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Camil descarta risco de desabastecimento de arroz, mas vê cenário incerto para preço

Receio de uma eventual escassez de arroz no País cresceu após as fortes enchentes atingirem o Rio Grande do Sul; Estado é responsável por 70% da produção nacional do grão

Foto do author Isadora Duarte
Por Isadora Duarte (Broadcast)
Atualização:

A Camil Alimentos, maior fabricante de arroz do País, descarta risco de desabastecimento do cereal no mercado interno. O receio de uma eventual escassez de arroz no País cresceu após as fortes enchentes que atingem o Rio Grande do Sul desde a última semana. O Estado é responsável por 70% da produção nacional do grão e deve reportar perdas em lavouras não colhidas do cereal e em grãos armazenados em silos. “Não há risco de desabastecimento estrutural do mercado. O fornecimento ao varejo segue normalizado”, ressaltou o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da empresa, Flávio Vargas, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro para comentar os resultados financeiros da empresa do ano fiscal de 2023. O arroz é o principal produto comercializado pela empresa, que atua também em feijão, café, açúcar, massas, pescados e biscoitos.

Vargas explicou que aproximadamente 85% da safra de arroz do Estado já estava colhida antes das fortes chuvas, com a produção concentrada na indústria ou nos armazéns de produtores. “Saberemos o impacto que, de fato, houve em volume perdido quando essas chuvas terminarem, mas nossa avaliação preliminar é de baixo impacto do fenômeno climático na produção de arroz gaúcha em virtude da colheita avançada”, pontuou o executivo. O Estado é a principal origem do arroz processado pela fabricante.

Supermercados estão limitando a quantidade de arroz comercializado por cliente devido as enchentes no Rio Grande do Sul Foto: Taba Benedicto/Estadão

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Para o diretor da Camil, a dinâmica de mercado neste ano já apontava para menor exportação do cereal. “Considerando o que temos de estoque de passagem, haverá disponibilidade adequada de cereal ao mercado doméstico. Não vemos mudança grande em relação a isso, mas se houvesse risco de desabastecimento maior, o País tem acesso ao mercado internacional de arroz, podendo importar da Tailândia e outros países”, explicou. “Não vai faltar arroz para consumir e colocar na mesa do brasileiro”, refutou.

Segundo o executivo, neste momento, há um movimento do consumidor semelhante ao que ocorreu na pandemia com consumidores adquirindo cereal em volume superior ao seu padrão de consumo usual. “Isso gera a percepção de desabastecimento, quando estruturalmente não vai faltar arroz no ano. O volume de arroz produzido no Brasil somado ao acesso ao mercado internacional garante a disponibilidade de consumo”, antecipou Vargas.

De acordo com Vargas, há uma dificuldade de abastecimento do arroz gaúcho no curto prazo, em virtude das questões logísticas de escoamento. “Conseguimos atender o varejo do Nordeste pelo arroz importado ou pelo Porto de Rio Grande. Atendemos ao mercado de São Paulo através da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, região de Itaqui. O maior desafio de atendimento ao varejo é na região ao norte de Porto Alegre, por conta de rodovias bloqueadas”, citou. Uma das alternativas em estudo na empresa para garantir o fornecimento normal ao varejo é atender o mercado paulista por cabotagem, com arroz saindo do Porto de Rio Grande em rotas diretas a São Paulo, apesar do encarecimento do custo e do maior tempo da operação. “Estudamos também entregar cargas em contêineres para manter acesso à distribuição, garantir a logística e tirar a percepção de desabastecimento”, acrescentou Vargas.

Quanto aos impactos no mercado da decisão do governo de importar até 1 milhão de toneladas de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Vargas considera que é preciso aguardar os editais finais com detalhamento da operação para avaliar os efeitos e eventual arrefecimento da potencial alta de preços do produto. A eventual redução da alíquota de importação para arroz de origens de fora do Mercosul, hoje de 10% a 12%, poderia ter reflexo maior nos preços do produto que no cenário de fornecimento, segundo o executivo. “No abastecimento, independente da questão tributária há capacidade de originação seja no Brasil, na América do Sul ou em outros mercados. A redução da alíquota traria impacto em preço em virtude de importação de arroz tailandês, por exemplo, que chegaria em menor preço e em maior competitividade ao mercado doméstico”, explicou. “Neste momento, é difícil auferir se há necessidade de medidas exógenas por parte do governo porque o cenário é nebuloso quanto ao impacto das chuvas no arroz e eventual efeito na inflação”, apontou.

Para Vargas, a conjuntura atual de preços do cereal é incerta, apesar da tendência de preços mais sustentados. “Tanto produtores quanto indústria têm tido muita cautela para não haver especulação de preço. Há poucos negócios girando no momento para poder determinar o preço de equilíbrio hoje no mercado, o preço no curto, médio e longo prazo”, ponderou. Antes da tragédia climática, a companhia apostava em preços firmes do grão pelo menos até a entrada da safra atual 2023/24 no mercado, o que agora pode se estender quando confirmado o tamanho das perdas no território gaúcho.

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