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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Chá das 5 com Judy Garland

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Luciana Braga arrebata a crítica e o público do Teatro Vanucci encarnando Judy Garland, no centenário da estrela de Hollywood Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Pelo calendário, o centenário de Judy Garland já passou, no dia 10 de junho, mas, no coração da gente, não, nem no teatro carioca, que se alvoroça com o sucesso de crítica e de público do espetáculo que a atriz Luciana Braga e o autor Flávio Marinho encenam no Shopping da Gávea, em louvor à estrela dos Tijolos Amarelos de Oz. Está na reta final a temporada da peça "Judy - O Arco-Íris é Aqui", que vem arrebatando resenhistas e plateias com a potência de sua escrita e o vigor de sua protagonista. Neste fim de semana, no sábado e no domingo, as sessões dessa pérola no Teatro Vanucci terão um sabor de chá das cinco, pois serão às 17h. Nesta sexta, dia 29, a apresentação segue em seu curso normal, às 21h. Vai lá ver. É imperdível. Entre comentários sobre a caspa de Shirley Temple (1928-2014) e aforismos capazes de fazer tremer bigodes nietzschianos ("O amor nem sempre é o bastante"), "Judy - O Arco-Íris é Aqui" faz chorar até o mais empedernido dos corações no esmeril da saudade. Esmeril esse onde Flávio Marinho afia a navalha de uma obra que se torna cada vez mais sólida em sua contínua observação sobre a resignação, a resiliência e a resistência. A frase "Sempre tem um mas", dita aos 45 minutos da peça, assina a autoralidade desse dramaturgo. Seus textos sempre olham para instituições, sejam elas a família ("Irmãozinho Querido"), a arte ("Cauby, Uma Paixão") ou o dia a dia ("Abalou Bangu"), buscando senões. O "senão" na trajetória de Judy vem da desmesura, ora da própria menina que acalantou o mundo em "O Mágico de Oz" (1939), ora do viver, esse danado. Marinho bebe da fonte de Jean Anouilh (1910-1987), autor francês, a máxima de que: "Existe o amor, é fato; mas existe, a vida, sua inimiga". Essa é a Judy que Marinho nos dá, ao retomar uma parceria com a atriz de seu seminal "Um Caminho Para Dois" (2005). Uma atriz em erupção vulcânica que se chama Luciana Braga. O que os dois fazem não é mimese. Não é jogo de imitação. É sim, uma conversação com um mito do audiovisual. Conversação essa que desnuda imperativos, separando loba, rainha e mulher, desnudando a coroa e deixando exposta uma humanidade em seu estado mais cru. Na ouriversaria da palavra, Marinho monta um puzzle de biografia primoroso, conjugando fatos de maneira poética, sem didatismos, levando a plateia a acompanhar a ascensão e o ocaso de uma diva. Na ouriversaria da interpretação, Luciana faz uma inteligente imolação de si, empregando suas próprias vivências. Ela fala de seu devir Luciana, de seu percurso, de seus acertos, dos quebra-molas, das filhas, do Céu, da Lua e do ardor juvenil pelo ator Marcos Paulo (1951-2012), buscando uma identificação frontal com o público. É uma forma de mostrar que aquele espetáculo possui uma dimensão "vida de artista", com todas as suas durezas, todo o seu fel, toda a sua inconstância, mas todo o seu júbilo. Como se deu com Judy. E a peça ainda faz um potente inventário do simbolosmo de Judy para as lutas LGBTQIA+. Vale destacar a direção musical de Liliane Secco. Nesta segunda, Marinho lança no Rio, às 19h, no Restaurante La Fiorentina, um livro editado pela Imago com o texto da peça.

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