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Brasil exporta tecnologia genética até para onde o nelore é sagrado

País envia sêmen e embriões para Índia, nação em que as melhores técnicas de bovinocultura ajudam a desenvolver rebanhos

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

A Índia tem o segundo maior rebanho bovino do mundo, com quase 200 milhões de cabeças, atrás apenas do Brasil, com 234 milhões de bois. Para o hinduísmo, religião seguida por 80% da população do país, a vaca é sagrada e, também, criada com as melhores técnicas por especialistas em bovinocultura. O gado nelore, base da pecuária brasileira, é de origem indiana e surgiu naquele país há mais de 2 mil anos. Com todo esse perfil, a Índia está entre as dezenas de países que importam genética bovina do Brasil.

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De importador de sêmen, embriões, sementes e tecnologias para diversos cultivos, o produtor brasileiro vai se tornando cada vez mais exportador desses insumos. Assim, além de celeiro do mundo na produção de grãos, o Brasil se torna referência em genética animal e vegetal. Mesmo as grandes máquinas agrícolas desenvolvidas no exterior cumprem “estágio” em nossos campos, são adaptadas para culturas tropicais e ganham atributos que são depois exportados.

Com investimentos em pesquisa e tecnologia, o mercado de genética bovina brasileira vem se expandindo no exterior. A Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) registrou um crescimento de 13% nas exportações de sêmen bovino de aptidão para corte no primeiro semestre deste ano, em comparação com igual período do ano passado. O Index Asbia é elaborado pelo Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea/USP)

Conforme Cristiano Botelho, executivo da Asbia, os principais destinos da genética bovina de corte são os países vizinhos, como Bolívia, Paraguai e Colômbia – este último grande importador também de nossa genética de leite.

Nelore é a raça de bovinos mais presentes no Brasil Foto: Werther Santana / Estadão

“Esse despertar de interesse internacional por nossa bovinocultura de corte deixa uma mensagem de que as raças tropicais que predominam no Brasil, como o nelore, têm evoluído de forma extremamente positiva, demonstrando, de forma gradativa, grande potencial para produção de carne em quantidade e qualidade, colaborando com o objetivo de alimentar o mundo”, disse.

Valorização

O projeto Brazilian Cattle, executado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), atua fortemente na difusão da genética bovina brasileira no exterior. Desde 2003, a parceria facilita o processo de abertura e consolidação de mercados para empresas da nossa cadeia pecuária.

De janeiro a outubro deste ano, apenas no âmbito do projeto, foram exportados US$ 3 milhões (por volta de R$ 14,7 milhões) em sêmen bovino e embriões, sobretudo para países da América do Sul – os maiores volumes foram para Paraguai, Colômbia, Bolívia e Equador – e da América Central – Costa Rica, Panamá e Guatemala. Houve exportações também para países da Ásia, como a Índia, de forte tradição em bovinocultura, além de Paquistão, Sri Lanka e Malásia, e da África, como Angola e Ruanda.

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No ano passado, o volume exportado atingiu US$ 4 milhões (R$ 19,6 milhões). Recentemente, o projeto conseguiu a abertura do Panamá para o sêmen e embriões do rebanho nacional. Entre as empresas que tiveram as habilitações renovadas estão a ABS Pecplan, Central Bela Vista e Seleon. Já as novas habilitações foram concedidas para a Embryo Plus, Genética Boa Fé, Origem Embrio, Zebu Embryo, Laboratório Zebu Embryo e Progen (Alta Genetics). A consultora do Brazilian Cattle, Izabelle Jardim, lembrou que o Brasil é referência mundial em genética zebuína. “Este resultado com o Panamá demonstra que as empresas de genética apoiadas pelo Brazilian Cattle estão na vanguarda das exportações, possuindo capacidade técnica e sanitária para exportar material genético com confiabilidade e qualidade”, disse.

Conforme o presidente da ABCZ, Gabriel Garcia Cid, a expectativa é de que, com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária, as exportações sejam consideravelmente ampliadas com o aumento das empresas exportadoras. “Hoje fazemos o caminho inverso: de importador de bovinos, passamos a exportar genética superior. Isso graças ao nosso material genético de qualidade e confiabilidade”, disse.

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