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O que você realmente precisa saber sobre os antidepressivos

Entenda como eles funcionam, quanto tempo demora para fazerem efeito, se são indicados só para depressão e como saber se é hora de parar de tomar

Por Christina Caron (The New York Times)

Os antidepressivos estão entre os medicamentos mais prescritos nos Estados Unidos. O motivo, pelo menos em parte, é que o número de pessoas diagnosticadas com depressão e ansiedade tem aumentado, e as prescrições cresceram muito em algumas faixas etárias durante a pandemia.

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Apesar da prevalência desses medicamentos, alguns pacientes têm “concepções gravemente errôneas” sobre como eles funcionam, comenta Andrew J. Gerber, psiquiatra e presidente e diretor médico do Silver Hill Hospital em New Canaan, Connecticut.

Cerca de 80% dos antidepressivos são prescritos por médicos de atenção primária que não tiveram formação adequada sobre o controle de problemas de saúde mental.

Paul Nestadt, professor associado de psiquiatria da Escola de Medicina Johns Hopkins, conta que os pacientes lhe dizem: “‘Sabe, doutor, já tentei de tudo’”. Mas, muitas vezes, disse ele, “eles nunca chegaram a tomar a dose certa, ou só tomaram por uma ou duas semanas”.

Aqui estão respostas a algumas perguntas frequentes sobre os antidepressivos.

Muitos mitos relacionados ao uso de antidepressivos podem atrapalhar o tratamento Foto: Pormezz/Adobe Stock

Como os antidepressivos funcionam?

Há muitos tipos de antidepressivos, e cada um deles funciona de uma forma um pouco diferente.

Em geral, os antidepressivos iniciam uma mudança na maneira como as células cerebrais – e as diferentes regiões do cérebro – se comunicam entre si, explica Gerard Sanacora, professor de psiquiatria da Escola de Medicina de Yale.

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Estudos clínicos demonstraram que os antidepressivos geralmente são mais eficazes nos casos de depressão moderada, grave e crônica do que nos quadros de depressão leve. Mesmo assim, o efeito é modesto quando comparado ao placebo.

A maior pesquisa sobre antidepressivos – o chamado estudo STAR*D – constatou que 50% dos participantes melhoraram após o uso do primeiro ou do segundo medicamento que experimentaram, e quase 70% das pessoas ficaram livres dos sintomas no quarto antidepressivo.

Infelizmente, não há como saber com antecedência como um indivíduo vai responder a determinado medicamento, portanto, pode haver um período de tentativa e erro.

São necessárias mais pesquisas para entender melhor como os antidepressivos funcionam e sua eficácia, sobretudo quando tomados ao longo de vários anos.

Como sei qual devo tomar?

Os antidepressivos mais comumente prescritos são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como Prozac ou Zoloft, e os inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina (IRSNs), como Cymbalta e Effexor. Esses dois tipos tendem a ter menos efeitos colaterais do que os antidepressivos tricíclicos, como a clomipramina, ou os inibidores da monoamina oxidase, como a fenelzina.

De modo geral, os ISRSs e os IRSNs têm eficácia parecida.

No entanto, para algumas pessoas, as diferenças entre esses medicamentos – até mesmo entre drogas da mesma classe – não são nada sutis.

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Se você não se sentir bem com um medicamento, há outras alternativas. Os especialistas aconselham trabalhar com seu médico para encontrar a melhor opção.

Quanto tempo os antidepressivos levam para fazer efeito?

A ideia de que os antidepressivos são “soluções rápidas” é um mito, aponta Kao-Ping Chua, pediatra e pesquisador de políticas de saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan. “Definitivamente, não são”.

Em geral, você pode levar de um a dois meses para começar a ver os efeitos positivos, dizem os especialistas. E isso presumindo que você esteja tomando a quantidade ideal.

No início, os médicos tendem a propor consultas de retorno mais frequentes, para que possam monitorar os pacientes.

“Às vezes, precisamos de um tempo para determinar a dose certa”, explica Dr. Chua. Se a dosagem estiver ajustada e ainda assim não estiver funcionando, “talvez seja melhor trocar o medicamento por um antidepressivo diferente”, diz.

Se você estiver apresentando sintomas agudos ou debilitantes de depressão, inclusive pensamentos de automutilação, procure ajuda imediata ligando para o Centro de Valorização da Vida (CVV), no telefone 188.

Os efeitos colaterais são inevitáveis?

Não.

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Ao contrário dos antidepressivos mais antigos, os medicamentos ISRSs e IRSNs normalmente não têm muitos efeitos colaterais de curto prazo e, quando os têm, esses efeitos geralmente são leves.

Alguns dos mais comuns, que podem surgir poucos dias após o início da medicação, são diminuição da libido, dor de cabeça, boca seca e incômodo estomacal. Mas muitas pessoas não sentem nenhum efeito colateral, contam os especialistas.

Os efeitos colaterais de curto prazo geralmente desaparecem à medida que seu corpo se ajusta à medicação – você vai saber quais deles têm maior probabilidade de persistir cerca de duas a três semanas após o início da medicação, afirma Nestadt.

A diminuição da libido às vezes é persistente, o que pode levar alguns pacientes a recusar a medicação, disse ele. Nesse ponto, os médicos tentam tratar o problema com um medicamento adicional ou trocam o antidepressivo por outro diferente.

O uso prolongado pode trazer outros efeitos colaterais, como ganho de peso ou embotamento emocional.

Por fim, os antidepressivos podem interagir com outros medicamentos. Por exemplo: alguns ISRSs, quando tomados junto com ibuprofeno, aumentam o risco de sangramento gastrointestinal. Além disso, geralmente não se recomenda consumir álcool durante o uso de antidepressivos.

Devo fazer mais alguma coisa além de tomar o medicamento?

Sim.

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A terapia continua sendo um dos primeiros tratamentos recomendados para a depressão. Os antidepressivos não fazem com que os problemas desapareçam, mas podem facilitar o enfrentamento dos problemas, diz Chua.

Mudanças no estilo de vida também podem ajudar, esclarecem os especialistas. Pesquisas demonstraram que a prática de exercícios costuma reduzir os sintomas da depressão. E uma dieta saudável para o coração pode ser benéfica, embora sejam necessárias mais pesquisas sobre como os alimentos afetam o humor.

Dormir muito ou muito pouco também afeta a maneira como nos sentimos, por isso é importante descansar na medida certa.

Os antidepressivos são usados para outra coisa além da depressão?

Sim.

Eles também podem tratar problemas de dor crônica, como herpes-zóster e enxaqueca, além de ansiedade, fobia social, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivo.

E quanto ao alerta das autoridades?

Em 2004, a Food and Drug Administration [FDA, agência responsável pela certificação de medicamentos nos Estados Unidos] emitiu um alerta dizendo que o uso de certos antidepressivos poderia estar ligado a ideação e comportamentos suicidas em adolescentes. Três anos depois, a advertência foi ampliada para incluir pessoas de 18 a 24 anos.

O alerta se baseou em uma análise de testes de medicamentos nos quais não houve suicídios. Mas os pesquisadores descobriram um risco significativo de pensamentos suicidas. Outros estudos descobriram que os ISRSs diminuem as taxas de suicídio e o comportamento suicida entre os jovens, o que levou alguns especialistas a pedir que a advertência fosse reavaliada.

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Como sei quando está na hora de parar de tomar antidepressivos?

Em geral, os psiquiatras recomendam que se discuta a possibilidade de suspender a medicação depois que você estiver sentindo os benefícios por pelo menos seis meses.

Estudos mostram que “pacientes que estão se saindo bem com antidepressivos têm maior probabilidade de sofrer recaídas de depressão se pararem de tomar o medicamento”, diz Chua.

Mas isso não acontece com todo mundo, acrescenta ele, portanto, consulte seu médico para decidir se deve ou não parar de tomar o medicamento.

A psicoterapia pode ajudar as pessoas a interromper o uso de antidepressivos com sucesso. Mas é sempre importante reduzir a medicação sob a supervisão de um médico.

Em alguns casos, se a redução gradual não for feita de forma suficientemente lenta, os pacientes podem sofrer o que é comumente chamado de “zaps cerebrais”, que parecem choques elétricos, ou outros efeitos colaterais, como náusea, informa David J. Hellerstein, professor de psiquiatria clínica do Centro Médico Irving da Universidade de Columbia.

A redução gradual é especialmente importante com antidepressivos que têm meia-vida curta, como o Effexor ou o Paxil, acrescentou ele. Quando os pacientes interrompem o uso de medicamentos como esses, a quantidade de medicação no corpo “cai muito rápido”, conclui ele.

Algumas pessoas com depressão crônica e recorrente talvez precisem tomar antidepressivos por tempo indeterminado, informa Hellerstein.

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Geralmente se considera que esse uso é seguro, diz ele, acrescentando que é muito mais arriscado deixar as pessoas sem tratamento. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Se tiver pensamentos suicidas, ligue para o número 188 para entrar em contato com o CVV – Centro de Valorização da Vida ou acesse https://cvv.org.br/

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