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Um mosaico da arte mundial no Lincoln Center

Por Agencia Estado
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Uma brilhante idéia que surpreendeu o mercado editorial americano deste ano. A desconhecida escritora Tracy Chevalier, apaixonada pela tela Garota com um Brinco de Pérola, do pintor Jan Vermeer (1632-1675), decide criar uma história fictícia para a musa do mestre holandês. A garota de pele alvíssima se transforma em Griet, modelo pobre e adolescente que também é a empregada do ateliê do artista. Da noite para o dia, o livro Girl with a Pearl Earring se transforma num dos primeiros best sellers de 2000. Agora o trabalho de Tracy ganha um complemento: a ópera Writing to Vermeer (Escrevendo para Vermeer), uma parceria entre o cineasta inglês Peter Greenaway (que também assina o libreto) e a diretora teatral holandesa Saskia Boddeke, musicado pelo compositor holandês Louis Andriessen. O libreto desta ópera multimídia é baseado nas 18 cartas que Greenaway escreveu para Vermeer - como se o cineasta fosse a esposa, a sogra e a musa (Saskia) do holandês -, a partir de 1985, quando o primeiro se tornou obcecado pela obra do artista ao rodar o filme Zoo - Um Z & Dois Zeros. Writing to Vermeer, que já foi apresentada na Holanda e Austrália, ganha sua première americana dentro do Lincoln Center Festival 2000, um painel de 108 performances artísticas de todos os cantos do mundo capaz de deixar o público resfolegante só de olhar o catálogo do evento. Durante três semanas, de 11 a 30 de julho, os vários prédios do complexo do Lincoln Center e outros espaços da cidade servirão de sede para espetáculos de dança, teatro, ópera, música, vídeo e também um show circense. Peter Greenaway promete ser a maior atração. Além de Writing to Vermeer, o inglês terá uma retrospectiva completa de todos os seus filmes, inclusive o último pronto, 8 1/2 Women, que entrou em cartaz nos EUA na última sexta. Afogando em Números; O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante; e O Bebê Santo de Mâcon, entre outros filmes desse cineasta que brevemente irá dirigir Madonna, Isabella Rossellini e Kathy Bates em The Pulse Luper Trilogy, serão mostrados num evento prévio, dos dias 5 a 12 de julho, no espaço Makor (35 West da rua 67, entre as avenidas Columbus e Central Park West). O festival de verão do Lincoln Center tem o seu pontapé inicial com o espetáculo Filao, do grupo circense francês La Compagnie des Colporteurs. Depois da nouvelle cuisine, a França agora surge com o Nouveau Cirque. E Filao, o segundo espetáculo deste grupo, mistura circo, teatro e jazz para contar uma história baseada no livro O Barão nas Árvores, do escritor italiano Italo Calvino. O nobre do espetáculo, o barão de Rondó, é um rebelde que sobe às àrvores e delas nunca mais desce por 50 anos. Filao será exibido de 11 até o dia 26 (sem espetáculos nos dias 13, 18 e 23), sempre às 19h, na tenda do Damrosch Park, no Central Park. A maior representatividade do Lincoln Center Festival 2000, entretanto, são os espetáculos de dança. Cinco ao todo. O coreógrafo belga Win Vandekeybus e o grupo de flamenco Ultima Vez apresentam nos dias 11, 13 e 14, o espetáculo Spite of Wishing and Wanting. A performance, que tem música composta especialmente por David Byrne, foi criada para exibir várias facetas da psiquê masculina. Recentemente, os dez dançarinos do Ultima Vez colocaram o ânimo do público londrino à prova, ao passarem metade da montagem de Spite gritando, além de ficarem pelados no palco imitando cachorros. Bill T. Jones e a companhia Arnie Zane Dance apresentam a coreografia You Walk?, criada sob encomenda para o Festival de Bologna deste ano. O tema que Jones precisava desenvolver era "a radiância da cultura Latino-mediterrânea no Novo Mundo". Para atingir tal objetivo, Jones criou um espetáculo que abre com uma canção zambiana, passa pelo fado português, uma ópera barroca dos jesuístas italianos, canções de prisão do Texas, composições de Mozart e encerra com o minimalismo de John Cage. You Walk? será apresentado nos dias 19, 21 e 22. No dia 20, Jones faz única apresentação de seu trabalho solo, The Breathing Show. Dividido em três partes, Jones abre seu espetáculo com Ghostcatching, um filme com os movimentos do coreógrafo transpostos para a tela via efeitos computadorizados. TB Arranged (A Ser Arranjado) é a segunda parte da apresentação, na qual o público escolhe a composição para uma improvisação de Jones. O show encerra-se com Our Garden, coreografia onde ele canta e dança, usando a jardinagem como metáfora. Da França, a companhia da coreógrafa Mathilde Monnier surge com Pour Antigone, performance em conjunto com dançarinos do Mali e Burkina-Faso para ilustrar o mito grego de Antígona, a deusa da desobediência, na África moderna. Pour Antigone será apresentado nos dias 26, 28 e 28. Os espetáculos de Mathilde, Jones e Vandekeybus ocupam o espaço LaGuardia Concert Hall (dentro do complexo do Lincoln Center). Já o New York State Theater, também no Lincoln Center, é palco da nova turnê do Balé Bolshoi e da companhia Alvin Ailey American Dance Theater. O Balé Bolshoi se apresenta com dois programas. No primeiro (dias 18, 22 e 23), a companhia russa comandada pelo diretor Vladimir Vasiliev mostra Giselle. O segundo programa (dias 19, 20 e 21), com o corpo feminino do balé, faz o espetáculo Kingdom of the Shades, com coreografias de Spartacus, de Kachaturian; e La Bayadère, de Bizet. Judith Jameson, a coreógrafa que completou dez anos como diretora-artística da companhia Alvin Ailey também apresenta dois programas dentro do festival. Grace, que teve sua première no ano passado, é uma colagem de coreografias ao som de músicas inspiracionais de Duke Elligton, Roy Davis Jr., Paul Johnson e o cantor africano Fela Kuti. Esta parte está sendo apresentada nos dias 25, 28, 29 e 30. O programa dois, a tradicional Blues Suite, criada por Ailey, e também Revelations, acontece nos dias 26, 27 e 29. Composições do músico francês Olivier Messian serão apresentadas em três performances diferentes, sempre no Avery Fisher Hall. A Filarmônica de Nova York interpreta no dia 11, Éclairs Sur L´Au-Delà, último trabalho para orquestra que Messian terminou e que movimenta 128 músicos. No dia 18, a vez da Sociedade de Música de Câmera do Lincoln Center apresenta Des Canyons aux Étoiles, que o francês compôs numa homenagem à paisagem natural do Bruce Canyon, em Utah. Fechando o ciclo, no dia 21, a Filarmônica de NY recria Turangalîla-Symphonie composta em 1948. Turangalîla é uma palavra em sânscrito que o compositor traduzia como "canção de amor, hino à alegria, tempo, movimento, ritmo, vida e morte". A última vez em que a Filarmônica apresentou este trabalho foi em 1988, na ocasião do 80o. aniversário de Messian, morto em 92. Algumas das músicas de Messian também estão presentes no programa Electronic Evolution, uma série de cinco apresentações que traça perfil do gênero musical difundido em seu começo por Varèse, Xenakis, Stockhausen e John Cage. Outro ritmo musical presente no festival é a música caribenha, a ser interpretada, em vários espetáculos, por Foula Vodoule, San José Serenaders e os músicos creoles Kali, Beethova Obas e Chris Combette. O trabalho da artista performática Meredith Monk é representado em três espetáculos distintos: Solo Landscapes, Expeditions in Concert e Monk Perspectives. À americana também foi reservado um dia para a exibição de seus filmes experimentais como Ellis Island, Book of Days e uma seleção de seus curtas. Por fim, a programação teatral, reúne o melhor dos palcos russos. Da companhia Maly, de São Petersburgo, chega Brothers and Sisters, uma adaptação da novela épica de Fyodor Abramov, escrita em 1958, sobre camponeses de um vilarejo russo vivendo tempos de privação durante a guerra. Ao todo, são 40 atores no palco se apresentando em dois espetáculos (em dias diferentes) com três horas de duração cada. Da companhia Vakhtangov, de Moscou, será encenado Innocent as Charged, texto de Alexander Ostrosvky. A parte teatral ainda inclui uma peça inédita da dramaturga americana Rebecca Gilman, Spinning at Butter. Maiores informações sobre o festival podem ser encontradas na página do Lincoln Center na rede: www.lincolncenter.org.

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