagem do Menino Maluquinho no Instagram e expressou seus sentimentos sobre a morte de Ziraldo. “Não sei dizer adeus a ele. Não sei dizer adeus a ele ...Meus sentimentos à família e ao Brasil”, escreveu ele.

Ministro da educação e outros políticos lembram o legado de Ziraldo

Para Camilo Santana, ministro da educação, Ziraldo deixa um grande legado para a cultura brasileira “com seu Menino Maluquinho e tantas outras criações”.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) também se manifestou sobre a morte do cartunista. “Que tristeza! O Brasil acaba de perder o cartunista Ziraldo, autor de ‘O Menino Maluquinho’, que ajudou a alegrar gerações de crianças brasileiras. Um gigante da nossa cultura. Nossos sentimentos”, disse ele na rede social.

“Hoje o Brasil perdeu um pouco do seu humor. Ziraldo era um referência mundial como cartunista e um ser humano fora de série. Sua obra marcou gerações e seu ‘Menino Maluquinho’ tem lugar especial entre os melhores momentos das nossas infâncias. Descanse em paz, mestre!”, escreveu Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal e candidato à Prefeitura de São Paulo.

A literatura brasileira presta homenagens

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“Trabalhar com a obra de Ziraldo foi uma grande honra. Ele tinha uma energia positiva e sabedoria únicas e era muito generoso em compartilhá-las com todos. Ele costumava brincar dizendo que ‘iríamos conquistar o mundo’ e, de certa forma, realmente conquistamos com as suas histórias e literatura que atravessaram gerações e continuaram conosco”, Leila Bortolazzi, editora da Editora Melhoramentos, que trabalhou com o escritor desde os anos 90.

André Dahmer, o ilustrador e criador das tirinhas Malvados, aproveitou o espaço em suas redes para declarar sua homenagem ao escritor. Nesta tarde, ele escreveu: “Ziraldo me deu a primeira oportunidade de desenhar profissionalmente, quando foi editor do Caderno B, no extinto Jornal do Brasil. Também escreveu prefácio do meu primeiro livro. Dono de desenho monumental, foi um dos maiores artistas gráficos de todos os tempos. Descanse em paz”.

O cartunista Daniel Lafayette relembrou que sua primeira entrevista de emprego, em 2005, foi conduzida por Ziraldo, “o menino maluquinho, então de cabelos brancos”. “Deixou mais leve um mundo tão pesado”, escreveu. Segundo o escritor Edson Aran, que trabalhou ao lado de Ziraldo na revista Playboy, o quadrinista foi “um dos caras mais geniais de uma geração de gigantes. Dono de um traço lindo, que deixava qualquer revista ou cartaz muito mais bonito”.

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O autor e jornalista Marcelo Orozco prestou uma homenagem a Ziraldo, lembrando a importância de suas outras obras. Ele destacou: “A Turma do Pererê foi uma HQ vital em minha infância, e os cartuns e ilustrações de Ziraldo também deixaram sua marca. A única coisa que posso fazer é expressar meu profundo agradecimento: ‘muito obrigado, Ziraldo’.”

“Flicts foi o livro que me fez pensar em um dia ser escritor porque é um livro que fala sobre não-pertencimento, sobre uma cor que não encontra seu lugar no mundo. Quando minha irmã mais velha contou a história para mim, me identifiquei imediatamente, eu pensei,´Flicts sou eu´”, disse o escritor Marcelo Moutinho.

“Se dá para dizer que os quadrinhos têm um traço tipicamente brasileiro, a origem desse traço é o Ziraldo. Eu penso que ele bebeu muito na arte de Candido Portinari, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral para chegar na sua concepção gráfica, assim como, hoje, Gabriel Bá, Jefferson Costa, Ilustralu e tantos outros bebem no Ziraldo”, afirmou o jornalista e tradutor especializado em quadrinhos, Erico Assis. COLABOROU LUIS FILIPE SANTOS

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