Publicidade

Banco Central encerra maior ciclo de alta dos juros em 23 anos às vésperas da eleição

Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano em reunião realizada nesta quarta-feira, mas com placar dividido

Foto do author Thaís Barcellos
Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Thaís Barcellos (Broadcast) e Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - Mesmo com as expectativas de inflação ainda num patamar alto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, encerrando o mais longo ciclo de alta de juros de sua história.

PUBLICIDADE

A taxa, ainda assim, é a maior desde janeiro de 2017. Foram 12 altas consecutivas neste processo de aperto monetário, com um aumento acumulado de 11,75 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999. O ciclo foi iniciado em março de 2021, quando os juros básicos estavam na mínima histórica de 2% ao ano.

A decisão do Copom não foi unânime. Segundo o comunicado divulgado pelo Banco Central, sete dos nove membros do comitê votaram pela manutenção de 13,75% – os outros dois votaram por uma “elevação residual” de 0,25 ponto percentual, o que jogaria a Selic para 14% ao ano. Trata-se da primeira decisão sem unanimidade dos membros do Copom em mais de seis anos. A última decisão dividida foi em março de 2016.

O colegiado ainda deixou a porta aberta para voltar a subir a taxa. “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, diz o comunicado.

O aumento de juros é considerado uma medida impopular. A última vez que ocorreu um aumento da Selic durante a campanha ao Palácio do Planalto foi em 2002, ano da primeira vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O então candidato do governo, José Serra (PSDB), perdeu aquela eleição.

Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano e encerra o mais longo ciclo de alta de juros de sua história às vésperas da eleição Foto: Dida Sampaio/Estadão

Mesmo com a estabilidade da taxa Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,22% ao ano. Em segundo lugar na lista que considera economias mais relevantes, aparece o México (5,13%), seguido da Colômbia (3,86%). A média dos 40 países avaliados é de -1,69%.

O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem de seis a nove meses entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito. A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos. Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.

Publicidade

Para o economista-chefe da XP, Caio Megale, o BC só deve iniciar o ciclo de cortes da Selic no segundo semestre do próximo ano. Ele avalia que a taxa deve terminar 2023 “em torno de 10%”. Para Megale, ao dizer que não vai hesitar em subir novamente os juros caso a inflação não entre na trajetória esperada, a instituição deu um recado “bem duro” ao mercado. “É como se ele dissesse ‘não quero que o mercado se anime e coloque corte de juros no ano que vem’”, avaliou.

Chefe da área de estratégia da Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein também avalia que o Copom trouxe uma mensagem dura no comunicado. “O BC não quer que o mercado entenda o fim do ciclo de alta como início dos cortes no curto prazo”, afirmou.

O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, ressalta que o Copom não apenas sinalizou que vai manter os juros em níveis elevados por período prolongado como alertou que não vai hesitar em retomar o ciclo de alta caso não ocorra um processo de desinflação da economia. “Os próprios votos dissidentes devem ser vistos como sinalização do compromisso do BC de entregar a inflação na meta”, afirma.

Combate à inflação

O Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação para calibrar os juros básicos. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC a reduz. A disparada dos preços esteve intimamente ligada à disparada da inflação em 2021 e 2022.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Para 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. As estimativas de inflação para este e o próximo ano continuam muito acima do teto da meta, mesmo com a desaceleração dos preços. O BC já indicou que só prevê voltar à meta em 2024.

A decisão desta quarta-feira, 21, era esperada pela maior parte do mercado financeiro. De 50 instituições financeiras consultadas pelo serviço Projeções Broadcast, 41 esperavam estabilidade, enquanto 9 previam avanço de 0,25 ponto porcentual, para 14%.

No encontro de agosto, o BC indicou que o plano de voo era manutenção dos juros em patamar significativamente contracionista após o aumento da Selic naquela reunião, mas que iria avaliar a necessidade de um ajuste residual, de 0,25 ponto porcentual este mês.

Publicidade

Críticas de Paulo Guedes

Na segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o BC errou as projeções econômicas por não perceber uma “mudança no eixo”. “O BC também errou projeções, mas com erro técnico, de pessoal mais sofisticado. O BC errou por não perceber que mudamos o eixo da economia. O BC errou ao falar o tempo todo em risco fiscal, desajuste fiscal, quando íamos para superávit. O BC estava preocupado com o fiscal e eu com o juro negativo”, disse.

No cenário internacional, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, aumentou nesta quarta-feira as taxas de juros do país para uma faixa de 3% a 3,25% – uma alta de 0,75 ponto percentual. É a quinta elevação neste ano, levando a taxa básica de juros dos EUA ao seu maior patamar desde 2008, pouco antes de o país passar por sua maior crise desde a quebra das bolsas em 1929. / COLABORARAM DENISE ABARCA E ANTONIO PEREZ

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.