A banda exótica do menor Estado do Brasil

Sergipanos da Coutto Orchestra chegam a São Paulo com ‘Voga’, álbum concebido em viagem de barco pelo Velho Chico

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Por Pedro Rocha
Atualização:

O rio São Franciso já foi tema de muitas canções, mas agora se torna a própria música em Voga, álbum da banda sergipana Coutto Orchestra, que se apresenta nesta quinta-feira, 6, no Jai Club em São Paulo. Em 2016, o grupo viveu quase um mês num barco, saindo de Piranhas (AL) até a foz em Brejo Grande (SE), visitando 25 comunidades e captando sons ribeirinhos para integrar o disco. 

Banda sergipana viajou de barco pelo rio São Francisco, captando elementos sonoros que, hoje, integram o disco 'Voga' Foto: Melissa Warwick

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Voga tem o significado literal de trazer o ritmo dos barcos. O motor em funcionamento, a pisada do xaxado, os rituais dos índios Xokós na Ilha de São Pedro, no município sergipano de Poço Redondo. As sonoridades que fazem parte do São Francisco foram gravadas e, de forma orgânica ou transformada em acordes de instrumentos musicais, viraram as faixas do disco.

“Pegamos elementos, que chamamos de imagéticos e simbólicos, para mostrar a cultura ribeirinha do nordeste”, afirma Alisson Coutto, que divide a banda com Vinícius Bigjohn, Rafael Ramos e Fabinho Espinhaço. “A gente quis brincar com esses elementos.” De início, o grupo achou que a proposta traria um álbum festivo, com os ritmos que embalam a população que vive às margens do rio. Mas a realidade foi diferente. Viram de perto o sofrimento do Velho Chico para sobreviver ao assoreamento. “Vimos uma fazenda no meio do rio, com gado e tudo.” 

“Foi inevitável, vimos coisas muito fortes, boas e ruins, que influenciaram diretamente no resultado.” Alisson acredita que, assim como a viagem, Voga começa mais alegre e se torna mais denso. “Foi um processo visceral: observar e absorver.”

A situação mais memorável, para o artista, foi numa das vezes em que a embarcação encalhou no meio do São Francisco. “Foi assustador, alguns membros da banda não sabiam nadar, mas tiveram que cair no rio para ajudar a tirar o barco”, lembra Alisson, que diz que alguns trechos do rio estavam com menos de 70cm de profundidade. 

A experiência gerou, além do álbum, um documentário na internet e uma exposição de fotos, que acompanha a turnê da banda, que agora foca em divulgar o disco, mas já pensa, também, na próxima imersão, esta pela América Latina. “Queremos ver o que está abaixo do muro de Trump.”

Assim como o primeiro álbum, Fun Farra (2013), Voga foi gravado de forma independente. Só na reta final veio uma verba de um projeto da Natura. “Para o primeiro, tive que vender minha moto”, ri Alisson.

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Além de São Paulo, a turnê do Voga esta semana passa por Ouro Preto e Belo Horizonte. “Eu costumo vender a banda como uma experiência exótica do menor Estado do Brasil”, brinca Coutto.

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