Em 2012 quando criei minha empresa, a Fhits, a ideia era unir as mais diferentes vozes e opiniões em uma única plataforma. Eram blogs que se transformaram em algum tempo em canais sobre diferentes temas nas mídias sociais, como Instagram, YouTube, Twitter (atualmente, X) e TikTok. Lembro de gostar de pensar que tinha criado um espaço onde pudéssemos ler visões diversas das minhas.
Viajei e convivi com pessoas que pensavam coisas que eu não pensava, enxergavam um mundo que eu não via e se comportavam nele de outra forma. Essa experiência e diálogo me abriram novas compreensões e também reforçaram a construção da minha própria identidade.
Essa semana, como em outros momentos que já vivi na internet, o sonho pareceu um pesadelo. Cometi o sacrilégio aos olhos de uma parte da minha audiência nas mídias sociais, fui ao show da Madonna e pior, gostei.
No meu sonho infantil, lá em 2012, ter acesso a visões diferentes nos abriria novas possibilidades, mas nunca imaginei que o medo e, portanto, a reação de eliminar quem pensa/age diferente, surgiria com tamanha força.
Antes do surgimento de tais mídias, era difícil entender a fundo outras realidades porque éramos limitados por quem tinha um veículo para falar. Hoje todos temos nossos veículos pessoais, aprendemos a falar e a expor nossas ideias, mas não aprendemos a ouvir.
Gostamos mesmo é de viver envoltos em câmaras de eco onde nossas ideias e opiniões são sempre reforçadas, repetidas, confirmadas e onde a diferença é desautorizada com tamanha agressividade que não existe diálogo possível. O algoritmo que nos conecta com quem pensa igual formando bolhas é só o mundo virtual se moldando ao nosso comportamento.
Um antigo conhecido com quem trabalhei e quem eu admirava pela elegância colocou emojis de vômito no post que fiz carinhosamente sobre o show da Madonna. Minha atitude imediata foi mandar uma mensagem perguntando se ele estava bem, se o problema era comigo ou com a Madonna, ao que ele me respondeu com naturalidade: “Ah, não era para você, era para outra página”.
Assim estamos, normalizando vômitos e xingamentos para todos que nos frustram e que não concordamos no nosso mundo paralelo, enquanto no físico nos comportamos com ainda certa civilidade.
