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Cinema, cultura & afins

Opinião|Uma lista pessoal: os 10 melhores filmes brasileiros de 2017 e uma menção honrosa

Entre os preferidos, documentários, ficções e obras que ficam entre um gênero e outro. Gabriel e a Montanha foi o que mais me tocou, seguido por Era o Hotel Cambridge e No Intenso Agora. Dos 150 longas produzidos no Brasil em 2017 haveria lugar para pelo menos 20 em uma lista de melhores, número nada negligenciável

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

Gabriel e a Montanha, de Fellipe Barbosa. Visto, registro e trevisto, o filme de Fellipe Barbosa revelou-se o que de mais consistente, inteligente e emocionante me foi dado curtir pelo cinema nacional em 2017. Mesmo porque, seu personagem, real, com sua simpatia e coragem, e uma bondade misto de arrogância autodestrutiva, me parece uma ótima e involuntária metáfora do Brasil.

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Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé. Com esse filme fronteiriço entre documentário e ficção (embora a diretora garanta que se trata de ficção pura), a questão da luta pela moradia ganha novo patamar. Estético. Ético. Político.

No Intenso Agora, de João Moreira Salles. O diretor toma alguns momentos - uma visita da sua mãe à China de Mao, o maio de 68 em Paris, a repressão à Primavera de Praga, as manifestações estudantis no Brasil em 68 para trabalhar com uma questão crucial: como continuar a vida após haver atingido um cume de intensa felicidade. Questão tanto pessoal como política.

Martírio, de Vincent Carelli, um filme em forma de libelo transforma-se em peça incontornável sobre o genocídio indígena no Brasil.

O Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano. Questão de gênero, sim, mas também imersão no mundo do trabalho. E daquilo que, na vida do trabalhador, ultrapassa suas tarefas cotidianas.

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Bingo, o Rei das Manhãs, de Daniel Resende. O mundo do espetáculo, em sua sedução e crueldade, num filme envolvente e muito bem interpretado por Vladimir Brichta.

Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky. A nova ordem amorosa, o novo papel das mulheres nas relações sociais e de casamento em um filme inteligente em sua construção de roteiro, sensível na sua mise en scène.

Rifle, de Davi Pretto. Original na sua proposta de discutir a questão do campo em sua relação com a cidade, o filme se desdobra em uma proposta estética envolvente.

As Duas Irenes, de Fábio Meira. As duas garotas de mesmo nome, filhas do mesmo pai: essa história humana e perturbadora serve, também, para mostrar o reposicionamento do feminino na ordem das coisas. Interpretações contidas e eficazes das duas garotas e de Marco Ricca.

Quem Foi Primavera das Neves, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo. Doc de investigação acerca de uma personagem esquecida desvela uma vida ímpar, dedicada à cultura e à amizade. Se quiserem um sinônimo para este filme, ele seria: delicadeza.

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Um destaque, espécie de menção honrosa, vai para Os Parças, de Halder Gomes, uma avis rara entre a mediocridade das comédias brasileiras. Com seu diálogo com a chanchada, vai além da mesmice da comédia Global, que já parece estar cansando o público, e dá uma piscadela para o melhor do cinema popular brasileiro de antigamente.

 

Obs. O exercício de descobrir dez filmes entre os cerca de 150 lançados em 2017 é autoimposto. Minha peneirada inicial tinha quase 20. Seria justo incluir um ou outro, mas para isso teria de sacar os que mais me agradaram. De qualquer forma, esta lista, como todas, é em primeira pessoa do singular. Há muito desisti da universalidade das escolhas.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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