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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|Copom: por que a divergência sobre tamanho do corte nos juros?

Nossa avaliação é que o comportamento das expectativas vai definir a trajetória da Selic até o final de 2024

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Em uma decisão controversa, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic em 0,25 pontos de porcentagem em sua última reunião, desrespeitando o forward guidance da reunião anterior, que indicava uma redução de 0,5 p.p. O que gerou apreensão foi o placar dividido, 5 a 4 a favor de 0,25 p.p., com os quatro votos a favor de uma redução de 0,5 p.p. dados por membros indicados pelo atual governo. Coincidência ou não, o fato foi interpretado como a antecipação de uma política monetária mais expansionista e menos direcionada a perseguir a meta a partir do final de 2024, quando a composição do Comitê terá maioria de membros indicados pela atual administração.

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O comunicado foi bastante duro, indicando que o ambiente externo permanece adverso, as incertezas aumentaram, no cenário interno a atividade econômica e o mercado de trabalho estão se mostrando mais resilientes que o esperado e que as expectativas para a inflação passaram de “parcialmente ancoradas” para “desancoradas”.

Apesar de não mencionar as mudanças das metas fiscais, indicou que “acompanhou com atenção os desenvolvimentos recentes da política fiscal” e reafirma que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e a redução dos prêmios de risco, impactando a política monetária”.

A reação dos investidores foi imediata, expectativas para a inflação em alta, desvalorização do Real e queda dos preços das ações.

Copom reduziu taxa de juros em 0,25 ponto percentual, mas parte do comitê votou por diminuição de 0,5 p.p. Foto: DIDA SAMPAIO / ESTADÃO

A ata da reunião indicou que houve consenso sobre a deterioração dos cenários interno e externo, o que justificaria uma política monetária mais contracionista. Em especial, o Comitê se mostrou preocupado com a desancoragem das expectativas para a inflação no médio prazo.

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Dado o consenso, por que a divergência? Segundo a ata, os dirigentes que votaram por -0,5 p.p. o fizeram para respeitar o forward guidance e preservar a credibilidade do instrumento. Uma justificativa pouco convincente, dado que o presidente do Banco Central já havia descartado o forward guidance publicamente. Não é um bom presságio para a política monetária.

Nossa avaliação é que o comportamento das expectativas vai definir a trajetória da Selic até o final de 2024. Caso permaneçam desancoradas, o que é o mais provável, o ciclo de queda da Selic deve ter sido encerrado na reunião da semana passada. A ausência de forward guidance no comunicado e na ata apoia esta avaliação.

Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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