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BC mantém Selic em 13,75%, critica risco fiscal e diz que taxa pode ficar nesse nível por mais tempo

Ao justificar a decisão, Copom afirma que expectativas de inflação subiram recentemente dada incerteza acima da usual e que não ‘hesitará' em subir os juros de novo caso a inflação não ceda

Foto do author Thaís Barcellos
Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Thaís Barcellos (Broadcast) e Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - Entre o rápido aumento das expectativas de inflação e as críticas do governo ao choque de juros, o Banco Central escolheu seguir o plano de voo e manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela quarta vez seguida no Comitê de Política Monetária (Copom). Assim, o órgão optou por manter os juros básicos no maior nível desde janeiro de 2017.

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A primeira decisão do BC no novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva era consenso no mercado diante da estratégia anunciada pelo Copom de estabilidade da taxa neste patamar por um período “suficientemente prolongado”. Conforme pesquisa do Projeções Broadcast, todas as 50 instituições financeiras consultadas esperavam a estabilidade dos juros básicos em 13,75% ao ano.

No comunicado sobre a decisão, os diretores do BC incluíram um parágrafo com um tom de alerta sobre a incerteza fiscal admitindo que há um custo maior para que a inflação caia. “A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária”, afirmou o colegiado.

O Copom admitiu que a alta das expectativas pode forçar a manutenção da taxa básica de juros por um período mais longo que o projetado. “O Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação”.

Mais uma vez, o colegiado reforçou que irá perseverar nessa estratégia até que não apenas ocorra a desinflação esperada, mas também que se consolide a ancoragem das expectativas em torno das metas. O BC alertou que as projeções “têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião”, em dezembro do ano passado.

O Copom enfatizou novamente que os próximos passos da política monetária poderão ser ajustados e repetiu que não hesitará em retomar o ciclo de alta na Selic caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

BC na mira do governo Lula

Apesar da autonomia formal do Banco Central, que mantém a mesma composição na diretoria do órgão, o órgão entrou na mira do governo. Além das críticas do presidente e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aos juros elevados, houve também questionamento de Lula à necessidade da independência na lei e ao nível da meta de inflação.

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Somados aos temores com a sustentabilidade fiscal, após a expansão de gastos de R$ 145 bilhões aprovada na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, as cutucadas do governo no BC provocaram um forte desvio das expectativas de inflação para 2023 e 2024, mas também para prazos mais longos, de 2025 e 2026, fora do horizonte relevante do Copom.

Esta é a primeira decisão do Copom durante o novo governo Lula. Presidente e ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já fizeram críticas aos juros elevados Foto: Adriana Machado/Reuters - 12/01/2023

No último Boletim Focus, a estimativa era de 5,74% para 2023, acima do teto da meta de 4,75%, o que aponta para três anos seguidos de descumprimento pelo BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022.

Para 2024, a previsão de mercado é de 3,90%, mais alta do que o alvo central de 3,00%, mas aquém do limite superior de 4,50%. Para 2025 e 2026, a projeção estava em 3,50%. A meta para 2025 é de 3,00% e, para 2026, o objetivo inflacionário ainda não foi definido.

Expectativas de inflação elevadas são uma espécie de “inflação contratada”, segundo economistas, o que pode impor ao BC a necessidade de manter a Selic no patamar alto por um período maior ou até mesmo elevar a taxa.

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E juros básicos altos refletem no encarecimento do crédito e influenciam negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos. Além disso, investidores buscam retornos reais em suas aplicações financeiras, ou seja, já descontada a taxa de inflação esperada no horizonte de investimento. Expectativas de inflação mais alta fazem os investidores exigirem taxas de juros maiores, impactando o custo de captação de empresas e do governo.

Juro real

Mesmo com a estabilidade da taxa Selic pela quarta reunião consecutiva, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 7,38% ao ano.

Em segundo lugar na lista que considera as economias mais relevantes, aparece o México (5,53%), seguido do Chile (4,71%). A média dos 40 países avaliados é de -2,07%.

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