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Protesto paralisa Escola Livre de Santo André

Demissão de Edgar Castro, coordenador eleito por corpo de mestres, foi estopim do movimento de artistas

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Por Beth Néspoli

Atriz Leona Cavali e Edson Melo em protesto em Santo André. Foto: Lucas Duarte de Souza/Divulgação

 

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Na sexta passada, cerca de 300 artistas - entre eles as atrizes Maria Alice Vergueiro e Leona Cavalli, as diretoras Georgette Fadel e Cibele Forjaz e o ator Antonio Petrin - e ainda dezenas de aprendizes e mestres da Escola Livre de Teatro de Santo André fizeram uma passeata da Praça Rui Barbosa até o Paço Municipal para entregar um abaixoassinado ao secretário de Cultura Edson Salvo Melo.

 

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Era o início de um movimento de aprendizes e mestres da ELT pela preservação de um modelo pedagógico que consideram ameaçado. Entre outras coisas, pediam a transferência da coordenadora administrativa Eliana Gonçalves, nomeada no início do ano. Nomeação que, em nota enviada anteontem à imprensa, o secretário reafirma, mantendo o impasse entre o poder público e o corpo docente e discente da escola.

 

Criada há 19 anos, a Escola Livre de Santo André tem projeto pedagógico baseado num modelo de gestão participativa que se tornou referência nacional. Aprimorado ao longo dos anos por prestigiados criadores teatrais como a diretora Maria Thaís e o dramaturgo Luis Alberto de Abreu, esse modelo de gestão e criação artística funda-se na horizontalidade de funções - diferentes, mas não hierarquizadas. Todas as ‘disciplinas’ estão intrinsecamente ligadas num sistema de ensino multidisciplinar, senão berço, certamente principal incubadora do chamado processo colaborativo que além de render belas criações para a cena é tema de estudos, entre eles da tese de doutoramento defendida por Antonio Araújo, o premiado diretor do Teatro da Vertigem (O Livro de Jó, BR3).

 

Pois é esse modelo de gestão pedagógica que os manifestantes consideram ameaçado. Procurado pelo Estado, o secretaria de Cultura Edson Salvo Melo enviou uma nota à imprensa por meio de sua assessoria de comunicação. "Estamos preservando todo o processo pedagógico e artístico elaborado no decorrer das décadas de existência da Escola Livre de Teatro de Santo André, ressaltando que uma escola livre não pode estar subordinada a um modelo pedagógico específico, porque isso já pressupõe o seu enrijecimento. O processo artístico da criação deve ser livre para todas as abordagens pedagógicas: humanista, construtivista, tradicionalista, tecnicista, inclusive a democrática", argumenta num trecho da nota.

 

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O movimento pela preservação da ELT - assembleia permanente e atividades suspensas - teve como estopim a demissão, no dia 8, terça-feira, do coordenador pedagógico da ELT, Edgar Castro, há 11 anos na escola. Como os demais que ocuparam esse cargo, ele foi eleito pelo corpo de mestres. A responsável pelo ato de desligamento foi a professora Eliana Gonçalves, nomeada coordenadora administrativa da ELT no início do ano. "Foi só a gota d’água dentro de uma sequência de desencontros para os quais eu vinha tentando mediação desde a sua nomeação", diz Edgar Castro.

 

É prática na escola a tomada de decisões a partir da escuta do corpo de aprendizes realizada em assembleias mensais e dois fóruns anuais. "Quando a professora Eliana entrou, fizemos questão de redigir um longo documento sobre a escola como forma de acolhê-la. Mas desde sempre ela se mostrou arredia ao processo; não participava das assembleias e nem do Fórum, mesmo estando dentro da escola", diz Castro. "Há uma atitude que considero simbólica: a sala da coordenação era o local da reunião de mestres. Pois ela refez o espaço para transformá-lo em sala particular."

 

Contatada pelo Estado por meio de seu celular, Eliana Gonçalves atendeu na terceira ligação, mas se recusou a dar entrevista. Segundo ela, diante da situação "delicada", a ordem de não falar veio da secretaria de Cultura. Questionada se não seria importante falar, retrucou: "Para isso a gente tem assessoria de imprensa." Na nota à imprensa, o secretário Salvo Melo, em resposta ao documento que lhe foi entregue pelos manifestantes (leia na íntegra no blog do movimento) reitera, no primeiro item enumerado, a manutenção da coordenadora. "Eliana Gonçalves é uma profissional com carreira dedicada à pedagogia do ensino e às artes cênicas. Tem 35 anos de carreira artística e 28 de magistério, tendo recebido seu primeiro prêmio de direção teatral aos 17 anos."

 

Mas em outro trecho do documento admite equívocos. "Determinadas posições, principalmente em relação ao espaço físico, podem e serão reavaliadas em conjunto com os demais membros da comunidade ELT", escreve em outro trecho. "Conhecer o processo criativo que a ELT adota, contudo, é um caminho diário que deve ser trilhado para o profissional artista que pretende atuar dentro da escola. Por isso, concordamos com a comunidade que este conhecimento deve ser aprofundado e trabalhado para um melhor entrosamento e afinamento entre os alunos, a coordenação e os professores." Por enquanto , ao que tudo indica, o impasse continua.

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