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Opinião|O mito dos 'velhinhos' de Hollywood

Uma análise dos resultados mostra que os tais velhinhos conservadores são mais avançados que a comissão do Minc que escolheu 'O Pequeno Segredo' para representar o Brasil

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

 

Até agora, essa sabedoria dos selecionadores não tem dado qualquer resultado. Mesmo porque não é nada fácil adivinhar o que se passa na cabeça dos outros, ainda mais na cabeça de um coletivo de pessoas, como é o caso da Academia. Não se tem ideia precisa da faixa etária deles e, no entanto, continua-se a chamá-los de "velhinhos", com uma certa condescendência. Aposta-se na predileção do grupo pelo Holocausto, hipótese fundada na composição da indústria do cinema em Hollywood, embora esta tenha mudados de mãos. Mas o pior de tudo é supor um conservadorismo estético, nem sempre amparado pelos dados da realidade.

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Não precisamos ir muito longe no tempo, quando Bergman ganhava o Oscar com A Fonte da Donzela (1960) ou Fellini com 8 ½ (1964), para desmontar essa suposição de conservadorismo estético. Basta olhar para os cinco últimos prêmios: A Separação, do Irã (2012), Amor, da Áustria, (2013), A Grande Beleza, da Itália (2014), Ida, da Polônia (2015), e O Filho de Saul, da Hungria (2016).

Nenhum deles é piegas, ameno ou desprovido de qualidades cinematográficas. Pelo contrário. Os dois últimos, de fato vinculados ao tema do Holocausto, são duríssimos, em especial O Filho de Saul, que também trabalha com uma opção estética bastante arriscada e heterodoxa.

A Separação, de Asghar Farhadi, é de uma precisão de roteiro invejável. Amor, de Michael Haneke, trata da eutanásia sem qualquer concessão e não tem medo de chocar o espectador. A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino, retoma a grande visão felliniana da decadência e não se presta a qualquer vislumbre de lugar-comum. De modo geral, Brasil não fez feio em suas últimas cinco indicações: Tropa de Elite 2 (2012), O Palhaço (2013), O Som ao Redor (2014), Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2015) e Que Horas Ela Volta? (2016). Em particular, nas escolhas para 2014 e 2016, elegeu o que o País tinha de melhor,

Neste ano a seleção foi atípica. Por razões políticas, havia um candidato a não ser eleito, Aquarius, de Kléber Mendonça. Com o veto branco, em seu lugar entrou o bem-intencionado porém fraco e piegas O Pequeno Segredo, de David Schürmann. Esperemos pela complacência dos "velhinhos conservadores da Academia", que têm se revelado mais ousados e atentos às questões cinematográficas que esta comissão do MinC.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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