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Brasil ganha 4 posições no Índice de Competividade de Talentos, mas ainda ocupa 69º lugar no ranking

Apesar da melhora registrada nos pilares “capacitar” e “crescer”, País vai mal no quesito “atrair” talentos e se mantém no pelotão intermediário do levantamento, produzido pela escola francesa de negócios Insead

Foto do author José Fucs
Por José Fucs
Atualização:

O Brasil vem tendo um desempenho sofrível nos rankings internacionais que avaliam a competitividade econômica, nos quais costuma figurar na “zona de rebaixamento”, mas está conseguindo melhorar sua posição, ainda que de forma lenta e gradual, numa área que deverá se tornar mais importante do que já é para um país ser competitivo na arena global – a capacidade de formar, atrair e reter talentos.

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Em 2023, reforçando uma tendência observada nos últimos três anos, o Brasil ganhou mais quatro posições no Índice Global de Competitividade de Talentos (GTCI, na sigla em inglês), passando da 73ª posição da lista, que inclui 134 países, para a 69ª. Desde 2020, quando ocupava o 80º lugar, o País já subiu 11posições no ranking, que é produzido desde 2013 pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Empresas), uma das principais escolas de negócios do mundo, com sede em Fontainebleau, na França, e filiais em Cingapura, Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) e São Francisco (EUA).

Nas primeiras edições do estudo, entre 2013 e 2015-16, quando o Insead produziu uma só pesquisa para englobar os dois anos, o Brasil chegou até a estar melhor colocado na lista, ficando em 59º, 49º e 67º lugares, respectivamente. Na época, porém, segundo o brasileiro Felipe Monteiro, corresponsável pelo levantamento e professor associado sênior de estratégia na escola francesa, a amostra tinha de trinta a quarenta países a menos, o que compromete a comparação com os rankings seguintes. Considerando apenas os resultados de 2017 para cá, que envolvem um número de participantes mais próximo do atual, o País ocupa agora sua melhor posição na lista, elaborada principalmente com dados de 2022.

O Brasil, é certo, ainda faz parte do pelotão intermediário do ranking, que inclui países que estão relativamente estagnados ou têm um progresso moroso no índice, e está longe, bem longe, da “comissão de frente”, liderada pela Suíça, por Cingapura e pelos Estados Unidos, nesta ordem. Mas, de acordo com Monteiro, o Brasil pode passar em breve para a categoria dos chamados “fomentadores”, que reúne os países que estão avançando de forma consistente na área, se mantiver a mesma performance nos próximos anos.

O País ainda tem um desempenho ruim nos pilares de atração de talentos, no qual ocupa a 88ª posição, principalmente devido à baixa capacidade de atrair profissionais do exterior, e de qualificação técnica e profissional, no qual está em 74º lugar. Mas vai melhor no pilar “crescer”, em que ocupa a 60º colocação, em razão do acesso a oportunidades de crescimento profissional e ao alto uso das redes sociais virtuais pessoais e profissionais. E vai bem também no pilar “capacitar”, em que está agora na 61º posição, em decorrência da melhoria do ambiente de mercado nos últimos anos e da infraestrutura de comunicação e informação.

“Acredito que, para ser um dos principais polos de atração global de talentos, o Brasil tem de fazer com que a vida do estrangeiro seja mais fácil e com que ele se sinta seguro”, afirmou Monteiro ao Estadão. “Às vezes a gente pensa na questão da segurança só para brasileiro, mas ela tem um impacto considerável na capacidade de um país ser um lugar atrativo para os talentos globais.”

Entre os pontos fortes do Brasil no ranking, estão a infraestrutura de comunicação e informação e o uso das redes sociais virtuais Foto: Helvio Romero/Estadão

Quando se leva em conta apenas a América Latina e o Caribe, o Brasil ganhou duas posições, entre os 19 países da região, passando do 9º para o 7º lugar do ranking, mas ainda está atrás do Chile, que lidera a lista (34º colocado na classificação geral), do Uruguai (43º), da Costa Rica (47º), de Trinidad e Tobago (60º), da Argentina (61º) e da Jamaica (66º).

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‘Caráter insular’

Na visão de Monteiro, a Argentina aparece na frente do Brasil, apesar da crise econômica, da disparada da inflação e de ter um ambiente de negócios muito pior, especialmente pela sua maior capacidade de atrair talentos do exterior. “O Brasil ainda tem caráter insular, é muito voltado para dentro”, afirma. Segundo ele, há também uma defasagem de tempo até que a deterioração da economia argentina se reflita de forma plena no índice.

Entre os países mais bem colocados, a lista permaneceu praticamente inalterada neste ano. Os europeus, além de Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Emirados Árabes Unidos e Israel continuaram a ocupar as primeiras 25 posições. O destaque negativo ficou para o Japão, que perdeu seu lugar no grupo para a Coreia do Sul.

Nas dez edições da pesquisa, a China, que ocupa hoje a 40º posição do ranking, deixou de ser uma “promotora” de talentos para se tornar uma das campeãs, enquanto a Indonésia foi um dos países que tiveram os maiores ganhos em competitividade de talentos no período. O México, apesar do ligeiro recuo ocorrido nos últimos três anos, deixou de ser um “retardatário”, como o Brasil, para se tornar um fomentador de talentos.

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De acordo com Monteiro, para o Brasil dar um salto no ranking e se tornar competitivo na formação, atração e retenção de talentos, tem de trabalhar nos diferentes aspectos envolvidos na questão. “Não adianta um país melhorar muitíssimo de hoje para amanhã a capacidade de atrair talentos se não for capaz de retê-los. Não adiante de hoje para amanhã melhorar muitíssimo o ambiente de negócios se não tiver políticas para atrair talentos de fora”, diz. “Se a gente acredita que talento vai ser cada mais relevante para os países serem competitivos globalmente, mais do que foi até agora; se a gente acredita que existe de fato uma disputa global por talentos, que sempre existiu e vai se acentuar cada vez mais com a entrada de novos e grandes players emergentes no jogo, é importante que o Brasil tenha uma política de Estado, que trabalhe nas diferentes dimensões de competitividade de talento, para alcançar uma posição de destaque neste campo.”

Em sua avaliação, as mudanças tecnológicas vão exigir novas qualificações e favorecer os países emergentes, que “não têm herança” para administrar, enquanto nos países desenvolvidos há todo um trabalho de recondicionamento a ser feito junto aos trabalhadores. “Para mim esperança para o Brasil está aí”, afirma.

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