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Opinião|Mostra 2023 (2): Filme mostra trajetória de Jacó Guinsburg, nome fundamental da inteligência brasileira

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Atualização:
 

Gente da nossa geração conhece Jacó Guinsburg como diretor da coleção Debates, da Editora Perspectiva, fundada por ele. A coleção do "seu Jacó" inclui clássicos como Obra Aberta, de Umberto Eco, Balanço da Bossa e outras Bossas, de Augusto de Campos, As Estruturas Narrativas, de Tzvetan Todorov, Apocalípticos e Integrados, também de Eco, O Visível e o Invisível, de Maurice Merleau-Ponty, História da Loucura, de Michel Foucault, Valise de Cronópio, de Júlio Cortázar, e um longo etc. Ficaríamos até amanhã falando da importância dessa coleção. São centenas de obras, de viés vanguardista, que ajudaram o brasileiro a tirar o pé da lama do provincianismo. 

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No entanto, como vemos no documentário Jacó Guinsburg - um intelectual em cena, de Evaldo Mocarzel, o perfil do personagem foi muito mais amplo e complexo. Seu Jacó foi tradutor e crítico teatral, depois professor da Escola de Arte Dramática e da Escola de Comunicação e Artes, da USP, teórico de teatro e especialista em literatura ídiche. Esse homem, nascido na Bessarábia, é uma figura fundamental na intelligentsia paulistana e brasileira. 

O documentário de Evaldo Mocarzel opta por contemplar essas várias vertentes. Escolhe, também, uma estratégia narrativa que deposita toda a sua confiança no carisma do personagem - longa entrevista, em plano fixo, com poucas imagens de cobertura. Estas funcionam mais no começo do doc, e em seu final, quando servem para situar a figura em uma São Paulo que não existe mais, uma cidade menor e mais acolhedora, com seus bairros de imigrantes como o Bom Retiro, dos judeus e dos italianos. É lá que o pequeno Jacó, chegado ao Brasil com três anos de idade, finca suas raízes, nas imediações da loja do pai, um comerciante de roupas. 

Toda a trajetória de Guinzburg, de um ponto a outro, é por ele evocada. Para narrá-la, ele se vale de características raras, em especial quando aparecem juntas - a vasta cultura, sem ostentação, a modéstia, o humor, um não levar-se tanto a sério que só aumenta a admiração de quem o ouve. 

Também é ótimo que seu Jacó tenha conhecido algumas das principais cabeças daquela São Paulo de outrora e que tenha histórias para contar sobre elas. Foi amigo de Décio de Almeida Prado, Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Paulo Emilio Salles Gomes, Alfredo Mesquita e tantos outros. 

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O carisma do personagem é que dá sustentação a uma opção documental tão austera. Pelo menos, na maior parte do tempo. Afrouxa um pouco mais para o final, quando a evocação de Guinsburg toma caminho mais reflexivo e, portanto, mais abstrato. Então, o filme perde potência cinematográfica. Mesmo assim, cumpre à risca seu papel de apresentação de um personagem dos mais importantes para vida da cidade e do país. 

Horários de exibição

20/10

19:20

RESERVA CULTURAL - SALA 2

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28/10

20:10

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 5





Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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