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Jornalista

Opinião|Sem populismo fiscal com a tragédia no Rio Grande do Sul

As regras fiscais brasileiras são maleáveis o suficiente para que não faltem recursos para ajudar as vítimas e para a reconstrução do Estado quando a água baixar

Atualização:

Na tarde desta segunda-feira, 6, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou em ato político a assinatura do projeto de decreto legislativo de estado de calamidade pública do Rio Grande do Sul.

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Ele posou para fotos ao lado de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, de Arthur Lira, presidente da Câmara, com o ministro do Supremo Edson Fachin na mesma mesa.

Lira decidiu votar o projeto no mesmo dia. É parte do esforço de mostrar que os Poderes estão unidos para enfrentar a catástrofe — como deve ser em situações extremas.

Só que as decisões políticas difíceis começam a partir de agora. Ninguém tem dúvida que o Rio Grande do Sul enfrenta um drama sem precedentes, com mais de 80 mortos, centenas de municípios destruídos e racionamento de água até em Porto Alegre.

Ao lados dos presidentes da Câmara e do Senado, Lula assinou reconhecimento de calamidade pública no Rio Grande do Sul, o que agiliza liberação de recursos Foto: Wilton Junior / Estadão

O que não significa que é preciso fazer populismo fiscal com a tragédia. As regras fiscais brasileiras são maleáveis o suficiente para que não faltem recursos para ajudar as vítimas e para a reconstrução quando a água baixar.

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Pelos planos da equipe econômica, depois de decretar a calamidade pública, virá uma medida provisória abrindo crédito extraordinário num valor ainda impossível de calcular.

A ideia é emitir uma MP, mas talvez seja preciso fazer várias conforme as demandas surgirem. As enchentes no Sul preenchem perfeitamente o critério do crédito extraordinário, já que se trata de uma despesa inesperada e urgente.

Porém, como a folga fiscal brasileira foi há muito comprometida com emendas e reajuste de funcionários públicos, vai ser necessário alterar a meta fiscal. E qual caminho o governo e o Congresso vão escolher?

Uma “PEC de guerra”, que suspende as regras fiscais do País, abrindo espaço para todo tipo de gasto extra em ano eleitoral? Ou um projeto que altere a lei de diretrizes orçamentárias deixando de fora da meta apenas as despesas extras com o Rio Grande do Sul?

A coluna consultou quatro diferentes especialistas em política fiscal, entre eles dois ex-secretários do Tesouro. Todos são unânimes em afirmar que é melhor ir pela segunda opção. A “PEC de guerra” é um risco alto de que as coisas saiam de controle num momento de baixa credibilidade do arcabouço fiscal do ministro Fernando Haddad.

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As pressões, no entanto, são imensas. Quase ao mesmo tempo em que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, dava entrevista refutando a ideia da PEC, o PT soltava uma nota dizendo exatamente o contrário. O partido do governo defendeu a mudança constitucional “da mesma forma que ocorreu durante a pandemia da covid-19″. E acrescentou: “Situações excepcionais exigem respostas excepcionais”.

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E não dá nem para argumentar que Tebet é do MDB e distante do núcleo petista. Ela estava ladeada por dois petistas históricos e da “cozinha” do Planalto enquanto falava: Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais, e Jorge Messias, Advogado-Geral da União (AGU).

Mais tarde, na reunião de líderes da Câmara, Lira transmitia aos deputados os pedidos do governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB): uma PEC de regime extraordinário de contratações (que permite licitações públicas sem tanta burocracia), um projeto de lei para suspensão do pagamento da dívida e prioridade para liberação de R$ 500 milhões para a bancada gaúcha.

Faz sentido neste momento suspender a dívida dos gaúchos e priorizar suas emendas, mas uma PEC ficaria restrita às licitações públicas? Lira tem pressa e quer deixar a “polarização de lado” para ajudar os gaúchos. De novo, é meritório, mas dá para fazer tudo isso sem populismo fiscal.

Opinião por Raquel Landim
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