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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|PIB: recuo da arrecadação e endividamento das famílias acendem o alerta para os próximos trimestres

Desempenho da economia mundial, principalmente as dos maiores clientes do Brasil, os Estados Unidos e a China, também podem causar impactos

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Atualização:

O avanço da atividade econômica e da renda (PIB) no segundo trimestre deste ano em comparação com o trimestre anterior só não surpreendeu os muito otimistas, que eram minoria.

É resultado que precisa ser festejado. No entanto, o mais importante agora é olhar para a frente. As primeiras estimativas para o desempenho do setor produtivo do segundo semestre são de relativa estagnação. Fortes indicações dessa condição são a retração real da arrecadação do governo federal em julho, de 4,20% na comparação anual, e o grande endividamento das famílias, que atinge 78% dos lares do País.

Mas, se o comportamento da economia surpreendeu positivamente no segundo trimestre, pode também surpreender nos dois trimestres seguintes. Com base nos novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os técnicos do Ministério da Fazenda revisaram para cima o avanço do PIB ao longo do ano de 2,0% para 2,5%. Projeção que parece meio apressada.

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Entre os números do PIB do segundo trimestre (em relação aos do primeiro) apontam-se alguns destaques. O mais importante é o desempenho do consumo. As despesas de consumo das famílias aumentaram 0,9%; as do governo, 0,7%; e as importações, outro indicador do consumo, saltaram 4,5%. Esses dados são consistentes com a significativa redução do desemprego, que vem se acentuando ao longo deste 2023.

A contrapartida negativa do maior consumo é o comportamento insatisfatório do investimento, cujo nome técnico é Formação Bruta de Capital Fixo (0,1%). Como participação no PIB, a poupança caiu de 18,4% para 16,9%; e o investimento, de 18,3% para 17,2%, as taxas mais baixas desde 2020. Esses números comprometem o futuro. Para que o País cresça cerca de 3,5% ao ano, é necessário que o investimento alcance em torno de 22% do PIB. Isso é como acontece em qualquer horta doméstica: quem semeia menos colhe menos.

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Na ótica da produção, destaca-se o crescimento dos transportes (0,9%), em contraste com o ainda medíocre comportamento da indústria de transformação (0,3%) e do comércio (0,1%). Isso se explica pelo robusto escoamento das safras agrícolas e pela maior força das entregas de mercadorias compradas via e-commerce.

A queda de 0,9% do setor agropecuário, depois de um esticão de 21% no primeiro trimestre do ano, é um dado sazonal, uma vez que a maior colheita de grãos acontece ao longo do primeiro trimestre.

O salto do setor extrativo, de 1,8%, tem a ver com o crescimento da produção de petróleo e de minério de ferro, resultado que poderá se acentuar nos trimestres seguintes.

Quanto ao futuro imediato, é preciso ver também como se comportará a economia mundial, principalmente as dos maiores clientes do Brasil, os Estados Unidos e a China.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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