Museu Nacional restaura e expõe painéis de Portinari

Obras enaltecem o trabalho dos operários que abriram estradas brasileiras nas décadas de 20 e 30. São os primeiros grandes painéis do pintor, estavam no Museu Rodoviário e não podiam ser visitadas por falta de infra-estrutura

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Por Agencia Estado
Atualização:

Quatro painéis do pintor Cândido Portinari que estavam inacessíveis ao público estarão expostas, a partir de hoje, no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no centro do Rio. Pintadas em 1936 por encomenda da Comissão de Estradas de Rodagem Federais, que precedeu o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), as telas retratam o desbravamento das matas para a construção de rodovias e foram doadas pelo Ministério dos Transportes. As obras, que foram restaurados por técnicos do MNBA, estavam no Museu Rodoviário, localizado na Rodovia Presidente Dutra, na altura da Serra das Araras, e não podiam ser visitadas porque não havia infra-estrutura para receber o público. No museu, que já contava com importante acervo de Portinari, elas serão colocadas na Sala Portinari, que ainda está em construção. "Um patrimônio tão valioso tinha de ser democratizado, não podia mais ficar escondido", afirmou ontem o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, durante cerimônia de cessão das obras, no MNBA. Os painéis, têm 96 centímetros de altura por oito metros de comprimento e são, segundo João Cândido Portinari, filho do artista, bastante significativas dentro da obra do pintor. "O homem, tema principal de Portinari, é o destaque dessas telas, como desbravador das matas em nome do progresso", disse ele, ressaltando que as obras são o primeiros grandes painéis feitos pelo pintor. "É bom vê-lo voltando a este museu, onde ele, ainda menino, começou sua carreira, na então Escola Nacional de Belas Artes". Após trabalhar por cinco meses nas telas, Portinari recebeu dezoito contos de réis do engenheiro Yedo Fiuza, então diretor da Comissão de Estradas de Rodagem Federais, conforme relato de seu filho. "Foi pouco depois de ele, aos 32 anos, ganhar seu primeiro prêmio internacional, com O Café, quando ele era praticamente um desconhecido", contou João Cândido. As telas tinham como objetivo enaltecer o trabalho dos operários que abriram estradas brasileiras nas décadas de 20 e 30. Foram então levados para o Monumento Rodoviário, construído em 1928. No início, eram visitadas por quem passava pela rodovia Rio-São Paulo, mas, com o tempo, acabaram esquecidas. "Sempre me entristeceu ver sua obra trancada, longe dos olhos do público", disse João Cândido. "Agora todos poderão admirar este trabalho".

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