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Uma geléia geral a partir do cinema

Mary Tyler Moore!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

TIRADENTES - Faço uma pausa na cobertura da Mostra. Falei há pouco com meu amigo Dib Carneiro e ele me disse que, no final da tarde de ontem, o povo do jornal estava louco atrás de mim porque morreu Mary Tyler Moore. Mary Tyler Moore! Confesso que nunca vi o The Dick Van Dick Show, do qual ela saiu para ter o próprio programa, o Mary Tyler Moore Show, que a transformou em ícone feminista nos anos 1970, porque não era comum, na época, uma mulher, como sua personagem, ficar falando em anticoncepcionais e brigar por salários iguais aos dos homens. Mary não fez muito cinema, mas teve seus momentos. Em 1967, coestrelou Positivamente Millie, de George Roy Hill, uma paródia de musical dos anos 1920 em que Julie Andrews e ela tentavam fisgar maridos ricos, mas havia uma vilã que tentava vender justamente Mary para a escravidão branca. Passaram-se mais de dez anos - ela passou a década de 1970 inteira fazendo televisão - antes que Mary voltasse ao cinema como protagonista feminina de Gente Como a Gente/Ordinary People. O longa de estreia de Robert Redford ganhou os principais Oscars de 1981 - filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante, Timothy Hutton -, mas vou morrer sem entender porque Mary não foi melhor atriz por seu papel como a gélida mãe que odeia o próprio filho. Deve ter sido porque a personagem era realmente terrível. O irmão morre para salvar Timothy e a mãe não aceita que isso tenha ocorrido. Preferiria que Timothy morresse, porque o outro era seu preferido. Lembro-me de haver escrito, na época, um texto só analisando as crispações nervosas de Mary. Os olhos, a boca, as mãos. E o figurino - todo aquele guarda-roupa em tons bege, com o realce das jóias de ouro. era um mundo opaco de riqueza sem sentimentos. Sou meio maluco, sei, mas se passaram 30 e tantos até que eu visse outra criação parecidas, e é a de Laura Linney em Animais Noturnos, de Tom Ford. Mary n~sao ganhou, Laura foi a grande esquecida deste ano. E é curioso que, pouco antes de Redford, Ingmar Bergman tenha feito Sonata de Outono, também sobre uma mãe que não tem afeto pela filha, e Ingrid Bergman humilha Liv Ullman numa cena memorável, a lição de piano. Ouso dizer que Mary era tão boa quanto, senão superior a uma das maiores atrizes do cinema e dirigida por Bergman, que era um mago com as mulheres. Mary Tyler Moore ainda fez pelo menos mais um filme notável - Procurando Encrenca, de David O. Russell, 1996, em que Ben Stiller descobre que é adotado e procura os pais biológicos. Mary faz a mãe adotiva e é de novo excepcional. Ela morreu aos 80 anos. Na TV, no cinema, essa mulher foi grande.

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