PUBLICIDADE

Crítica: Red Hot Chili Peppers ostenta técnica, mas cai na armadilha do costume em show curto em SP

Banda trouxe ‘Unlimited Love Tour’, turnê que marca retorno de John Frusciante ao grupo, com ‘celebração a si mesmos’. Eles seguem para mais duas apresentações no Brasil

Foto do author Sabrina Legramandi
Por Sabrina Legramandi
Atualização:

A banda Red Hot Chili Peppers subiu ao palco do Estádio do Morumbi, em São Paulo, nesta sexta-feira, 10, para apresentar a Unlimited Love Tour. O grupo, que completou 40 anos este ano, fez o estilo de “show-acontecimento” esgotado que arrastou 70 mil fãs fiéis que o acompanham desde a adolescência.

Apresentação do grupo Red Hot Chili Peppers no Estádio do Morumbi em São Paulo.  Foto: Tiago Queiroz

PUBLICIDADE

Quarenta anos, de fato, é algo a ser celebrado. Afinal, muitas bandas que atingiram o auge nos anos 1990 não tiveram a mesma sorte. E foi nesse estilo de “celebração a si mesmos” que o RHCP iniciou a fração paulistana da maior turnê do grupo em estádios até o momento.

O baixista Flea entrou, com saia e uma meia de cada cor, plantando bananeira. Logo em seguida, Chad Smith e John Frusciante apareceram e os três tocaram a aguardada jam do início.

Red Hot Chili Peppers em São Paulo: o baixista Flea entrou, com saia e uma meia de cada cor, plantando bananeira. Foto: Tiago Queiroz

O vocalista Anthony Kiedis se juntou aos companheiros e todos já emendaram uma sequência bem-sucedida com Can’t Stop, The Zephyr Song e Snow.

O clima esfriou com Here Ever After e o show logo se tornou morno. Há a parte técnica, mas falta o carisma que tanto fez a fama do Red Hot Chili Peppers.

Em mais de vinte anos, era a primeira vez que a formação que originou os melhores discos da banda retornava ao solo brasileiro. Um deleite para os fãs. A volta de Frusciante, responsável por grande parte dos riffs inconfundíveis do RHCP, foi o que provocou o enorme burburinho em torno dos cinco shows que o grupo programou no País.

A química dos quatro integrantes é incontestável e algo admirável, principalmente se levarmos em conta que o guitarrista havia deixado a banda em 2009. Todos se olham como se já soubessem o que está por vir: mais um show em que, mesmo com os improvisos, tudo estará sob controle. Talvez aí more a armadilha que deu o tom à apresentação em São Paulo.

Publicidade

O RHCP usa a Unlimited Love Tour para promover seus dois últimos lançamentos, Unlimited Love, de 2022, e o “álbum gêmeo” Return of the Dream Canteen, também de 2022.

Posição confortável

A apresentação com Frusciante tinha todos os elementos para se tornar uma das melhores do RHCP em solo paulistano. A banda, porém, optou por não sair do “mais do mesmo” esperado.

Dá para ver que o grupo é uma banda underground que se tornou mainstream, cheia de paradoxos. Afinal, eles despontaram com um funk-rock psicodélico - que, no show na capital paulista, foi representado com figuras psicodélicas no telão - na época do grunge, e tocam músicas animadas e, ao mesmo tempo, melancólicas.

Os integrantes têm fama de “estranhos”, mas o tipo de “estranhos gente boa”. No show em São Paulo, pouco desse aspecto foi explorado e a impressão é que o destaque é todo de Flea, que ainda encarna o personagem.

Flea, baixista do Red Hot Chili Peppers durante show no Estádio do Morumbi, em São Paulo. Foto: Tiago Queiroz

PUBLICIDADE

Frusciante chega a ter, por vezes, uma certa fama de “antipático” entre os admiradores do grupo. Assim como Anthony, que mal interage com o público e arriscou apenas um “boa noite” logo no começo. Ele parece estar o tempo todo preocupado e, na maioria das vezes, canta de olhos fechados.

Chad foi “gente boa” fora dos palcos e antes do show. O baterista já tocou Legião Urbana em um bar no Rio de Janeiro, foi a um show da dupla Jorge e Mateus em São Paulo e tocou com uma banda cover do grupo, também na capital paulista. Ao final, houve uma interação mais direta, com ele atirando as baquetas para a plateia.

Chad, o baterista do Red Hot Chili Peppers foi 'gente boa' também fora dos palcos e antes do show. Foto: Tiago Queiroz

É Flea quem segura grande parte do carisma que deu fama à banda. O músico consegue explorar bem o palco, dança e parece se divertir o tempo todo.

Publicidade

O baixista, um dos melhores do mundo, desponta como uma figura que tira a tal “invisibilidade” - exercício: quantos baixistas de bandas famosas você sabe citar o nome? -, considerados o “coração” da banda. No show em São Paulo, assim como na grande maioria das apresentações que o grupo fez nos últimos tempos, Flea é o coração, a alma e a cara do Red Hot Chili Peppers.

Show curto e setlist pouco costurado, mas momento comovente

O Red Hot Chili Peppers é o tipo de banda que ostenta hits até para os que “não são muito chegados”. Basta colocar Californication e, certamente, qualquer pessoa que viveu o fim dos anos 1990 vai tentar arriscar alguns versos, mesmo balbuciados, cantados por Anthony.

É muito difícil, porém, que alguém “não tão chegado” saiba entoar Black Summer, uma das famosas do Unlimited Love. Há a memória afetiva em Blood Sugar Sex Magik e Californication, claro, que certamente foi o que levou a maioria dos 70 mil que compareceram ao show em São Paulo.

Foi a falta de hits que fez o público reclamar do show em Brasília, mas a banda variou mais o cardápio na capital paulista. Das cinco músicas mais tocadas no Spotify, quatro delas apareceram na apresentação: Under the Bridge, Californication, Can’t Stop e Snow.

Esse “improviso” até no setlist é mais uma das marcas do RHCP. No palco, porém, as transições parecem confusas e as músicas, pouco costuradas. Entre uma e outra, o palco se apagava e, algumas vezes, Flea e Frusciante se uniam para mais uma jam.

A banda tocou por 1h40 em São Paulo. Uma duração curtíssima em comparação com shows de músicos na ativa até há mais tempo.

Red Hot Chili Peppers tocou por 1h40 em São Paulo. Uma duração curtíssima em comparação com shows de músicos na ativa até há mais tempo. Foto: Tiago Queiroz

Paul McCartney, por exemplo, tem feito apresentações com quase 40 músicas e quase três horas com a turnê Got Back, que vem ao Brasil ao final de novembro. Já Roger Waters canta cerca de 24 músicas em mais de 2h30 com a This Is Not a Drill, que tem o primeiro show em São Paulo marcado para este sábado, 11.

Publicidade

Houve, porém, um momento comovente depois do “bis” que resumiu o símbolo afetivo do grupo. Fãs com cartazes e símbolos da banda foram mostrados, um a um, no telão.

“Obrigada por me ajudarem a superar a depressão e a solidão”, dizia um deles. Na sequência, veio a penúltima música, Under The Bridge, que fala, justamente, sobre solidão.

O Red Hot Chili Peppers já tocou no Rio de Janeiro e em Brasília. O grupo segue no Brasil para o show em Curitiba na próxima segunda, 13, e em Porto Alegre na próxima quinta, 16.

Veja o setlist do show do Red Hot Chili Peppers em São Paulo

  • Can’t Stop
  • The Zephyr Song
  • Snow (Hey Oh)
  • Here Ever After
  • Havana Affair (cover dos Ramones)
  • Eddie
  • Parallel Universe
  • Soul to Squeeze
  • Right On Time
  • Tippa My Tongue
  • Tell Me Baby
  • Terrapin (cover de Syd Barrett)
  • Don’t Forget Me
  • Californication
  • Black Summer
  • By The Way
  • Under The Bridge
  • Give It Away
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.