Série Grease: Rise of the Pink Ladies mostra a origem dos personagens do musical

Com dez episódios, série é situada em 1954, quatro anos antes dos eventos do filme de sucesso de 1978 estrelado por John Travolta e Olivia Newton-John

PUBLICIDADE

Por Elisabeth Vincentelli
Atualização:

The New York Times - Se você gosta de musicais, é provável que se às vezes pergunte: por que os fãs de ficção científica são os únicos a desfrutar de franquias em constante expansão?

PUBLICIDADE

“Conheço muitas pessoas que se divertem tanto com a Marvel e Star Wars e todas as histórias desses universos”, disse Annabel Oakes, roteirista e produtora de televisão (Atípico, Minx). “Sempre tive um pouco de inveja disso.

“Então, quando Grease surgiu como oportunidade para mim, percebi que Rydell High é um universo onde eu queria passar muito tempo vivendo e explorando”.

O resultado foi a série prequel de dez episódios Grease: Rise of the Pink Ladies, com estreia na quinta-feira, 6, no Paramount+ (Oakes é a criadora e showrunner). Situada em 1954, quatro anos antes dos eventos do filme de sucesso de 1978 estrelado por John Travolta e Olivia Newton-John e também disponível na Paramount+ - por sua vez, uma adaptação dos palcos de 1971 - Pink Ladies explora como um grupo de quatro párias de Rydell forjaram uma amizade e então se tornaram a gangue de garotas do título, ancestrais de Rizzo, Frenchy e as outras amadas Pink Ladies do filme.

Imagem com Ari Notartomaso (E), Tricia Fukuhara, Marisa Davila e Cheyenne Isabel Wells, na apresentação da série Grease: Rise of the Pink Ladies Foto: Ariel Fisher / NYT

Tanto o musical quanto o filme filtraram a década de 1950 pelo prisma dos anos 1970, oferecendo uma visão muitas vezes franca, engraçada e não sentimental sobre sexo, classe e gênero numa escola americana. A sequência do filme, Grease 2 (1982), enxergava o início dos anos 60 pelo início dos 80.

Pink Ladies também reflete seu tempo, oferecendo uma abordagem mais diversificada e autoconsciente dos anos 50. Assim como seus antecessores, a série abraça a exuberância colorida, mas também olha mais abertamente - e, às vezes, mais seriamente - para questões de amadurecimento como raça e orientação sexual.

“Queremos falar com 2023 e queremos falar com 1954 e queremos falar com 1978″, disse Oakes numa videochamada. “E queremos fazer tudo isso na música, nos roteiros, com as personagens. Estamos conversando com todos esses três períodos de tempo”.

Publicidade

Oakes é fã de Grease - certa vez, quando era criança, ela se vestiu como a líder de torcida Patty Simcox - então, quando, em fevereiro de 2020, a Paramount solicitou propostas para uma série ambientada no mundo do filme, ela começou a refletir sobre o que mais gostava na obra.

“Pensei naquela cena da festa do pijama com as meninas, cantando Look at Me, I’m Sandra Dee, e eu queria muito estar naquela festa do pijama”, disse ela. “Era isso que eu queria da vida quando era uma menina de dez anos”.

Crucialmente, essa cena se concentra não nas protagonistas do filme, mas nas Pink Ladies, um grupo de garotas independentes que se destacam das líderes de torcida e dos atletas, dos greasers e dos nerds, e são lideradas pela carismática e arrogante Rizzo de Stockard Channing. A resposta para essa personagem na série é Olivia (Cheyenne Isabel Wells), uma confiante aluna mexicano-americana que desfila pelos corredores de Rydell de saia justa.

“Depois de vestir aquela roupa, o cabelo, a maquiagem, eu estava pronta para arrasar na pele de Olivia”, disse Wells num bate-papo por vídeo. “Foi meio, ‘Ok, chegou a hora de ser cool’”.

PUBLICIDADE

A série aplica uma sensibilidade mais moderna a relacionamentos do que filmes como Gidget (1959), no qual uma adolescente interpretada por Sandra Dee de alguma forma se apega à sua inocência mesmo cercada por surfistas bonitões. Agora, não é apenas aceitável, mas recomendado retratar as moças abraçando sua sexualidade e também tendo uma certa liberdade de ação. No segundo episódio, os garotos põem droga no ponche e as futuras Pink Ladies retaliam misturando óleo de rícino na bebida deles.

“Vocês estão certo”, Olivia diz a eles, “não é engraçado colocar na bebida de uma pessoa alguma coisa que a faça sentir que perdeu o controle do corpo”.

Naturalmente, a trilha sonora tem um papel importante na hora de ajudar os espectadores a se situarem nas diferentes épocas. Além de uma versão atualizada da faixa-título do filme - um tema musical recorrente - as músicas navegam numa zona fluida que não é totalmente vintage, nem totalmente moderna. Para isso, Oakes trabalhou em estreita colaboração com a pessoa que fez a produção musical da série, Justin Tranter, que adora musicais desde a infância e é uma presença constante nos degraus superiores da Billboard Hot 100, com créditos de composição em sucessos de Justin Bieber, DNCE e Selena Gomez.

Publicidade

Tranter, que supervisionou e compôs em parceria os trinta números originais da série e usa pronomes de gênero neutros, inspirou-se nos filmes, que, como observou numa videochamada, tinham uma atitude relaxada em relação à autenticidade do período: as músicas do filme de 1978, disse, não se preocupavam em soar como dos anos 1950.

Grease is the Word é só uma música disco, não tem nostalgia”, disse Tranter. (A música, cujo título correto é Grease, foi interpretada por Frankie Valli, mas composta por Barry Gibb, dos Bee Gees). “No nosso arranjo, na verdade usamos mais instrumentação dos anos 50 do que o filme dos anos 70, de propósito” Tranter continuou, mas as canções também trazem floreios contemporâneos, como “o vocal um pouco mais moderno” ou a inclusão de “sub bass, ou 808s”, um tipo de bateria eletrônica.

“Então, tem um elemento moderno”, acrescentou Tranter, “assim como a Grease original”.

Assim como Oakes, as jovens atrizes que interpretam as Pinks, como todas se referiram a suas personagens em conversas de vídeo separadas, cresceram vendo Grease, então conheciam bem a premissa e o tom.

“É um filme que vem entrando e saindo da minha vida desde a infância”, disse Tricia Fukuhara, cuja personagem, Nancy, é uma estudante nipo-americana que quer se tornar estilista.

Wells disse que esperou até conseguir o papel para assistir ao filme de novo. Mas ela e Grease se conhecem há tempos.

“Eu já tinha visto isso antes,” ela esclareceu. “Quero dizer, quem não viu?”

Publicidade

Ari Notartomaso (E), Tricia Fukuhara, Cheyenne Isabel Wells e Marisa Davila no lançamento da série Grease: Rise of the Pink Ladies, em Nova York Foto: Ariel Fisher / NYT

No começo, o que parecia menos familiar era o cenário dos anos 1950. Mas a equipe criativa e o elenco logo perceberam que não era assim tão estranho quanto esperavam. Oakes chegou a entrevistar algumas das alunas do anuário dos anos 1950 de uma escola secundária do sul da Califórnia onde partes de Grease foram filmadas, agora na casa dos 80 anos. Ela perguntou à própria mãe sobre sua experiência. E também leu e descobriu que relacionamentos entre diferentes etnias não eram inéditos naquela época e lugar.

Seguindo o exemplo da showrunner, as atrizes que interpretam as Pink Ladies pesquisaram como foi crescer nas décadas de 1950 e 1960, especialmente para as meninas. Todas ficaram impressionadas com as coisas com que podiam se identificar.

“Conversei com uma mulher que não era assumida na década de 1950, mas estava ciente de sua sexualidade no ensino médio, o que foi realmente um grande benefício para mim, poder me comunicar e me conectar autenticamente com alguém que viveu essa experiência”, disse Ari Notartomaso, que interpreta Cynthia, que é gênero-diversa. “Há muito mais conexão entre as gerações do que nos dizem”. TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.