Aparecem sempre perguntas quando nos deparamos com alguma reflexão diante de um novo álbum com mais incursões a territórios sagrados e tão visitados. O que o justifica? Existe proposta além da reprodução iconoclasta? Existe voz fresca além da afetiva e original? Ainda que seja simples entretenimento, existe verdade?
A cantora brasileira Marina De La Riva, filha de pai cubano, tem bons ingredientes naturais para agir nas fronteiras com legitimidade. Sua coleção de versões lançada no álbum Raíces Compartidas não leva nenhuma das canções que visita a lugares distantes de suas origens. Ela é conservadora, reverencial, disciplinada e tem fé em seu canto sem dispositivos impressionistas. O que é bom.
O álbum tem produção de Moogie Canasio, nomão já de outras eras, arranjos de Torcuato Mariano (em Besame Mucho), bateria de Vinnie Colaiuta e trompete de Jessé Sadoc. Gente que sabe muito. Cachito, o single da mexicana Consuelito Velásquez, vem em dueto com Ney Matogrosso. Um chá-chá-chá que funciona exatamente quando se mantém tudo no lugar. Mais ou menos também como em Humo de Tabaco, La Gloria Eres Tu, Como Fue e Y Que Sabes Tu?. Há ainda duas versões de Ai Ai Ai, uma das maiores latinidades de Ivan Lins, feita com Vitor Martins, e Influência do Jazz, de Carlos Lyra.
Mas falta a Marina e a seus músicos incendiarem algo com suas almas, ainda que quatro compassos. O respeito aos ícones talvez a prenda nas zonas seguras e contidas de um estúdio e a impeça de voar ainda mais alto do que promete um belo tributo. E nenhum tributo a Cuba pode ser completo se não houver fogo.