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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Otávio Müller é a iguaria de 'O Clube dos Anjos'

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Otávio Müller brilha no elenco de "O Clube dos Anjos" Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Partindo do fato de que "Pérola", de Murilo Benício, é o longa de maior (e melhor) boca a boca de todo o Festival do Rio 2022 até agora, há toda uma leva de produções nacionais, fora da competição oficial, que disputa os holofotes do evento e o carinho do público, como é o caso do arrebatador "O Clube do Anjos", de Angelo Defanti. Passou em Gramado, em agosto, e, esta noite, pede passagem pelo circuito carioca, numa sessão, nesta segunda, 19h, no Estação NET Botafogo 1. Esbanjando elegância na direção de arte de Fernanda Carlucci, esta imersão na prosa de Luís Fernando Veríssimo consagra a potência estética da fotografia do mago da luz Rui Poças numa "narrativa de gabinete", centrada em uma série de jantares suntuosos, indo de paella a picadinho. Na trama, um grupo de velhos amigos remendam seus laços de amizade ao longo de nababescos banquetes proporcionados por um cozinheiro misterioso, vivido por um mefistofélico Matheus Nachtergaele. A comilança desse povo é regada a temperos mortais, testemunhadas, em fluxos de pensamento e imagens de VHS por um taciturno Otávio Müller. Seu desempenho gravita pelas veredas do assombro. Na entrevista a seguir, Otávio fala sobre o trabalho com Defanti nos sets de um longa primoroso.Há dez anos, Gorila te rendeu o troféu Redentor no Festival do Rio, abrindo pra ti um protagonismo no cinema que não havia antes. De que forma aquele filme mudou a sua trajetória profissional e o quanto esse regresso ao Festival do Rio, uma década depois dele, reflete novos momentos nas suas escolhas como ator? Otávio Müller: O meu DNA é do teatro e, nele, tem uma coisa que é muito significativa para mim, que é a gente sustentar histórias sem ter atravessador. É a gente direto para o público. De fato, no "Gorila", eu até falei isso para o José Eduardo Belmonte. Disse: "Zé, um dia, você precisa ter paciência para fazer teatro". O teatro é resiliência. O "Gorila" me bota em contato com o público. Aquele filme tem um parentesco de segundo grau com o teatro: ele é primo do monólogo. Um monólogo interior que me coloca na rota do cinema, da mesma forma que o Marco Ricca tinha me colocado nessa rota com o "Cabeça a Prêmio". E por aí vai. O "Clube dos Anjos" vem reafirmar essa força. Da mesma maneira que o teatro é um DNA pra mim, o filme "Gorila" é um DNA para o cinema.O que a dramaturgia filmada pelo Angelo Defanti, com base num romance de peso de Luís Fernando Veríssimo, traz como novos desafios pra sua composição de personagem? Otávio Müller: O Veríssimo é uma catedral que tem uma coisa fascinante: ele tem muito silêncio pessoalmente. Ele tem grandes pausas em sua escrita e acho que o cinema tem isso pra caramba. Tem pausa no cinema de maneira muito forte. Então, eu acho que é um aprofundamento com o humor e com o silêncio dessa enormidade enciclopédica que é o Veríssimo. O Defanti é um cara brilhante.O que aquela fina trupe de atores te ofereceu na troca de experiências? Otávio Müller: Ali tinha uma das coisas que acho fundamental na profissão do ator e algo que tem deveria existir em todas as profissões: a gente tem que aprender a se dar bem entre nós, criar um clima bacana de trabalho. Ali, no melhor sentido da palavra, é a tribo se reunindo e festejando. A gente tinha que ser domado pelo Angelo para poder parar de celebrar e fazer a cena. Como adoro contracenar, esse elenco é motivo de muita emoção. Eu admiro todos.O que vem por aí na sua relação com o cinema? Otávio Müller: A gente está retomando o cinema. Eu vou do projeto em que não preciso ganhar nada ao projeto com muita grana. O importante é o projeto, a equipe, quem está do lado, a turma. A gente precisa filmar e ocupar espaço, filmar... Gostou do projeto? Filma. Eu já falei isso várias vezes. Tem por vir o "Álbum de Família". Acabei de filmar com o João Jardim o longa "As Polacas", ao lado de um elenco maravilhoso. Jardim é de uma sensibilidade gigante. Vem mais coisa por aí...

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