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Uma geléia geral a partir do cinema

O ouro de Sofia Coppola

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Ontem, na correria para enterrar o Chabrol e não perder a própria festa - do meu aniversário -, não comentei nada sobre a vitória de Sofia Coppola em Veneza. Não li nada sobre 'Somewhere', não sei nada sobre o filme e não vou levantar a suspeita de que a talentosa filha de Francis Ford, depois das tentativas em Cannes, só levou seu Leão de Ouro porque o 'ex' Tarantino (que ela namorou) presidia o júri. Sem nada saber, de nenhum dos filmes, estava tentado a achar que Alex de La Iglesia ia levar, porque, afinal, tem mais o perfil de super-Quentin, mas foi Sofia e eu fico contente. Gosto dela até quando os filmes não me parecem 100% defensáveis, como a sua 'Marie Antoinette', tão contemporânea, inclusive na trilha, que a gente até se surpreende quando as referências históricas batem com alguma precisão na tela. Tenho, confesso, um carinho particular por Sofia. Entrevistei-a, certa vez, por telefone, na época de 'As Virgens Suicidas', seu longa de estreia, do qual gosto muito, mais até do que de 'Encontros e Desencontros' (Lost in Translation), que também é bacana. Disse a Sofia, com toda sinceridade, que, como pai, me emocionara muito com o fato de Coppola ter feito dela a filha assassinada de Al Pacino (em 'O Poderoso Chefão 3'). Pode não sigtnificar nada para os outros, mas, para mim,, aquilo dá uma voltagem ao filme que a ópera - 'Cavalleria Rustichana' - potencializa ainda mais. A morte dfe Sofia no 'Chefão 3' me deixa prostrado como o personagem de Pacino. Disse também que ela era talvez inexperiente como atriz para um papel tão forte, mas as duras críticas que recebeu no fundo eram muito mais uma tentativa de atingir seu pai. Em síntese, me congratulava com o fato de haver sobrevivido ao episódio para virar diretora, e boa, muito boa. Ela deve ter percebido a sinceridade e foi calorosa comigo. Na época, estava casada ou havia sido casada com Spike Jonze, de 'Quero Ser John Malkovich', que também entrevistei por telefone e, com um e outra, conversei sobre o casamento, em que medida se influenciavam e apoiavam. Desde então, tenho acompanhado com muito interesse a evolução de Sofia Coppola. Ela já havia sido a aposta de 'Cahiers' para a Palma de Ouro com 'Marie Antoinette', mas não levou. A consagração que Cannes lhe negou, Veneza agora outorgou. 'Somewhere' será distribuído no Brasil pela Paramount. Não creio que vá para o Festival do Rio. Com raras exceções, o Rio não tem tempo hábil para incluir a seleção de Veneza - seu catálogo já está fechado - e os filmes do Lido terminam sendo o diferencial da Mostra de São Paulo, que Leon Cakoff tem mais disponibilidade para trazer ao Brasil. Creio, por isso mesmo, que 'Somewhere' será uma atrações do evento aqui em Sampa. Estou torcendo para que Sofia Coppola quebre a escrita. Chega de filme ruim ganhando o Leão. Sei que tem gente que gosta, mas aquele israelense, dentro do tanque, o 'Lebanon', era o 'Fera da Guerra' requentado e com lances meio canalhas (o nu frontal na cena dos reféns). 'O Lutador', do Darren Aronofsky, pelamor de Deus, era pior ainda (para o meu gosto). Curta quem quiser, eu fora. Quando ouço falar em crise do cinema de autor - e dos festivais -, penso em Veneza. Berlim e Cannes se beneficiam por vir antes. Veneza, muitas vezes, vira a rapa de tacho da programação do ano e existe até o caso daquele Mike Leigh recusado em Cannes que ganhou no Lido ('Vera Drake'). Toda força a Sofia Coppola!

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