O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, afirmou nesta sexta-feira, 7, que 2025 deve ser um ano mais difícil no crédito para as empresas médias, devido às taxas pós-fixadas. Em relação às pessoas físicas, ele não espera uma piora significativa, diante de desemprego ainda baixo e do crescimento da renda.
“Eu vejo um cenário que é de maior risco em 2025, mas eu acho que ele bate mais nas médias empresas que nas pessoas físicas”, disse em entrevista à imprensa para comentar os resultados do banco.
O Bradesco registrou um lucro líquido recorrente de R$ 5,402 bilhões no quarto trimestre de 2024, 87,7% acima do mesmo período do ano anterior, e 3,4% superior ao do terceiro trimestre. Em 2024, o lucro do banco subiu 20%, para R$ 19,554 bilhões.

Entre as pessoas físicas, Noronha afirmou que a projeção de mercado aponta para um crescimento de 2% da renda dos brasileiros neste ano, após a alta de 5% ano passado. Para o desemprego, uma eventual alta para 7,5% manteria a taxa abaixo da média histórica do País, afirmou.
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“Não me parece haver um estresse grande na pessoa física”, disse Noronha. Ainda assim, segundo ele, o cenário não é bom nem para as famílias e nem para as empresas. “Nós vamos trabalhar com os melhores riscos e modalidades para garantir uma carteira saudável.”
O guidance (indicação dos próximos passos) para 2025 aponta um crescimento menor do crédito que em 2024. Noronha disse que a projeção é “pé no chão” e “conservadora”, diante de um cenário econômico mais difícil. “O que importa é continuar crescendo margem líquida e entregar mais resultados.”
Movimentos ‘o tempo todo’
O Bradesco começou a desacelerar a concessão de crédito no quarto trimestre do ano passado diante da forte desvalorização do real. Assim como os pares do setor privado, o banco vê um cenário mais arriscado neste ano diante das perspectivas de alta da inflação e dos juros no País.
“Nós não estamos esperando a conjuntura chegar, estamos fazendo movimentos o tempo inteiro”, afirmou Noronha.
O crescimento do crédito do banco tem sido concentrado em linhas com garantias, que têm risco mais baixo. O retorno bruto dessas linhas é menor, mas o resultado amplo, segundo Noronha, é maior.
O apetite de crédito do Bradesco ajustado ao cenário econômico mais difícil resultou na previsão menor de crescimento da carteira de crédito. “Tem uma regulagem do nosso apetite a risco, que se reflete no nosso guidance”, afirmou o presidente do banco.
De acordo com Noronha, o banco superou no ano passado a revisão da rede física que esperava fazer. Foram fechados mais de 1.300 pontos, entre agências e outros modelos de atendimento físico. “Mesmo assim, a nossa base de clientes cresceu em 2,1 milhões em 2024, e 99% das nossas transações foram feitas pelo digital”, afirmou o executivo.
No quarto trimestre do ano passado, o Bradesco voltou a fazer uma provisão de recursos para manter a revisão da rede física de atendimento, uma das principais premissas do plano estratégico divulgado no ano passado.
Noronha disse que o custo de crédito do banco deve se manter estável neste ano em relação aos últimos trimestres. “A expectativa é manter o custo de crédito em torno de 3%”, afirmou.
Consignado privado
O presidente do Bradesco disse ainda que um eventual teto de juros no novo crédito consignado privado seria prejudicial a trabalhadores de empresas de menor porte e àqueles que têm menos tempo de serviço. Segundo ele, o teto não permitiria precificar adequadamente os riscos destes grupos.
“(No consignado) INSS ou servidor, o risco é da União. Quando entro em uma empresa, tem que avaliar a empresa, e aí avalio o indivíduo”, disse.
Os bancos e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) têm se manifestado contra a imposição de um teto, cogitada pelo Ministério do Trabalho. No entanto, são favoráveis ao novo formato que o governo quer dar ao consignado privado, com a averbação das garantias através do eSocial.
Noronha também disse que, para decolar, o novo produto precisa ser oferecido através dos canais dos bancos. Segundo ele, não faria sentido restringir a oferta ao aplicativo da Carteira de Trabalho Digital, como propõe o governo.