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Niterói aposta em celeiro musical

Com 600 mil habitantes, cidade firma-se revelando talentos dos mais diversos gêneros musicais, numa efervescência há nove anos catalisada pelo selo da prefeitura Niterói Discos, que comemora neste mês seu 100º título

Por Agencia Estado
Atualização:

Um evento no Teatro Municipal de Niterói, no dia 25 deste mês, vai marcar o lançamento do 100º título da Niterói Discos. Iniciativa inédita no País, a prefeitura da cidade criou há nove anos um selo para lançar os músicos locais, dando direito à produção do CD e a mil cópias para divulgação. O selo nasceu com a intenção de registrar a produção musical de Niterói, dar oportunidade aos músicos que não conseguem entrar no mercado fonográfico e preservar a memória musical da cidade. No rol de lançamentos do selo estão grandes músicos como Paulinho Guitarra - que já tocou com Marina, Cazuza, Tim Maia e hoje, Ed Motta - o baixista Arthur Maia e a revelação da música erudita nacional, o violinista Daniel Guedes, que se este ano apresentou com a Orquestra Sinfônica de Nova York , no Carnegie Hall. O último CD lançado é do Pop Goiaba, movimento que cresceu muito em dois anos, criado para apresentar a boa música que não encontra espaço na mídia. A cidade, de onde surgiram nomes como Zélia Duncan e Ithamara Koorax, surpreende pela efervescência musical dos mais variados estilos, desde o samba à música clássica. A idéia se expandiu e a prefeitura mantém ainda uma editora para lançar e reeditar livros sobre a história da cidade. São 600 mil habitantes e uma fama de cidade do interior. Nesse clima pacato, uma intensa produção musical toma a noite da cidade, espalhada pelas pequenas casas noturnas e pelos diversos bares com música ao vivo. Um dos grandes responsáveis por essa agitação cultural é o movimento Pop Goiaba (uma brincadeira com o termo "papa goiaba", apelido que os cariocas dão aos niteroienses) que reúne músicos de diversos estilos. São cerca de 20 artistas que se apresentam nos bares da cidade e na famosa Cantareira, tradicional centro de divulgação de arte alternativa de Niterói, onde eles conseguiram reunir um público de 2 mil pessoas para o lançamento do CD. Alguns eventos combinam música, artes plásticas e exposições de fotografia. "O movimento nasceu para apresentar a produção dos compositores locais e hoje ele já ganhou novas identidades porque cada grupo musical foi trazendo o seu público", explica o compositor Claudio Salles, idealizador do movimento. O prefeito Jorge Roberto Silveira já imaginava a criação de um selo só de Niterói muito antes de pensar em ocupar qualquer cargo público. "Eu tive uma banda dos 13 aos 18 anos. Nessa época, em cada esquina havia uma. Mas na década de 60 era muito caro gravar um disco e eu me perguntava porque a prefeitura não assumia um projeto de uma gravadora local", diz Roberto Silveira, que lançou o selo em 91. São 89 títulos e até outubro mais 15 serão gravados. Em cada produção, são prensados mil exemplares e a prefeitura fica com 150 para divulgação em rádio e para acervo. Os artistas mantêm os direitos fonográficos e podem relançar o trabalho e fechar contrato com outras gravadoras. "O disco serve como um cartão de visita do músico. Um trabalho de qualidade que ele poderá apresentar às gravadoras", diz o prefeito. O investimento varia de R$ 6 mil a R$ 25 mil por produção. Um dos artistas lançados, Paulinho Guitarra, é músico consagrado, guitarrista de Ed Motta há 8 anos. Ele está com seu novo trabalho quase pronto e vai convidar Ed para participar. Paulinho lembra como foi lançar o seu disco, ainda em vinil, em 92. "Eu não tinha dinheiro para lançar as mil cópias, hoje estou lançando o meu CD e, se não der para sair pelo selo, lanço pelo meu estúdio". Com a expansão da produção em Niterói, em menos de 10 anos, o número de estúdios profissionais passou de um para dez. Dessa última leva, lançada até outubro, o CD do baixista Arthur Maia (que grava com músicos como Gilberto Gil e Ney Matogrosso) ganhou destaque pela participação de Hiram Bullock, o guitarrista mais cobiçado de Nova York atualmente. No erudito, Daniel Guedes é a mais nova revelação: aos 23 anos, aluno de Pinchs Zuchermann, um dos maiores violinistas do mundo, ele já tocou com a Sinfônica de Nova York, no Carnegie Hall, como solista. "A idéia é preservar a memória musical ", entusiasma-se o presidente da Fundação de Artes de Niterói, responsável pelo selo, Cláudio Teixeira. O 100º CD é do guitarrista e compositor Cássio Tucunduva, músico há mais de 30 anos. A prefeitura instalou 10 totens pela cidade, com computadores, onde a população pode obter informações sobre os discos lançados, ter acesso aos contatos dos artistas e ouvir trechos das músicas. Os terminais eletrônicos têm ainda informações sobre a produção de artes plásticas na cidade e os endereços dos ateliês. Outras administrações já se mostram interessadas na iniciativa, como as prefeituras de Tatuí e Bauru, em São Paulo, que estudam a possibilidade de implantação do projeto. Com o sucesso do selo, a prefeitura resolveu investir em uma editora local, a Niterói Livros, que desde 94 já publicou 15 títulos. São livros sobre a história da cidade e cada edição tem uma tiragem de 2 mil exemplares. Lançamento do 100º da Niterói Discos - Teatro Municipal de Niterói, Rua XV de Novembro, 35, Centro, Niterói, dia 25 de setembro às 20h.

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