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Livro detalha a trajetória do Monty Python, grupo que revolucionou a comédia

Obra revela que, quanto mais anárquico, mais real é o humor do Monty Python

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Por Ubiratan Brasil
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Para onde vão os juízes da Suprema Corte quando se aposentam? Para um parquinho infantil, onde, de toga e peruca, disputam a gangorra e o escorregador. Enquanto isso, um rapaz que procura emprego em um Ministério descobre que precisa ter um andar idiota, caso contrário, não consegue a vaga. E o que dizer do homem que volta à loja de animais para reclamar que comprara um papagaio morto e é recebido pelo proprietário, que insiste em dizer que Polly (o bichinho) está apenas descansando? Finalmente, a história que entrou para a História: a do casal que vai a um restaurante frequentado por vikings e onde o único prato servido é carne enlatada de marca Spam, termo adotado daí pela linguagem universal da internet.

O grupo Monty Python se reuniu em 2014, mas sem Graham Chapman Foto: Paul Hackett/Reuters - 30/6/2014

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Essas são apenas algumas das inúmeras cenas humorísticas escritas pelo Monty Python, grupo formado por seis ingleses (bem, na verdade, um é gaulês e outro é um americano infiltrado) que renovaram o humor da TV britânica (e, por extensão, mundial) em 5 de outubro de 1969, quando foi ao ar o primeiro dos 45 episódios da série cômica Monty Python’s Flying Circus, programa de meia hora de duração com animações e piadas escrachadas que não perdoavam da política à filosofia, do marxismo ao esporte, do chá das 5 à morte. “Monty Python surge no momento mais louco do século 20, na cidade mais louca do mundo (Londres). Para revolucionar a loucura vigente, os Pythons tinham um ingrediente surpresa: a lucidez”, escreve o humorista Gregório Duvivier no prólogo de Monty Python - Uma Autobiografia Escrita por Monty Python, agora lançada no Brasil pela Realejo Livros.

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Trata-se de um livro originalmente editado em 2003 e organizado por Bob McCabe, que costurou depoimentos de Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin, Terry Jones (o galês) e Terry Gilliam (o americano ilustrador) para contar a origem de cada um até que os rumos se cruzassem, especialmente quando eram universitários, dividindo-se entre Oxford e Cambridge. Sim, foi no ambiente de faculdades que esses estudantes de História, Medicina e Direito exercitaram seu talento para o humor, criando esquetes apresentados em peças universitárias que, de tão engraçados, convenceram cada um a buscar a carreira de comediante.

Nessa época, anos 1960, o melhor caminho era o rádio, mas a BBC, emissora pública que também tem canais de TV, pretendia renovar sua faixa humorística. Interessavam quadros como o BBC A.C., criado por Cleese no qual Idle apresentava a previsão do tempo: “Uma peste deve surgir sobre as terras do Egito, seguida de enchentes, sapos e a morte de todos os primogênitos. Sinto muito, Egito”. Um primeiro caminho foi o programa de David Frost, que abria as portas para comediantes talentosos e que permitiu que todos se exercitassem. A partir daí, os futuros Pythons foram se unindo até que Jones, Palin e Idle, que escreviam o programa Não Sintonize Sua TV, foram chamados por Cleese, que fazia ao lado de Chapman Finalmente o Show de 1948, para criar um novo produto, o Flying Circus.

Se o talento era um detalhe comum do sexteto, as diferentes personalidades ajudavam a enriquecer o material. Afinal, enquanto Cleesse era metódico, capaz de discutir horas sobre a colocação de uma vírgula, Chapman (que morreu em 1989) era o mais instável, mas, por isso mesmo, o mais sensível. Idle sempre foi fascinado por personagens de falas complicadas e Jones não esconde sua preferência pelo elemento surreal fantasioso. Já Gilliam revolucionou o grupo com seus cartoons anárquicos e inventivos, enquanto Palin era o “comediante dos comediantes”.

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O Monty Python logo inaugurou um modelo de humor, que inspirou tanto programas como Saturday Night Live nos EUA como o Casseta & Planeta Urgente!, no Brasil. Quadros como a Dança dos Tapas com os Peixes ou a Lumberjack Song, canção em que um barbeiro homicida sonha em ser um lenhador, tornaram-se referências obrigatórias. Os Pythons passaram a ser venerados, até mesmo pelos Beatles que, segundo conta Palin, tinham as sessões de música interrompidas a pedido de Paul McCartney no momento em que o programa era transmitido para que todos pudessem ver. “Que surreal, os Beatles interessados em nós!”, comenta. Da TV, o grupo foi para o cinema, realizando poucos mas originais filmes - ao menos um deles se tornou um clássico, Em Busca do Cálice Sagrado

Aos poucos, o sucesso retumbante começou a incomodar alguns integrantes, que ironicamente viam nisso uma traição à sua essência. “A partir do momento em que o Python é percebido como uma lenda a ser celebrada, o humor que formou o Python voa pela janela, porque viramos vítimas dos nossos próprios ataques”, observa Palin. De fato, o grupo se desfez em 1983, logo após o filme O Sentido da Vida. Cada um seguiu uma trajetória, mas todos com um DNA comum. Novamente Palin explica: “O Python explorou todos os territórios possíveis, atirou em todas as direções, foi produto de seis roteiristas e atores, e da sensação de liberdade. Um episódio qualquer ou um filme tem de tudo. O Python sobreviveu porque é ligeiro, desloca-se rápido entre as ideias”.

Monty Python - Uma Autobiografia Escrita por Monty Python Foto: Editora Realejo

LANÇAMENTO:Monty Python - Uma Autobiografia Escrita por Monty Python Organizador: Bob McCabe Tradução: Stephanie  Fernandes Editora: Realejo (432 págs., R$ 69,90)

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