PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A alta do bitcoin e os bancos centrais

Escalada revela maior familiaridades dos investidores com a economia tokenizada, mas projetos de criação de CBDCs esbarram em burocracias e questões políticas

Foto do author Celso Ming

Nesta quarta-feira, o presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, avisou que a maior economia do mundo está longe de ter uma moeda digital própria, CBDC, na sigla em inglês.

PUBLICIDADE

A decisão vai na contramão de decisões do Grupo dos 20 e de outras autoridades monetárias que insistem em que sejam desenvolvidos projetos de moeda soberana digital.

Enquanto isso, o bitcoin, principal criptomoeda do mercado, acaba de passar por novo rali de valorização que chegou a atingir os US$ 73 mil – algo em torno de R$ 364 mil por unidade, alta de 132% em um ano, o que revela enorme pressão de demanda.

Entre os fatores que levaram esse criptoativo a bater recordes de preço está a aprovação, no início deste ano, de negociação nas bolsas de valores de fundos (ETFs) aplicados em bitcoin no mercado à vista. Outra força para essa crescente, como aponta Denise Cinelli, gerente da corretora CryptoMKT, tem a ver com a expectativa de cortes nos juros nos Estados Unidos, que empurra os investidores para a criptomoeda, de modo a manter elevados os seus retornos. E tem o evento conhecido como halving, previsto para acontecer no final de abril, que vai reduzir pela metade a recompensa dos chamados mineradores do bitcoin.

A escalada dos criptoativos reacendeu os debates sobre as vastas aplicações possibilitadas pelo processo de tokenização, que é a conversão de ativos físicos ou de instrumentos financeiros em ativos digitais na forma de tokens por meio da tecnologia blockchain.

Publicidade

Uma vez ultrapassada a barreira do desconhecido, os investidores parecem mais seguros para usar o bitcoin como ativo de proteção contra a inflação ou contra o olho gordo do Fisco. E é nessa seara que as CBDCs pretendem atuar.

O presidente do Fed não disse por que não quer o dólar digital. Talvez tema que seja ainda mais usado para lavagem de dinheiro ou, então, que uma moeda digital complique a política monetária (política de juros). Há também o fator político que impede esse avanço em solo americano. O ex-presidente e atual candidato pelo Partido Republicano, Donald Trump, já revelou seu “desprezo” pelo projeto.

Apesar dessa postura do Fed, cerca 134 países (98% do PIB global) estão estudando projetos desse tipo, segundo mapeamento do The Atlantic Council CBDC Tracker. Desses, 36 têm projeto-piloto em fase avançada, como é o caso do Brasil, que prepara o lançamento do drex, o real digital.

Mas ninguém deve esperar por rapidez nessa área. Apenas três países lançaram oficialmente as suas CBDCs. Por quê? Para Alex Nery, professor da FIA Business School, a complexidade trava esse desenvolvimento.

“As demandas e motivações das CBDCs e das criptomoedas são diferentes, apesar de utilizarem tecnologias parecidas. Há questões de arcabouço legal, testes e estruturação que as CBDCs exigem, de modo a evitar riscos sistêmicos.” /COM PABLO SANTANA

Publicidade

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.