BRASÍLIA - Enquanto o Congresso debate a criação de um teto de juros para o rotativo do cartão de crédito, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, confirmou nesta quinta-feira, 10, que a modalidade deve deixar de existir. Como antecipou o Estadão/Broadcast, Campos Neto destacou que o grupo de trabalho — formado pelo BC, governo e bancos — deve encaminhar nos próximos 90 dias uma solução para o fim do rotativo.
“Sem rotativo, a fatura não paga iria direto para o parcelado, com juros ao redor de 9% (ao mês, ou cerca de 180% ao ano). Deve ser anunciado nas próximas semanas”, afirmou, em arguição pública no plenário do Senado. “Deveríamos ter feito antes medidas para solucionar rotativo”, admitiu.
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Atualmente, conforme dados do Banco Central de junho, a média dos juros no rotativo, os maiores do mercado, é de 437,3% ao ano; já no parcelado com juros, é de 196,1% ao ano.
Segundo Campos Neto, ele conversou com o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), autor da Medida Provisória do Desenrola, projeto no qual a discussão sobre o rotativo foi apensada, e há um prazo de 90 dias para a solução ser encaminhada.
Além do fim do rotativo, Campos Neto disse que deve ter algum tipo de tarifa para desincentivar o parcelado sem juros tão longos. Hoje, segundo ele, a média é de 13 parcelas.
“Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que fique um pouco mais disciplinado, de forma bem faseada, para não afetar o consumo. Hoje, o pagamento em cartão representa 40% do consumo”, disse. “Outra alternativa seria simplesmente limitar os juros, mas as instituições simplesmente iriam cortar o número de cartões.”
Campos Neto destacou que o limite semelhante de juros de cheque especial atingiu o objetivo da medida. “Reconheço que o juro do cartão de crédito é um grande problema. O parcelado sem juros ajuda a atividade, mas tem aumentado muito as parcelas”, avaliou.
“Com exceção da China, nenhum outro país teve aumento tão grande em cartões como o Brasil”, acrescentou. Ele ainda falou sobre a inadimplência no rotativo, de cerca de 50%. “Não tem em nenhum outro lugar do mundo inadimplência próxima disso.”
Gasto público
O presidente do Banco Central reconheceu que o Brasil tem feito um esforço fiscal, mas afirmou que o gasto real do governo brasileiro ainda é muito superior ao da média mundial.
“O Brasil gasta mais, em termos reais, comparado com outros países. Isso ajuda um pouco a explicar essa ‘desancoragem gêmea’. Eu digo que vou baixar a inflação e o mercado não acredita, e o governo diz que fará um fiscal melhor e o mercado também não acredita”, afirmou ele, no Senado.
Para Campos Neto, com as medidas de receitas propostas pelo governo para ancorar melhor o fiscal, o BC também conseguirá uma reancoragem melhor das expectativas de inflação. “Para atingir a meta (de primário), precisamos de bastante receita. À medida que as receitas forem entrando, acredito que teremos não só uma convergência fiscal, com uma convergência monetária”, completou.
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