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Livro investiga trajetória de Carmela Gross

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Por Agencia Estado
Atualização:

A obra de Carmela Gross se rebela contra qualquer tentativa de congelamento, de resumir sua essência em poucas frases ou imagens. Ao mesmo tempo há uma coerência impressionante nos trabalhos desenvolvidos pela artista ao longo de três décadas de carreira, como se todos os caminhos aparentemente díspares que ela percorre se encontrassem sempre em determinados pontos de sua trajetória. De formas distintas, o livro Carmela Gross (Ed. Cosac & Naify, 150 págs., R$ 55) e a obra Alagados, que serão lançados nesta quinta-feira à noite no Centro Universitário Maria Antônia, demonstram esse caráter complexo e singular da obra da artista. A nova instalação de Carmela é muito recente para ter sido incluída no belo livro escrito por Ana Maria Belluzzo e desenhado por Carlo Zuffellato e Paulo Humberto de Almeida. Mas esse desenho que se eleva poucos centímetros do chão composto por dezenas de peças de ferro articuladas, que contorna de maneira fluida as pilastras da sala de exposição, remete de maneira impressionante a uma série de questões tratadas pela artista ao longo de sua carreira: lá estão presentes a questão do rigor do desenho, a impressionante organização construtiva, a abertura a novos processos e materiais e, principalmente, uma maneira particular de ir buscar no mundo concreto os elementos necessários para a criação artística. Apesar dessa referência ficar apenas latente, é nos contornos precisos das regiões alagadas, ou seja, no mundo que a cerca que Carmela foi buscar inspiração para esse trabalho. Segundo Ana Belluzzo, é interessante notar que apesar dos 33 anos que separam Alagados e Nuvens (um dos primeiros trabalhos de Carmela que abre o livro), as duas obras têm o mesmo raciocínio estrutural. "Procurei ver a obra de Carmela como uma coisa aberta, em processo; mostrar como essa materialidade do mundo vira reflexão", explica a amiga e historiadora. Extremamente atenta ao que passa a sua volta, Carmela "conversou" com todos os movimentos artísticos que marcaram as últimas três décadas. Explorou os mais diferentes processos e materiais, mas ao folhear o livro fica evidente que está procurando saídas, novas alternativas. "A meu juízo, nunca deixa de ser uma perspicaz construtora, cuja contribuição resulta de movimentos opostos entre a matéria, o material e a forma", escreve Ana. A realização desse trabalho só foi possível graças à intensa relação existente entre seus vários autores. Ana e Carmela se conhecem desde os tempos de estudantes da Faap. "Acompanhei seus primeiros trabalhos. Ela já era singular", diz a crítica. Isso ajuda a explicar a leitura profundamente poética que fez do trabalho da amiga, leitura essa que foi sendo modificada ao longo de um ano e meio de trabalho e intermináveis conversas. "É difícil porque com ela nada pousa; tudo está em movimento sempre. Ao mesmo tempo é muito desafiante, porque ela sempre está fora dos padrões", conta. Zuchelato e Almeida, por sua vez, realizaram praticamente todos os catálogos da artista, conhecendo sua obra a fundo, de maneira que conseguiram traduzir visualmente a importância do processo na obra de Carmela. Finalmente, esse livro só foi possível de ser feito graças à impressionante capacidade de organização e reflexão da artista. Carmela Gross e Alberto Martins - De segunda a domingo, das 9 às 21 horas. Grátis. Centro Universitário Maria Antônia. Rua Maria Antônia, 294. Até 3/12. Abertura nesta quinta (09), às 20 horas.

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