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Cinema, cultura & afins

Opinião|Adeus a Gina Lollobrigida

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
 Foto: Estadão

As divas também morrem e Gina Lollobrigida se foi esta manhã, com veneráveis 95 anos. Nos últimos anos, as notícias da musa foram quase sempre tristes, com problemas de saúde, litígio em família, tentativa de interdição por parentes cobiçosos do seu patrimônio, etc. Por fim ela descansou, como se costuma dizer. Deixa uma extraordinária memória atrás de si. 

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Apenas no cinema foram mais de 60 longas-metragens, em carreira italiana mas também internacional. Talvez seu filme mais conhecido - e bem sucedido - seja Pão, Amor e Fantasia, de Luigi Comencini. Mas filmou na França, fazendo ao lado de Gérard Philippe Fanfan La Tulipe, de Christian-Jaque. Trabalhou com Bogart em O Diabo Riu por Último, com Tony Curtis em Trapézio e com Anthony Quinn em O Corcunda de Notre-Dame. Filmes muito bons, nenhuma obra-prima. 

Talvez tenha desperdiçado sua grande chance ao recusar o convite de Michelangelo Antonioni, um dos gênios da época de ouro do cinema italiano. Quem sabe? Mas a verdade é que Lolô (permitam-me a intimidade, assim a chamávamos) sempre fez aquilo que quis. Independente, foi a única de suas colegas e contemporâneas a dispensar o casamento com um produtor de cinema, como fizeram Sophia Loren, Silvana Mangano e outras. Gina casou-se com um médico. 

Sua beleza tornou-a famosa. E ícone da mulher mediterrânea, sempre a medir-se com a também exuberante Sophia Loren. Duelo de titãs, diga-se. Tanta beleza motivou muitas histórias de homens apaixonados por ela e dispostos a tudo. Dizem que colocou em risco a revolução cubana ao visitar a ilha e deixar o comandante Fidel Castro de queixo caído. 

Lolô também nos deu uma colher de chá ao visitar o Brasil e subir a serra gaúcha como homenageada do Festival de Gramado, em 1995. Deixou todos encantados e roubou a cena de uma cerimônia repleta de autoridades, como o então governador do Estado Antônio Britto e o ministro da Cultura Francisco Weffort. Simpática, Gina deu autógrafos (não existia a selfie), beijou fãs e recebeu um Kikito honorário, o troféu do festival. 

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Saudou os "patrícios" porque foi informada de que boa parte da população local era composta de descendentes de imigrantes italianos do Vêneto. Vamos lembrá-la sempre em seu vestido preto decotado, com detalhes de strass e estola forrada em rosa choque. Linda de doer. 

Quando se cansou do cinema (ou o cinema cansou-se dela), Gina soube reciclar-se, como se diz hoje. Iniciou carreira de fotógrafa e escultora. Teve destaque, sobretudo na fotografia. Mostrou-se talentosa, embora seja sempre problemático para pessoas muito famosas começar um segundo métier. A sombra da ocupação que primeiro a levou à fama sempre a acompanhou.  

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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