Pensar na nossa revista Moda deste mês foi repensar a própria moda. Se na edição passada ela estava dentro do casulo em seu processo de metamorfose, este mês ela surge reconfigurada com uma nova forma. Trabalho no mercado de moda há mais de 20 anos e, apesar do amor que sinto, consigo enxergar os defeitos que tornaram a indústria um mercado de julgadores implacáveis.
O processo criativo e o senso estético que nas artes plásticas, no cinema e no teatro abriram espaço para novos comportamentos e foram pioneiros em trazer reflexões e expressar novas ideias tomaram, na moda, um caminho distinto. Padrões de beleza rígidos formaram regras que excluem sem perceber. Assim, a moda se distanciou da arte, de onde nasceu. Da manifestação de ordem estética que visava comunicar a expressão de nossa personalidade única, ela acabou por construir muros que separam pessoas por idade, cor e peso. A moda fez de nossas diferenças, defeitos, quando comparadas aos padrões impostos pela indústria.
Um dos muitos efeitos da quarentena foi um despertar para o que era óbvio e que, com o mundo frenético nos empurrando em alta velocidade, não parávamos para realmente enxergar. Em meio à elevação da nossa consciência – o saber e entender sobre aquilo que se pensa ou se faz –, o racismo na moda ficou evidente. Racismo estrutural que o leva à normalidade, como terrível e cruel naturalização da desigualdade.
A nossa capa, inspirada na obra de Robert Mapplethorpe, tem a intenção de representar o futuro que todos desejamos. Um futuro de empatia e fraternidade. De igualdade e amor.
Dizem que temos de imaginar o futuro que queremos para que ele se torne realidade. Assim, por aqui fotografamos e imprimimos a imagem para que ela se torne física.