Outro dia quase chamei a aeromoça. O avião decolou e um menino sentado ao meu lado não desapegava do Ipad, onde estava jogando um treco. Ele parecia um viciado em drogas com técnicas avançadas de dissimulação. A aeromoça passava, ele escondia. Ela sumia de vista, ele pegava com cara de adicto.Acho que não chamei a aeromoça porque fiquei com medo de levar uma ipadada na cabeça. Fiz cara feia. Ele me olhou como se eu fosse uma idiota.
Bem, é possível ficar desconectado por 40 minutos (era uma ponte aérea, meu deus) de um aparelho eletrônico? Parece que não. Não dá mais. Os viciados precisam ser atendidos. E mais que isso, os executivos precisam checar seus emails para fazer o mundo andar (mentira, na verdade eles estão no chat do Facebook paquerando enquanto suas mulheres estão em casa cuidando dos filhos).
Os EUA se preparam para liberar os aparelhos eletrônicos em pousos e decolagens de aviões. Uma das alegações é essa mentira: as pessoas precisam dos seus brinquedos para fazer o mundo andar. Puro caô, como diriam os cariocas.
Quanto tempo dura aterrisagem e decolagem? Dez minutos? Se você ficar dez minutos sem seu brinquedo caro você morre? Deu no "New York Times": o presidente da Comissão Federal de Comunicações dos EUA enviou uma carta pedindo que a agencia que controla os vôos mude suas regras e libere o tal uso de eletrônicos por esses dez minutos porque senão o país vai parar, o mundo vai acabar, as pessoas vão morrer (isso ele não disse, mas devia estar pensando).
Uns minutos sem brinquedos eletrônicos não vão matar ninguém. Mas somos todas crianças mimadas, como já escrevi aqui várias vezes. "Não vivo sem meu tablet", diz o pai, enquanto proíbe o filho de ver televisão.
Dez minutos sem um aparelho eletrônico? Você não consegue? Jura? Você está doente. Você é maluco. E o governo do seu país ainda incentiva a sua loucura. Parabéns.
PS. Ontem eu fui ao shopping e vi pessoas APLAUDINDO a inauguração de uma loja de smartphones e tablets (e nem era a tão sonhada Apple Store). O mundo acabou antes da profecia dos Maias.