Bernard Looney, CEO da gigante britânica de energia BP, renunciou ao cargo depois de admitir que não foi “totalmente transparente” nas suas revelações sobre relacionamentos anteriores com colegas, informou a empresa na terça-feira, 12.
Looney, 53, assumiu a posição em fevereiro de 2020. Ele está deixando o cargo com efeito imediato e será substituído pelo diretor financeiro Murray Auchincloss interinamente, afirma a BP.
Um comunicado da empresa disse que seu conselho analisou alegações relacionadas à conduta de Looney “no que diz respeito aos relacionamentos pessoais com colegas da empresa” em maio de 2022. O executivo revelou um pequeno número de relacionamentos passados antes de se tornar CEO e nenhuma violação das regras da empresa foi encontrada, diz o comunicado.
Mas a empresa recebeu recentemente novas alegações semelhantes e iniciou outra investigação. A declaração afirma que Looney “agora aceita que não foi totalmente transparente em suas divulgações anteriores”.
“A empresa tem valores fortes e o conselho espera que todos na empresa se comportem de acordo com esses valores. Espera-se que todos os líderes, em particular, atuem como modelos e exerçam o bom senso de uma forma que ganhe a confiança dos outros”, acrescenta.
A BP diz que ainda não foram tomadas decisões sobre quaisquer pagamentos de remuneração a serem feitos a Looney. Ele recebeu 10,03 milhões de libras (cerca de R$ 61,8 milhões) em salários, bônus e outros benefícios em 2022 – mais do que dobrando seu pacote de pagamento em relação ao ano anterior.
Looney passou toda a sua carreira na BP, tendo ingressado como engenheiro em 1991. Depois de assumir a liderança da produção de petróleo e gás, ele substituiu o ex-CEO Bob Dudley no início de 2020.
O executivo liderou a empresa durante a pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, que causaram perturbações nos mercados de energia. A guerra, no entanto, também levou os lucros das empresas de energia a níveis recorde, à medida que os preços do petróleo e do gás natural disparavam, causando protestos enquanto uma crise do custo de vida, impulsionada pelas elevadas contas de energia, apertava os consumidores.
Looney também enfrentou uma pressão crescente para acelerar a transição da BP para as energias renováveis, à medida que a Organização das Nações Unidas (ONU), cientistas e ativistas emitiam avisos cada vez mais terríveis sobre as mudanças climáticas.
Logo depois de se tornar CEO, Looney estabeleceu a meta de atingir emissões líquidas zero até 2050 - em linha com as metas então adotadas pelo governo do Reino Unido. Ele também prometeu aumentar o valor investido pela BP em projetos de baixo carbono em dez vezes até 2030, recebendo elogios do grupo ambientalista Greenpeace.
Mas a BP foi criticada neste ano, quando a empresa divulgou lucros anuais recorde de US$ 27,7 bilhões e diluiu os planos para reduzir a produção de petróleo e gás no curto prazo.
A conduta pessoal de altos executivos está sob crescente escrutínio desde que as alegações de abuso sexual contra o produtor de cinema Harvey Weinstein desencadearam o movimento “Me Too” em 2017.
Jess Staley, ex-CEO do Barclays, foi demitido em 2021 em meio a preocupações sobre seus laços com o falecido agressor sexual Jeffrey Epstein. Jeff Shell, CEO da empresa de mídia norte-americana NBCUniversal, deixou o cargo este ano depois de admitir um relacionamento inadequado com uma mulher na empresa. / AP