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Agostinho dos Santos: relembre a voz silenciada por queda de avião

Morto em 1973, cantor de músicas como 'Balada Triste' e 'Meu Benzinho' faria 90 anos nesta segunda; relembre alguns de seus sucessos

Por André Carlos Zorzi
Atualização:

Nesta segunda-feira, 25, completam-se 90 anos do nascimento de Agostinho dos Santos (1932-1973), cantor de letras românticas contemporâneo à Era do Rádio (1946-1958) no Brasil e muitas vezes considerado 'esquecido' pela memória musical.

O cantorAgostinho dos Santos em foto tirada em março de 1966 Foto: Arquivo/Estadão

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Entre alguns de seus trabalhos mais lembrados estão obras de outros compositores, como as músicas da trilha sonora do filme Orfeu Negro (Palma de Ouro em Cannes e vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro), como Manhã de Carnaval e A Felicidade. Balada Triste foi amplamente executada nas rádios brasileiras em 1959, e ainda houve outras canções marcantes, como O Amor Em Paz (parceria com Vinicius de Moraes), Meu Benzinho, Estrada do Sol, Minha Oração e Até Logo, Jacaré, uma versão do rock See You Later, Alligator, de Bill Haley and the Comets.

"Agostinho dos Santos divide com João Gilberto, em nossa opinião, o primeiro lugar entre os intérpretes modernos da nossa música popular. João Gilberto distingue-se pela naturalidade com que canta; Agostinho dos Santos caracteriza-se pela estilização, melhor seria talvez dizer sofisticação, que só não chega muitas vezes ao ridículo graças ao talento do cantor".

Próximo a outras figuras do meio musical da época, costuma ser lembrado por carinho por artistas 'das antigas'. Um deles é Milton Nascimento, com quem chegou a morar junto. Agostinho apoiou Milton quando este pensava em deixar São Paulo e voltar para Minas Gerais, solicitando três músicas para lançar em seu disco, e inscrevendo-as, à revelia do compositor, no Festival Internacional da Canção. As três foram classificadas e fizeram sucesso.

"Agostinho é o responsável por tudo isso, eu jamais teria participado de outro festival se não fosse pelo plano montado carinhosamente por ele. Ele foi meu padrinho musical e uma das pessoas mais importantes da minha vida. Agostinho foi um dos grandes astros da música brasileira enquanto esteve conosco, mas infelizmente partiu muito cedo", relembrava Milton em depoimento ao Estadão, em 2014. 

O talento e a projeção dada por Orfeu Negro ajudaram o cantor a receber prêmios e viajar pelo mundo cantando sua música. Uma das apresentações da qual fez parte foi no Carnegie Hall, em Nova York, ao lado de nomes de alta grandeza da música brasileira, como Sérgio Mendes, João Gilberto, Tom Jobim, Luis Bonfá e Sérgio Ricardo.

Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Agostinho dos Santos em foto antiga. Foto: Arquivo/Estadão

Com o tempo, porém, o músico foi perdendo espaço na música brasileira. Lembrava-se com saudade dos anos de 1955 (Benzinho) e 1959 (Balada Triste) como momentos de auge: "Depois disso minha carreira foi pontilhada de decepções e frustrações. Mas é bom pensar na época áurea, na esperança de que ela possa voltar". 

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Em março de 1973, Agostinho dos Santos representou o Brasil no 3º Festival de Onda Nueva, em Caracas, na Venezuela. Lá, conheceu o músico grego Takis Kambas, que lhe chamou para participar de um festival em Atenas, onde cantaria Paz Sem Cor, seu último lançamento, feito em parceria com sua filha, Nancy, de 19 anos. 

Em julho de 1973, Agostinho dos Santos preparou-se para ir à Grécia. Seu embarque estava previsto para o dia 7, um sábado. Porém, seu arranjador, o maestro Carlos Piper, teve um problema com a documentação e a dupla só pôde partir dois dias depois, na segunda, 9. Após sair do Rio, o avião ainda passou por escalas em São Paulo, Buenos Aires (Argentina) e Santiago (Chile). O próximo destino da aeronave seria Paris (França) e depois Frankfurt (Alemanha). Em solo europeu, o cantor rumaria à capital grega. 

Quando o Boeing PP-VJZ estava a poucos quilômetros do Aeroporto Internacional de Orly, já realizando contato com a torre de controle, uma bituca de cigarro jogada no banheiro da cauda deu início a um incêndio na aeronave. Foi dada prioridade ao seu pouso, incluindo a liberação da pista de decolagens, por conta da gravidade da situação, mas o avião jamais chegou. 

Consta que o piloto ainda conseguiu evitar atingir uma série de casas em um povoado ou uma rodovia da região, fazendo com que o impacto ocorresse sobre um campo de cebolas e alfaces. Das 134 pessoas no avião, 123 morreram, sobrevivendo 10 tripulantes e um único passageiro. Acredita-se que a maioria das vítimas ficaram inconscientes antes de serem queimadas, por conta da inalação da fumaça. E assim, em 11 de julho de 1973, foi interrompida a trajetória de Agostinho dos Santos. 

Recentemente, parte de seu passado vem sendo redescoberto. No início do ano, foi lançado o compilado Agostinho dos Santos en Uruguay, com registros até então inéditos gravados no auditório da Rádio Monte Carlo no país vizinho, em 1962. No momento, o jornalista Ney Inácio também trabalha na produção de um documentário sobre a vida e a carreira do cantor. 

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