PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Ave, Ava

Predestinada deusa, Ava Gardner nasceu no aniversário de Jesus, com 1922 anos de diferença

PUBLICIDADE

Foto do author Sérgio Augusto

Nascer ou morrer no Natal é complicado. Quem nasce tem sempre uma baita festa de aniversário coletiva na concorrência; quem morre estraga, involuntariamente, a celebração plena do natalício mais glorificado pela humanidade. Morrer, ainda que no dia seguinte, 25 de dezembro, nada ou pouco adianta; sempre irão dizer, por exemplo, que “Chaplin só morreu no Natal pra ter um final chaplinesco” ou que “Tristan Tzara só morreu no Natal pra épater a patota dadaísta.”

PUBLICIDADE

Predestinada deusa, Ava Gardner nasceu no aniversário de Jesus, com 1922 anos de diferença. No último fim de semana, brindamos ao seu inimaginável centenário. A atriz, morta aos 67 anos (por indelicada coincidência, justo no dia do meu aniversário), foi, quase por consenso, a mulher mais bonita do seu tempo. Sua formosura nem a idade nem a dipsomania e o tabagismo conseguiram destruir.

Vinicius de Moraes a conheceu, pessoalmente, ainda starlet, na casa de Carmen Miranda. “Você é muito linda”, balbuciou o cônsul-poeta. “Só por fora. Por dentro, sou horrenda”, respondeu-lhe a linda e mentirosa Ava.


Ava Gardner e Humphrey Bogart no filme 'A Condessa Descalça' Foto: MGM


Embora tenha encarnado Vênus e Pandora, seu auge, na tela, foi como a indomável Maria Vargas de A Condessa Descalça.

Publicidade

Outra coincidência natalina: Humphrey Bogart, seu partner naquele wellesiano filme de Joseph L. Mankiewicz, nasceu num 25 de dezembro, 23 anos antes de Ava. Poderiam ter festejado juntos os dois aniversários, on location, se as filmagens de A Condessa Descalça não tivessem ocorrido nos primeiros meses de 1954.

Como parte da promoção internacional do filme, Ava passou uns dias no Rio, onde ensandeceu os marmanjos locais e aprontou nos dois hotéis de luxo que a hospedaram. Escolhera o Copacabana Palace, deram-lhe o Glória, “uma espelunca que fedia a fumaça e tinha mais queimaduras de cigarro que a Carolina do Norte inteira”, escreveria mais tarde em sua autobiografia. Nela, dedicou escassas 24 linhas ao seu séjour carioca. Desmentiu que, dominada por furiosa decepção, quebrara móveis e utensílios do Glória - tudo, segundo ela, invencionice da gerência do hotel, de conluio com a imprensa sensacionalista.

Espalhou-se que ela, de porre, sequestrou para os seus aposentos o cantor Carlos Augusto, que, por não ser imbrochável, na hora H, deu chabu. O insosso crooner da orquestra do Copinha, no Golden Room do Copacabana Palace, revelou a um amigo ter sido ameaçado de morte caso abrisse o bico sobre a noitada com a atriz. Se por capangas a soldo de Frank Sinatra, nunca se soube. Como nunca se soube ao certo se o felizardo cantor afinal negou fogo.

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.