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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Juventude' volta às telas

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

RODRIGO FONSECA Um dos filmes mais subestimados dos últimos anos, dono de um vigor estético ímpar em seu visual e elenco, "Juventude" ("Youth"), do italiano Paolo Sorrentino, vai voltar às telonas do Rio a partir do dia 23 de novembro, na mostra em tributo à distribuidora Fênix, de Priscila Miranda do Rosário, no circuito Estação. Lançado em Cannes, em 2015, o filme ganhou lugar de honra na TV brasileira, em exibição na Rede Telecine. Sobra excelência em sua versão dublada, na qual se destaca o desempenho do veterano Pádua Moreira emprestando a voz ao mítico Michael Caine. O trabalho de Pádua é um dos mais surpreendentes exercícios de dublagem feitos no país nos últimos anos, sendo bem coadjuvando pelo exercício vocal da lenda Julio Chaves na boca de Havey Keitel. Esta produção de EUR12,3 milhões teve um faturamento de cerca de US$ 24 milhões nas bilheterias. E, até hoje, ao ser projetado, o filme amplia o rol de fãs de Sorrentino. Com razão.

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De uma doçura felliniana ao contextualizar as vicissitudes da "melhor idade" sob a ótica do companheirismo, "Juventude" é um espetáculo de leveza, que arranca da tela grande, a partir da fotografia de Luca Bigazzi, toda a potencialidade física (e até metafísica) oferecida por aquele retângulo no qual sonhos se traduzem em imagens. O cansaço orgânico e mesmo afetivo dos personagens se desenha nos planos do cineasta Paolo Sorrentino (do seminal "Il Divo") numa medida oposta, ou seja: com vigor jovial. Se seu monumental "A Grande Beleza" (2013) era o cinema da descrença e da ressaca, aqui Sorrentino nos entrega o cinema do encanto e da conciliação, mostrando que Caine pode ultrapassar as fronteiras do sublime quando está afim de atuar com o melhor de si.

Discussão sobre anemias emocionais e ideológicas expressa numa produção de 12,5 milhões de euros, "Juventude" põe Caine na pele do maestro Fred Ballinger e Harvey Keitel no papel do cineasta Mick Boyle. Fred não quer mais reger mais concerto algum. Mick, pelo contrário, ensaia a preparação de um filme sobre rugas emotivas. Os dois estão na casa dos 80 anos, curtindo as memórias e os impasses da idade em um hotel nos Alpes Suíços, enquadrado pela câmera de Sorrentino como uma espécie de paraíso. Ali, os dois terão a chance de rever o que sobrou: de tempo, de tesão, de fome de viver, de disposição para sonhar. Indicada ao Globo de Ouro pelo filme, Jane Fonda entra e sai e rapidinho de cena, no papel de Brenda Morel, uma estrela decadente que tem ataques de afetação.

Brenda quer abandonar o cinema para fazer TV, alegando que um papel na televisão pode lhe "custear uma casa em Miami". Neste momento no qual o cinema (aquele com "C" maiúsculo) briga pela defesa da excelência da imagem em tela grande, clamando por uma conciliação com outras plataformas de exibição alimentadas por "House of Cards" e "Game of Thrones", a discussão trazida por "Juventude" sintetiza um brado sobre o esplendor que só a dimensão agigantada do cinema consegue refletir. De quebra, num flerte com a tradição italiana de diretores como Luchino Visconti e Valerio Zurlini, Sorrentino usa a mulher como um signo de todas as revoluções e todas as essencialidades, sem medo da nudez e sem medo da sensualidade. É um filme que aquece o peito.

p.s.: "Aftersun", da escocesa Charlotte Wells, ganhou o troféu Bandeira Paulista no encerramento da Mostra de São Paulo.

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