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Caso Theranos: Depoimento de Elizabeth Holmes termina após sete dias

Julgamento começou há quatro meses; agora, advogados de ambos os lados devem concordar com um conjunto de instruções do júri antes de apresentarem seus argumentos finais, que começarão em 16 de dezembro

Por Erin Griffith
Atualização:

SAN JOSÉ, Califórnia — Durou menos de três semanas, focou-se no depoimento de uma pessoa e abrangeu temas como projeções financeiras, jatos particulares, documentos falsificados e abuso por parte do ex-namorado e parceiro de negócios.

Na quarta-feira, os advogados de Elizabeth Holmes, a fundadora da empresa que prometia detectar doenças com exames de sangue, a Theranos, concluíram a defesa dela em seu julgamento por fraude. Ela foi a última testemunha e, depois de passar sete dias depondo, encerrou seu depoimento abruptamente depois do seguinte questionamento de Robert Leach, o procurador-adjunto à frente do caso.

Elizabeth Holmes depõesobre a acusação de fraude no caso Theranos; depoimento durou sete dias Foto: David Paul Morris/Bloomberg - 10/12/2021

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“Você entende que eles tinham direito a respostas verdadeiras a respeito das capacidades da Theranos?”, perguntou Leach, referindo-se aos investidores e pacientes da empresa, que estão no meio das acusações de fraude.

“Claro”, disse Elizabeth.

O fim de sua defesa marcou a última fase de um julgamento que durou quase quatro meses e atraiu a atenção pública como um referendo em relação à cultura de startups do Vale do Silício. Elizabeth, 37 anos, enfrenta 11 acusações de fraude relacionadas a alegações que ela fez a investidores e pacientes a respeito da Theranos, que decretou falência após um escândalo em 2018.

Agora, os advogados de ambos os lados devem concordar com um conjunto de instruções do júri antes de apresentarem seus argumentos finais, que começarão em 16 de dezembro. Depois, o júri iniciará as deliberações para um veredicto do caso, que ganhou destaque porque poucos executivos de tecnologia enfrentam acusações de fraude criminal.

Neama Rahmani, ex-promotor federal e presidente da West Coast Trial Lawyers, disse que o ritmo do julgamento de Elizabeth foi lento. Não é comum esperar mais de uma semana entre o final dos depoimentos e o início das argumentações finais, disse ele.

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“É um dos julgamentos mais lentos de que já ouvi falar”, afirmou.

O depoimento de Elizabeth resumiu-se em sua maior parte na própria defesa. Durante sete dias, ela culpou outras pessoas pelo fracasso da Theranos e sua tecnologia de exame de sangue. Ela disse que suas palavras foram mal interpretadas e que acreditava que os mecanismos da Theranos funcionavam. Elizabeth disse que ocultou certas informações sobre a empresa porque eram segredos comerciais. E focou em Ramesh Balwani, seu ex-namorado e parceiro de negócios, que ela disse ser responsável por projeções financeiras exageradas e problemas no laboratório da Theranos.

Balwani, que é conhecido como Sunny e é quase duas décadas mais velho que ela, também era controlador e abusivo, segundo o depoimento de Elizabeth. Ele determinava sua agenda, dieta, como ela devia se comportar e quem ela poderia ver, afirmou. Ele também a forçou a fazer sexo com ele, de acordo com Elizabeth.

Quando questionada sobre como isso afetou o trabalho dela na Theranos, Elizabeth disse que era difícil separar onde a influência dele começava e terminava. Nos documentos legais entregues antes do início do julgamento, Balwani negou veementemente as alegações de abuso.

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Mas Elizabeth também reconheceu ter cometido erros. Ela disse que se arrependia de ter adicionado os logotipos das empresas farmacêuticas aos relatórios com informações da Theranos que ela havia enviado aos investidores, o que os levou a acreditar que aquelas empresas haviam endossado a tecnologia da Theranos. Elizabeth disse que também se arrependia da maneira como lidou com uma denúncia do Wall Street Journal com detetives particulares e ofensivas jurídicas contra ex-funcionários que falaram com a imprensa. E ela disse que havia permitido que informações incorretas fossem divulgadas em uma matéria positiva a seu respeito na revista Fortune.

Elizabeth concluiu uma parte de seu depoimento com um discurso sobre suas intenções ao falar da Theranos para investidores, pacientes e imprensa.

“Eu queria transmitir a força dela”, disse. “Queria falar sobre o que esta empresa poderia fazer em um ano, cinco anos, e daqui a 10 anos. Eles não estavam interessados em hoje ou amanhã ou no próximo mês, eles estavam interessados em que tipo de mudança poderíamos fazer.”

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Tudo tinha como objetivo apoiar o principal argumento da defesa, conforme indicado nas declarações iniciais feitas em setembro. Elizabeth, de acordo com seus advogados, cometeu erros. Mas seus erros não eram um crime. Ela era ingênua e ambiciosa, eles argumentaram, mas nunca teve a intenção de ludibriar.

“A Theranos não via os erros como crimes, eles eram considerados como parte do caminho para o sucesso”, disse Lance Wade, um dos advogados de Elizabeth, em sua declaração inicial.

Nas reperguntas, os promotores tentaram pôr abaixo as desculpas de Elizabeth. Eles salientaram que a Theranos compartilhou muitos outros segredos comerciais com seus parceiros, que assinaram acordos de confidencialidade. Chamou-se a atenção para as ocasiões em que Elizabeth permitiu que informações falsas e incorretas sobre a Theranos fossem divulgadas para investidores e pacientes.

Anteriormente, no julgamento, durante o depoimento das 29 testemunhas chamadas pelos promotores, os advogados de Elizabeth tentaram apontar falhas e criar confusão em torno dos fatos do caso. Atacaram a credibilidade dos investidores, tentando mostrar que eles deveriam ter se empenhado mais na pesquisa sobre a Theranos antes de investirem para entender os riscos e as informações da empresa. E tentaram argumentar que os pacientes que disseram em seus depoimentos terem recebido resultados preocupantes de exames de sangue da Theranos não estavam aptos para interpretá-los. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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