O ciclo de aperto monetário iniciado em abril pelo Banco Central para conter os efeitos da combinação de demanda doméstica aquecida e choque das commodities sobre a inflação já começou a surtir resultados. "A boa notícia é que o processo está funcionando e já estamos vendo os sinais de que a inflação está convergindo para o centro da meta", afirmou o presidente da autoridade monetária, Henrique Meirelles, durante palestra nesta sexta-feira. Veja também: Entenda os principais índices De olho na inflação, preço por preço IGP-M cai 0,32% em agosto, primeira deflação desde 2006 Alimentos têm maior queda desde julho de 2006, aponta FGV Mercado reduz estimativa de inflação de 2008 para 6,34% Para o presidente do BC, compete aos especialistas analisar todos os indicadores existentes, como os núcleos da inflação, para que não se configure um episódio de disseminação de alta dos preços no País. Meirelles ressaltou que o consumo das famílias tem crescido de forma mais estável do que no passado, ainda que esteja num patamar elevado. "O mais importante é que não temos aquela volatilidade vista no passado", comentou. O objetivo do BC é trazer a inflação de volta ao centro da meta, de 4,5%, já em 2009. Segundo Meirelles, a ação do BC contribuiu para que o Brasil tivesse um desempenho melhor do que a média internacional diante de uma conjunção perigosa de economia interna aquecida, crise de crédito nos Estados Unidos e repique nos preços das matérias-primas. "Os Estados Unidos pegaram uma gripe e nós, apenas um resfriado. O Brasil está sendo considerado um país de maior resistência", acrescentou. A meta de inflação para 2008, 2009 e 2010 é de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza a política de metas do governo, subiu 0,53% em julho, mas acumula em 12 meses um avanço de 6,37%. De acordo com a última pesquisa do BC com instituições financeiras, a expectativa de inflação para 2008 está em 6,34%, bem próxima do teto da meta, de 6,5%. Para 2009, no entanto, a expectativa está em 5 por cento. Nos próximos dias 9 e 10 de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne para definir a nova taxa básica de juro, hoje em 13%. Alta das commodities Meirelles disse que a análise da inflação atualmente é mais difícil porque ela contém fatores domésticos e internacionais. "Há dois fenômenos acontecendo hoje: a economia brasileira está muito aquecida, com a demanda doméstica muito aquecida, e há uma alta muito grande dos preços da commodities", afirmou durante aula magna ministrada para alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade Mackenzie. Para Meirelles, a conjugação deste dois pontos torna a análise mais complicada porque é preciso lidar com dois problemas ao mesmo tempo. "Mas felizmente o governo brasileiro está tomando as medidas adequadas. Segundo ele, o Brasil vive hoje um momento favorável, pois a economia está estabilizada. Isso, de acordo com o presidente do BC, ocorre não só por conta da inflação controlada, mas também porque a parte fiscal está apresentando resultados melhores. Emprego e renda Ainda durante a aula magna, o presidente do BC lembrou que na segunda metade dos anos 90 o Brasil chegou a registrar encolhimento do número de vagas de postos de trabalho, mas que recentemente a criação de empregos no País aproxima-se dos 2 milhões. "A massa salarial real está crescendo acima da inflação. Isso significa que a população está ganhando mais", disse, atribuindo a este comportamento o aumento das vendas do varejo da ordem de 10% ao ano, em termos reais, nos últimos anos. Meirelles mencionou ainda que a produção industrial do País passou a crescer de forma importante a partir de 2003, e que todos esses fatores juntos aumentam o nível de empregabilidade brasileira. Meirelles ressaltou ainda a expansão, num ritmo elevado, da produção de bens de capitais. Isso, segundo ele, demonstra que os empresários acreditam na continuidade do crescimento do País. "Além disso, o investimento está crescendo mais que o PIB, o que significa que o Brasil está investindo em seu futuro", avaliou. O presidente do BC citou ainda a melhora na distribuição de renda, com uma forte migração da população para a classe média, e enfatizou que a política de acúmulo e reservas internacionais tornou o País menos vulnerável externamente e credor líquido. "O Brasil está tendo a possibilidade de experimentar algo que boa parte do mundo já tinha experimentado antes", afirmou.
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