PUBLICIDADE

The Doors: ‘Jim Morrison podia ser irritante, mas valia a pena pela música’, lembra Robby Krieger

Em entrevista ao ‘Estadão’, o veterano guitarrista, cofundador do The Doors, refletiu sobre período no grupo, criticou o filme estrelado por Val Kilmer e falou sobre nova banda, cujo álbum de estreia acaba de ser lançado

Por Gabriel Zorzetto

Em meados de 1966, o jovem guitarrista Robby Krieger estava empenhado em apresentar novas composições ao recém-formado The Doors. Inspirado pelo título de uma música dos Rolling Stones chamada Play With Fire, compôs a igualmente incendiária Light My Fire.

Quando mostrou a canção para os colegas de banda – o vocalista Jim Morrison, o tecladista Ray Manzarek e o baterista John Densmore – ele jamais poderia imaginar que acabara de conceber um dos maiores hinos da história do rock n’ roll.

“Quando a escrevi, achei boa, mas foi só quando começamos a tocar no Whisky a Go Go [célebre clube noturno na Califórnia], noite após noite, que descobrimos que a música despertava a melhor reação do público”, conta Krieger, direto de Los Angeles, em entrevista ao Estadão.

Jim Morrison e Robby Krieger durante a formação original do The Doors. Foto: Facebook/Robby Krieger

PUBLICIDADE

O grupo californiano, de clássicos como Riders on the Storm, Touch Me e Roadhouse Blues, lançou seu último disco de estúdio em 1978, sete anos após a morte de Morrison, astro insolente cuja vida era regada a excessos e escândalos.

Ele foi encontrado sem vida em um apartamento em Paris, aos 27 anos, mas seu status de lenda permanece até hoje, sendo considerado um símbolo da contracultura, além de um dos mais geniais poetas da música popular.

É claro que as atitudes dele podiam ser bem irritantes, mas com o tempo aprendi que ele era daquele jeito e não se podia fazer nada a respeito, mas valia a pena por causa da música.

Robby Krieger

Parte do mito em torno de Morrison vem do filme The Doors (1991), dirigido por Oliver Stone e com Val Kilmer no papel do vocalista. Apesar do sucesso da cinebiografia, Krieger considera que a obra não reflete a personalidade do cantor com precisão, mas sim um estereótipo do que ele poderia se tornar nos momentos em que estava sob efeitos de drogas e álcool.

“Não posso culpar Oliver Stone, porque ele nunca conheceu o Jim, mas acho que ele poderia ter feito algo muito melhor nesse aspecto”, opina.

Publicidade

Aos 78 anos, Krieger se mantém em plena atividade. Durante a pandemia de covid-19, gravou uma série de tutoriais para o YouTube onde ensina a tocar algumas músicas dos Doors. Recentemente, publicou seu livro de memórias Set the Night on Fire: Living, Dying, and Playing Guitar With the Doors, ainda não traduzido no Brasil.

Agora, ele acaba de formar um novo grupo: Robby Krieger & The Soul Savages, quarteto que inclui o baterista Franklin Vanderbilt (membro da banda de Lenny Kravitz), o baixista Kevin Brandon (trabalhou com Michael Jackson e James Brown) e o tecladista Ed Roth (toca com Annie Lennox).

O autointitulado álbum de estreia, que foi lançado na sexta, 19 de janeiro, é composto por dez faixas instrumentais e incorpora elementos de jazz fusion, soul, blues e funk. Os fãs podem escutar o disco em CD, vinil e também nas plataformas de streaming.

“Com esse tipo de música, onde não há letras, a melodia tem que ser memorável. Muitas das canções nós terminamos no mesmo dia, pois havia muita química com esses caras. Alguns dos solos que fiz foram gravados em apenas um take”, explica Ed Roth, americano filho de mãe brasileira.

“Foi um prazer estar ao lado desses homens. A maneira que contribuí foi ficando ‘fora do caminho’, porque muitas vezes as coisas fluem por si só. Eu toco a serviço da música, respondendo ao que eu escuto”, complementa Franklin.

Integrantes do Soul Savages. Foto: Facebook/Robby Krieger

Krieger está lançando seu oitavo álbum em carreira solo, sem negar que busca atingir um novo público, não necessariamente associado ao rock clássico convencional. “Sempre tive o sonho de ter um hit instrumental. Já fiz quatro ou cinco discos desse tipo, até achei eles bons, mas ninguém pareceu comprá-los [Singularity, de 2010, foi indicado ao Grammy de Melhor Álbum Pop Instrumental]”.

As pessoas querem ouvir The Doors, é claro. Mas este novo trabalho é bem mais comercial, então tenho grandes expectativas

Robby Krieger

O veterano guitarrista já esteve duas vezes no Brasil em turnê com os membros remanescentes dos Doors. Em 2004, com Ian Astbury (The Cult) nos vocais e em 2008 com Bret Scallions (Fuel) fazendo as vozes de Jim Morrison.

Publicidade

Robby Krieger, guitarrista do The Doors. Foto: Jill Jarrett/Divulgação

No entanto, após a morte de Ray Manzarek, em 2013, e alguns desentendimentos entre Krieger e Densmore, o projeto perdeu força. “Me lembro de ficar na praia em Ipanema, de ver o Cristo Redentor, e do trânsito intenso em São Paulo (risos)”, rememora. Os Soul Savages revelaram que têm interesse em vir ao Brasil, quem sabe, para um show único.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.