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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Tem vaga no 'Edifício Master', via IMS

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Um dos moradores do Master solta a voz e mexe com o nosso coração ao cantar "My Way" - Fotos de divulgação - Crédito: @VideoFilmes  

RODRIGO FONSECA Domingão de portas abertas pra Eduardo Coutinho (1933-2014) no Instituto Moreira Salles. Às 18h, o IMS exibe o cult que dividiu águas na forma de a América Latina representar a vida íntima cotidiana nas telas "Edfício Master" (2002). Há 21 anos, o longa deu seu realizador o troféu Kikito de melhor .doc em Gramado. Cinco anos depois, o diretor voltaria lá para buscar uma honraria pelo conjunto de sua obra - o Kikito de Cristal - e exibir "Jogo de Cena" (2007). Chamar Coutinho de "o papa do documentário brasileiro" virou lugar-comum na crítica cinematográfica brasileira. Tal clichê requer uma discussão. Cineasta algum recebe "os votos" de sumo pontífice de um filão se não tiver desenvolvido uma gramática bastante personalista em sua seara narrativa. A força "gramatical" de um longa-metragem da grife Eduardo Coutinho vem da engenharia do encontro que ele vem polindo, filme a filme, desde que voltou a se expressar em tela grande, com o amparo da tecnologia digital. Consagrado com "Cabra Marcado Para Morrer" (1964/1984), Coutinho desenvolveu, a partir do fim dos anos 1990, uma arte audiovisual que tem na palavra o combustível para realizar uma decolagem rumo aos céus da invenção. A partir de frases arrancadas na espontaneidade de um processo que substitui a entrevista pela conversação, seus filmes permitem que o espectador construa uma relação de identificação com pessoas ligadas a universos que por vezes ele desconhece. Em um fluxo contínuo de busca por sentido, sem apelar para signos que possam fechar os ângulos potenciais de informação que uma imagem filmada é capaz de comunicar, ele faz do "deixa falar" seu processo de apreensão do outro. É no choque entre a lente do diretor e o verbo do outro que nasce sua linguagem. Nem sempre ela atinge toda a força que há em latência na proposta, como aconteceu com "Peões" (2004). Mas, via de regra, o humanismo é a argamassa que erige sua obra. E "Edifício Master" é a construção onde o cinema humanista de Coutinho parece estar mais sólido. Não que houvesse uma tese prévia, orientando sua imersão em um prédio de Copacabana. Havia era um contingente rico e diversificado de homens e mulheres com muito a dizer em um espaço geográfico - um prédio residencial - em que muitos se esbarram, mas pouquíssimo interagem.

Eduardo Coutinho foi laureado em Gramado com o Kikito de Cristal em 2007 - Foto de divulgação com crédito @MUBI  

Coutinho conseguiu fazer da privacidade uma caixa preta de humanidades (assim mesmo, no plural que traduz diferenças sociais, religiosas, étnicas e sexuais) a ser aberta na relação pessoal. No supracitado "Santo Forte", filme que devolveu o diretor ao panteão dos cineastas mais referenciais do país, ele cristalizou um método que renderia projetos posteriores e inspirou numerosos colegas. Mas nesse marco zero de sua cinematografia na Retomada, havia um tema conduzindo a pesquisa: religiosidade. Em "Edifício Máster", não. Havia uma multiplicidade de abordagens possíveis à disposição do cineasta, que jamais se limitou ao rasteiro "Como é viver em Copacabana?" em sua conversa com os moradores do edifício escolhido. Após um elaborado trabalho de pesquisa, Coutinho entrou, porta a porta, em 27 apartamentos buscando entender o que pudesse de cada uma das vidas ali residentes. Acabou com isso trançando um rosário de desilusões, expectativas, angústias, medos e alegrias que virou celebrizou um dispositivo cinematográfico único e, aparentemente simples: o deixar contar e o fazer ouvir. Essas duas locuções verbais têm inspirado gerações de realizadores no país a partir do lançamento do filme, em 2002, lá na Serra Gaúcha, no Palácio dos Festivais de Gramado. Laureado com uma menção honrosa em Havana, "Edifício Master" tem como charme maior algo que está na periferia de sua realização: o gato que passeia pelos corredores. Ele é uma comprovação do indomável da vida, aquela que circula pelos elevadores, pelos cantos, emn tudo o que sua câmera capta. Ali há cinema dos bons. De um lado, no IMS, temos um pilar das narrativas de não ficção numa sessão mais do que bem-vindo. Do outro, no Grupo Estação, teremos, esta semana, o nascimento de uma nova voz para engrossar o coro documental do país: Pedro Monteiro.

Cena de "Primeiro Ano" - Foto de Divulgação: Racca Comunicação  

No começo da pandemia da Covid-19, o ator e diretor, laureado há uma década no Cine PE por sua atuação em "Vendo Ou Alugo" (20130, viu todos os seus projetos profissionais serem cancelados ou paralisados de uma hora para outra. Na ocasião, Monteiro, pai recente de uma bebê de apenas seis meses, recebeu uma mensagem da sogra com a seguinte pergunta: "Você já parou para pensar como vai explicar para Pilar o que aconteceu no primeiro ano de vida dela?", indagava a jornalista e professora Andrea Estevão. Foi assim que surgiu a ideia do documentário "Primeiro Ano", com direção de Pedro, que estreia, dia 28 de março, com sessão gratuita, às 19h, no Estação Net Botafogo. A partir deste momento, já decidido a fazer um filme, ele começou a reunir muitas imagens da pequena Pilar, hoje com três anos, e a coletar depoimentos de profissionais de áreas diversas que pudessem falar para a criança sobre o seu primeiro ano de vida. Após uma única sessão no cinema, a obra vai ficar disponível no Youtube durante dois meses (https://youtu.be/-qUq0atj-ug). "Primeiro Ano" é patrocinado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Controllab por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei do ISS.

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