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Opinião|Duas lágrimas por Omar Sharif

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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Não adianta peneirar muito a sua filmografia - Omar Sharif (1932-2015), que nos deixou aos 83 anos, será mesmo lembrado por dois filmes - Lawrence da Arábia (1962) e Doutor Jivago (1965), ambos do britânico David Lean.

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Foram imensos sucessos de público. Jivago, em particular, história melodramática do médico que se perde em meio à Revolução Russa e tenta reencontrar seu grande amor, Lara, vivida por Julie Christie. Ninguém que tenha vivido os anos 1960 esquece esse filme. Ou a música a ele associada, o Tema de Lara, que todo mundo sabia assobiar, mesmo no Brasil mais profundo.

Quem quiser um pouco de recuo, precisa lembrar que o romance de Boris Pasternak, de mesmo título, é infinitamente mais complexo que o filme. Mesmo assim, e mesmo sendo tão anticomunista quanto melodramático, o Dr. Jivago, de Lean, é daqueles grandes sucessos de todos os tempos, dos que marcam época. E muito deve ao carisma de Sharif, com seu belo e sofrido rosto.

Em Lawrence da Arábia, baseado em Os Sete Pilares da Sabedoria, de T.W. Lawrence, Sharif é coadjuvante. O papel principal absoluto é de Peter O'Toole. Seu personagem Sherif Ali rendeu a Omar Sharif prêmios como o Globo de Ouro e o Oscar de ator coadjuvante e, sobretudo, fama mundial para fazer o que bem entendesse. Com passe livre no jet-set internacional, Sharif desfilava seu charme pelos cinco continentes.

Inclusive pelo nosso. Uma primeira-dama dos tempos da ditadura era louca por ele. E Sharif gostava do Brasil, tendo como amigo o investidor Naji Nahas.

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O fato é que, depois daqueles dois belos filmes com Lean, Sharif trabalhou em dezenas de produções pouco memoráveis. Entre elas, destaca-se, pela ruindade, Causa Perdida, de Richard Fleisher, em que interpreta - pasmem! - o Che Guevara. Já Fidel Castro é recriado por...Jack Palance.

Sharif era consciente de sua trajetória. Em entrevistas, se disse cansado dos "filmes ruins (sic)" que fizera durante décadas. Mas em 2003 reabilita-se com o delicado Uma Amizade sem Fronteiras (Monsieur Ibrahim), de François Dupeyron, sobre a amizade entre um idoso árabe e um garoto israelense.

Enfim, toda uma vida pode ser justificada por dois sucessos como os de Lawrence da Arábia e Dr. Jivago. Não há quem não os conheça. E, conhecendo-os, não existe quem se esqueça de Omar Sharif e seu carisma.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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