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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Festival Cabíria acende seu 'Fogaréu'

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Fernanda (Bárbara Colen) embarca numa jornada perigosa pelo ventre do agronegócio do Centro-Oeste em "Fogaréu": quinta no Cabíria - Foto: MPM PREMIUM/ Bananeira

RODRIGO FONSECA Achado da mostra Panorama da Berlinale 2022, "Fogaréu", de Flávia Neves, pede passagem na grade do Cabíria Festival, evento anual dedicado à representatividade de mulheres no setor audiovisual e à diversidade nas telas. Em sua quinta edição, a seleção de longas-metragens, curtas-metragens e debates terá programação presencial e online de 18 a 23 de julho. A Cinemateca Brasileira e a ESPM recebem as sessões de filmes e abriga encontros e atividades de formação (workshops e oficinas). Online, alguns títulos da curadoria podem ser vistos por meio das plataformas Spcine Play, além de programação em parceria com o canal Telecine e a plataforma digital MUBI, sob o patrocínio da Spcine. Vai ter homenagem este ano para a diretora e artista visual Everlane Moraes, conhecida por produções respeitadas como "Pattaki" (2019) e "Aurora" (2018). Na quinta, ela vai ministrar a aula "Navegações Estéticas", na Cinemateca, de 14h30 às 17h30. Na sequência, às 18h, haverá projeção do longa de Flávia. Experimento dramatúrgico no timbre do thriller. mas com alicerces etnográficos bem fincados, "Fogaréu" instigou debates políticos calorosos em Berlim. Realizadora estreante, Flávia Neves (diretora da série.doc "Amanajé, o Mensageiro do Futuro") assina a direção desse longa com a grife Bananeira Filmes (do adorado "O Palhaço"). Goiás explodiu nas telas berlinenses numa trama que assombra em sua habilidade de destrinchar desigualdades fundiárias do Centro-Oeste do Brasil, especialmente aquelas ligadas à pecuária, com uma selvagem exclusão da propriedade indígena. Capaz de provocar taquicardia, sua montagem, assinada por Will Domingos e Waldir Xavier (também responsável pelo desenho de som), pontua um ritmo nervoso, que vai crescendo cena a cena, minuto a minuto, dando a uma cartografia do coronelismo um clima de suspense quase hitchcockiano. Suspense capaz de favorecer situações que avançam pelo terreno do chamado "extraordinário", com chamas que brotam misteriosamente. Tudo é guiado pelo périplo de uma mulher, Fernanda (Bárbara Colen, de "Bacurau") que regressa à paisagem goiana, em tempos da Procissão do Fogaréu, um rito católico de capuzes, a fim de cobrar de seu tio, Antônio (Eucir de Souza, em uma arrebatadora composição), a verdade sobre sua mãe biológica. Pouco a pouco, atolada em tradições locais, ela passa a investigar a tendência local de casamento entre primos, conhecendo novas formas de se institucionalizar o medo - mas também de desafiá-lo. De forma inusitada, o roteiro enxuto, escrito por Flávia e Melanie Dimantas, dá ao espectador uma heroína, que Bárbara constrói sempre nas franjas da resiliência. Nada mais adequado a um festival da força do Cabíria.

Cartaz oficial do longa, que foi laureado na mostra Panorama da Berlinale com o prêmio do júri popular - Foto: Div. Bananeira/MPM PREMIUM

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Conectado com as ações do Cabíria, o www.mubi.com vai incluir em sua grade "A Felicidade das Coisas", de Thais Fujinaga, e "Transviar", de Maíra Tristão.

p.s.: Como se constrói um racista? Onde aprendemos a ser racistas? Dirigida por Rodrigo França, a peça "Para Meu Amigo Branco" leva à cena reflexões sobre o racismo estrutural brasileiro, a partir do dia 27 de julho, na Arena do Sesc Copacabana. Assinada por Rodrigo e Mery Delmond, a dramaturgia inédita é inspirada no livro homônimo do jornalista Manoel Soares e trata de um episódio de racismo entre crianças da escola. A menina Zuri, de 8 anos, é chamada pelo coleguinha de "negra fedorenta da cor de cocô". Ao solicitar explicação à escola, o pai da menina, Monsueto (Reinaldo Júnior, indicado ao Prêmio Shell de melhor ator em 2023), descobre que o racismo sofrido por sua filha estava sendo tratado como "coisa de criança", bullying. No elenco estão ainda Alex Nader, Stella Rodrigues e Mery Delmond."É um dos poucos espetáculos no país que coloca a branquitude nua. Normalmente, nós, pessoas pretas, somos colocadas como objeto, elemento de pesquisa, ou estamos falando para nós mesmos", analisa o diretor."Tudo que os pretos têm de positivo acaba sendo ofuscado pela agenda da dor. Essa agenda só vai deixar de existir se for dividida com as pessoas de pele clara", analisa Manoel Soares.

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