Johannes Brahms tem obras de câmara revisitadas em série de concertos em São Paulo

A série Brahms – O Grande Romântico já apresentou artistas como o pianista Cristian Budu ou o violoncelista Emanuele Silvestri, em recitais sempre precedidos de conversas com a professora Yara Caznok sobre as obras a serem apresentadas

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Por João Luiz Sampaio
Atualização:

O pianista francês Emmanuel Strosser sobe ao palco duas vezes esta semana em São Paulo - chance se ter contato direto com um artista de musicalidade sempre instigante. Mas o protagonista, segunda e quarta-feira, 20h30, no Espaço Promon (Av. Juscelino Kubitschek, 1.830) é outro: Johannes Brahms. Mais precisamente a sua música de câmara, que tem sido tema desde outubro de uma série de concertos que entende esse repertório como porta de entrada privilegiada para a personalidade artística do compositor.

Nesta segunda, 5, Strosser faz recital solo, com as duas rapsódias op. 79, seis peças para piano op. 118, Tema e variações em ré menor (do sexteto para cordas nº1 op. 18) e a Sonata para piano nº 1 em dó maior, op. 1). Na quarta, se une ao violoncelista Roberto Ring e ao violinista Regis Pasquier para um programa dedicado à integral dos trios para os três instrumentos. Trata-se de uma seleção de obras que cobre um período criativo de mais de quarenta anos.

Emmanuel Strosser Foto: Divulgação

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“Minha relação com a música de Brahms surgiu justamente com suas peças de câmara”, explica Strosser. “Mesmo o piano solo foi uma descoberta posterior. Brahms escreveu música camerística durante toda a sua vida. É nelas que ele se revela mais gentil, mais secreto, intimista, talvez até mais sincero. Como todos os autores românticos, ele começou sob influência forte da obra e da personalidade marcantes de Beethoven. Mas à medida em que vai se desenvolvendo, em especial na escrita para piano, explorando formas próprias, suas peças assumem um caráter cada vez mais poético, como se fossem canções. O espírito romântico se traduz em enorme liberdade de inspiração.”

A série Brahms – O Grande Romântico já apresentou artistas como o pianista Cristian Budu ou o violoncelista Emanuele Silvestri, em recitais sempre precedidos de conversas com a professora Yara Caznok sobre as obras a serem apresentadas. “Nosso objetivo é aproximar esse repertório do público”, explica Sergio Melardi, da Interarte, um dos idealizadores da série, ao lado de Roberto Ring. “Hoje em São Paulo temos uma oferta grande de concertos sinfônicos. E é preciso evoluir também no nicho da música de câmara. Como se faz isso? Mostrando, primeiro, que com menor investimento se pode oferecer ao público grandes obras-primas. Depois, com uma curadoria cuidadosa. No caso do Brahms, entendemos que seria possível aproveitar a série para discutir o que é tradição e o que é ruptura, um tema que é caro ao meio musical, mas não só. Ele está presente na literatura, nas artes plásticas.”

Por conta disso, a série, realiza também amanhã, tem uma mesa redonda sobre a tradição e a ruptura na arte. A contribuição de Brahms nesse quesito é fundamental e recupera os debates em que ele se envolveu em sua época a respeito dos caminhos da criação musical, no lado oposto dos seguidores de Richard Wagner. Da discussão participam, além de Yara Caznok, o curador da 32ª Bienal de São Paulo, Jochen Volz; o escritor Evandro Affonso Ferreira, ; Roberto Ring; e o jornalista e tradutor Irineu Franco Perpetuo. 

A mesa, em um primeiro momento, trata da questão da criação. E como fica para o intérprete esse diálogo entre o universo de referências do passado e a busca por uma voz pessoal? Strosser responde. “Eu entendo o intérprete também como um criador. Eu acredito no fato de que a interpretação musical é algo vivo, que se transforma, evolui com o passar do tempo, seguindo mudanças na nossa sensibilidade, na nossa maneira de ouvir, nas salas de concertos e assim por diante. O desafio do intérprete perante a tradição é descobrir sua voz, consciente de que uma obra esconde diversas possibilidades. Esse processo de busca é algo que nunca termina, não pode terminar."

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